Antes de ser jornalista, fui técnico de eletricidade. Boa parte dessa fase – cerca de dez anos – passei na Light (atual AES), onde elaborava projetos de expansão das redes de distribuição de energia.
Centro de Memória da Eletricidade |
Por volta de 1978, fui acompanhar uma equipe nas Oficinas Gerais do Cambuci, que era uma espécie de central de serviços, materiais e manutenção da companhia. E foi lá que eu vi um dos primeiros veículos elétricos da história: era uma caminhoneta, um calhambeque velhinho, sujo, surrado. Estranhei a quantidade de baterias sob a carroceria até que um veterano me contou que se tratava de um caminhão elétrico “que havia sido usado para o transporte interno nas oficinas”.
São Paulo não tem mais Light nem as Oficinas do Cambuci, que foram demolidas, aguardando edifícios residenciais que virão. E nunca mais ouvi falar do tal caminhãozinho.
Ontem, pesquisando sobre o 13º Salão Latino Americano de Veículos Elétricos, evento que acontece em setembro, arrisquei uma “googlada” e descobri foto e identidade da relíquia, que agora está em exposição no Centro Memória da Eletricidade, um museu mantido pela Light no Rio de Janeiro.
Quatro motores e dez baterias
Michelin/Biblioteca Nacional da Nova Zelândia/The Old Motor |
Era um caminhão fabricado em 1907 pela Comercial Truck Co of America, que serviu para os serviços de reparo e apoio à rede elétrica da Light entre 1918 e 1924, diz a informação registrada pelo museu. O modelo era movido a quatro motores elétricos montados diretamente sobre as rodas e alimentado por dez baterias chumbo-ácido. Após a estatização, seguida por privatização, anos depois, a companhia restaurou o carrinho para lembrar que foi pioneira em trazer esta tecnologia dos carros elétricos para o Brasil, cem anos atrás.
Informações do site The Old Motor indicam que caminhões elétricos foram produzidos em larga escala até os anos 1930 e que vários deles prestaram serviços de entregas de mercadorias até os anos 1950. A simplicidade mecânica, baixa manutenção e a facilidade de operação explicam sua difusão e perenidade. Mas a oferta abundante de combustíveis de petróleo e as dificuldades com as baterias (ainda hoje um problema) levaram ao esquecimento dessa alternativa de motorização.
Agora, com veículos mais leves, motores mais eficientes e novidades na tecnologia de armazenamento de energia, os veículos elétricos têm a chance de renascer como a melhor alternativa de mobilidade urbana para o século 21.
Marcos de Sousa/Mobilize Brasil