A fabricante de ônibus Marcopolo está usando as estradas ruins do Brasil como cartão de visitas para acessar mercados remotos como Gana e Camarões na tentativa de proteger seus negócios da pior recessão da história do país.
No último ano, a companhia adicionou 12 novos países à carteira de destinos para seus veículos e agora exporta para 40 mercados internacionais, segundo Ricardo Portolan, gerente de exportações da empresa com sede na cidade de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. Isso ajudou a colocar a fabricante a caminho de cumprir sua meta de elevar em 50 por cento a receita com exportações em dólar em 2016, disse ele.
No momento em que o Brasil atravessa sua pior recessão em pelo menos um século, a Marcopolo redirecionou seus esforços para os mercados internacionais para compensar a queda acentuada das receitas domésticas. As vendas de ônibus caíram 29 por cento no Brasil em 2016, para 12.000 unidades, segundo dados divulgados na última quinta-feira pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). O volume leva as vendas do segmento de ônibus aos níveis de uma década atrás e contrasta com o pico de 35.000 de 2011, quando a economia brasileira estava em expansão.
“A exportação foi uma surpresa positiva para a Marcopolo”, disse Felipe Vinagre, analista do Credit Suisse, em entrevista. “A Marcopolo provou que de fato tem um produto exportável.”
Ainda assim, os analistas se mostram negativos em relação à ação da Marcopolo, que tem uma das piores avaliações entre as chamadas small caps, segundo dados compilados pela Bloomberg. Entre os analistas que cobrem a ação, a Marcopolo tem seis recomendações de manutenção e nove de venda, incluindo a do Credit Suisse, que mantém uma visão negativa devido à falta de visibilidade sobre a recuperação econômica do Brasil.
Os economistas estão menos otimistas em relação à capacidade do presidente Michel Temer de retomar o crescimento e reduziram as projeções para a tão aguardada recuperação. A atividade deverá crescer 0,8 por cento em 2017 após cair um total estimado de 3,5 por cento em 2016 e de 3,8 por cento no ano anterior.
A Marcopolo também é cautelosa sobre a economia e estima que o mercado interno começará a se recuperar apenas no segundo semestre de 2017, disse Portolan. A Anfavea prevê um aumento de 12 por cento nas vendas de ônibus em 2017, para 13.400 unidades, ainda em nível inferior ao de 2005, na expectativa de que os novos prefeitos eleitos comecem a renovar as frotas municipais.
Os ônibus da Marcopolo, que são desenvolvidos com reforço estrutural, como sistemas de suspensão extrarresistentes para lidar com as vias ruins e muitas vezes sem asfalto do Brasil, são adequados para mercados que enfrentam desafios semelhantes relacionados à falta de infraestrutura.
Os recursos dos ônibus, juntamente com a desvalorização da moeda brasileira nesta década, ajudaram a empresa a se tornar mais competitiva no exterior, disse Vinagre, do Credit Suisse.
Seria mais difícil para a Marcopolo vender para o mercado europeu, que exige uma sofisticação maior, mas em mercados similares ao do Brasil “o produto tem competitividade de custo e qualidade”, disse ele.
Fonte: Bloomberg/UOL