Paulo Nicolella/Agência O Globo |
“Aí, parceiro, já está certo”, ouviu Luan Januário, 28 anos, do motorista, quando deu R$ 8 para pagar duas passagens de ônibus ontem, a dele e a da namorada. Na volta, sozinho, o rapaz pagou R$ 4 e ouviu um pedido: “Dá uma moral aí para o tralhador”.
— Era o motorista pedindo para eu não fazer questão do troco — conta o morador da Maré que estuda Educação Física no campus da UFRJ na Ilha do Fundão: — As empresas sempre ganham. Aumentaram a passagem, e nem teremos a compensação disso. Não vai ter ônibus de ar-condicionado, duvido.
Luan não foi o único que ficou sem troco. Usuários de ônibus da cidade do Rio reclamam que a nova tarifa da passagem de R$ 3,95 é, na prática, de R$ 4 para quem paga em dinheiro. E não é pouca gente. Em 2017, foram cerca de 20 milhões de passagens por mês, em média, pagas em espécie. Num improvável cenário de que nenhuma dessas pessoas receba o troco de cinco centavos, o montante final chegaria a mais R$ 1 milhão por mês.
Já há nas ruas até passageiros prevenidos para pagar a nova tarifa de ônibus. Meirielen da Silva, de 21 anos, contou moedinhas antes de sair de casa, no Recreio, para pegar o ônibus até a altura da Fiocruz na Avenida Brasil. Tudo para não pagar mais caro.
— A passagem aumentou, mas o ônibus continua demorando a aparecer e, quando chega, está lotado do mesmo jeito. Venho sempre de pé por mais de uma hora — conta a jovem que, de lá, pegaria uma carona para Macaé, sua cidade.
O Rio Ônibus, sindicato das empresas que operam o transporte rodoviário na cidade, informou que as empresas consorciadas “estão trabalhando para garantir o reforço do abastecimento de troco dentro dos ônibus, adaptando-se ao cenário da nova tarifa o mais rapidamente possível”. As empresas alegaram que, segundo o Banco Central, “todo o país tem sido atingido pelo fenômeno de retenção de moedas, que já atinge cerca de 35% do montante total em circulação” e que o usuário pode pagar as passagens com o cartão RioCard.
Extra RJ