O motorista de ônibus Luiz Carlos Portugal, de 55 anos, 18 de profissão, leva sempre com ele uma companheira inseparável na viagem de até três horas entre Alcântara e a Candelária: uma garrafinha plástica, para se aliviar quando aperta a vontade de urinar. Segundo o rodoviário, só quem passa horas no trânsito, sem poder dar uma fugidinha para fazer xixi, sabe a falta que faz um banheiro. Principalmente quando ele não é encontrado nem no ponto final das linhas.
“Se continuar assim, num futuro próximo, o fraldão vai fazer parte da nossa indumentária”, brinca o motorista, numa alusão aos colegas do município de Seattle, nos Estados Unidos, que, segundo um jornal local, recorrem a fralda geriátrica e a garrafinha para contornar o mesmo problema.
Na cidade americana, o Departamento de Trabalho e Indústria denunciou que os motoristas seriam penalizados por atrasos quando saíssem à procura de banheiro. Por aqui, não há queixa de punições, mas os profissionais reclamam que o intervalo entre as viagens é curto demais. Segundo eles, de 10 a 15 minutos.
Paulo Vitor Martins, de 29 anos, outro adepto da garrafinha, diz que, quando os banheiros existem, são em quantidade insuficiente. É o que acontece na Avenida Churchill, no Centro, para onde foi remanejada sua linha, a 238 (Praça Quinze-Água Santa), que parava no Terminal da Misericórdia. Tem apenas uma cabine química.
“São mais de 20 linhas. Não dá vazão. Ontem (anteontem) ficou boa parte do dia sem utilização por falta de manutenção” reclamou o fiscal Leonardo da Silva, de 27 anos.
Ao lado da Candelária, onde param linhas intermunicipais, motoristas recorrem a bares, ao CCBB e à igreja. O único banheiro público, com logo da prefeitura, não funciona. A moeda de 50 centavos depositada pelo despachante Ronaldo Andrade foi devolvida em todas as tentativas, sem abrir a porta. O Sintraturb, sindicato da categoria, informou que o problema é uma das queixas mais frequentes dos Rodoviários.
Empresas respondem: A prefeitura informou que a responsabilidade pela colocação de banheiros nos pontos finais é dos consórcios, que podem ser punidos com multa. Em relação à cabine da Candelária, informou que a empresa responsável foi novamente acionada e alegou que o mobiliário foi interditado após ação de vândalos. O reparo será providenciado, e o equipamento voltará a funcionar hoje.
O Rio Ônibus, que responde pelas linhas municipais, esclareceu que os consórcios Intersul, Internorte, Santa Cruz e Transcarioca mantêm sanitários para o uso dos Rodoviários nos terminais sob sua responsabilidade. Em relação a pontos finais, acrescentou que os profissionais contam com instalações próprias ou contratadas com terceiros. No caso dos novos pontos na Rua Santa Luzia e na Avenida Churchill, as empresas estão providenciando os equipamentos, sendo que mais dois foram postos em funcionamento ontem. No caso das intermunicipais, só o Transônibus, da Baixada, respondeu. O sindicato reconheceu o problema e disse que vem buscando soluções.
Fonte: Jornal O Globo (RJ)