O último sábado amanheceu mais caro para cerca de 120 mil passageiros que utilizam diariamente o transporte público intermunicipal na Região Metropolitana de Natal. A tarifa está entre 8% e 13% mais cara, dependendo da linha, uma vez que o Departamento de Estradas de Rodagens do estado (DER) já autorizou o reajuste. As empresas sinalizam melhorias no serviço com os novos preços, embora os usuários duvidem desta promessa.
O aumento no valor das tarifas atinge os usuários que utilizam linhas dos percursos entre Parnamirim, São José de Mipibu, São Gonçalo do Amarante e Macaíba, com destino a Natal. De onze avaliadas pelo DER, nove receberam o reajuste que, como era de se esperar, desagrada aos passageiros.
A principal reclamação, dizem, está na má qualidade do serviço, que não justificaria o aumento. Mas o presidente da Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Nordeste (Fetronor), Eudo Laranjeiras, diz que agora será possível às empresas planejarem melhorias no sistema.
“Deve-se pensar que com mais receita, a empresa tem capacidade de comprar novos ônibus, por exemplo. Não é uma coisa que acontece do dia para a noite, mas não existe interesse nenhum para nós, circularmos com ônibus velhos”, declara.
Segundo conta, há quase quatro anos não há reajuste na passagem intermunicipal, provocando defasagem de preços e o comprometimento das finanças das empresas. “Neste tempo, concedemos quatro aumentos salariais e sofremos todos os custos com impostos, combustível e gastos de manutenção”, argumenta.
O presidente, que também é diretor da empresa Trampolim da Vitória, que atende à maioria das linhas reajustadas, diz que o aumento deveria ser ainda maior. As empresas pleiteavam 18% no início, mas com a redução de 3,65% para zero da alíquota de PIS e Cofins o valor das passagens também caiu e a média de reajuste pleiteada passou a ser de 12%.
No Diário Oficial do Estado da quinta-feira passada, o DER autorizou o reajuste médio que varia de 8% a 13%, mas Eudo Laranjeiras diz que o valor ainda não satisfaz o setor. “Não condiz. Serve para tirar o represamento, mas o setor está abandonado, sem fiscalização. Temos dificuldade com os encargos, a clandestinidade e o número de passageiros que aumentou”, diz.
Para justificar seu posicionamento, Laranjeiras conta que a linha B (Parnamirim – Natal) de sua empresa passou de 10 para 15 veículos devido ao congestionamento no trânsito da capital, que atrasa as viagens. Ele diz que problemas como falta de paradas de ônibus, itinerários, congestionamentos e número de veículos, que comprometem as viagens são de responsabilidade do DER, e que as empresas nada podem fazer a esse respeito, mas aponta uma solução. “Se tivéssemos vias exclusivas para o transporte coletivo não enfrentaríamos tanto congestionamentos. Com menos custos para as empresas, com certeza, seria repassado para o usuário”, prevê.
Enquanto isso, os passageiros continuarão reclamando. A linha B é uma das que mais desagrada. Em um dos pontos de ônibus no centro da capital, o vendedor João Sobrinho conta que é a única opção para chegar ao bairro da Cohabinal, em Parnamirim onde mora. “Vou demorar cerca de uma hora e meia para chegar lá e, se perder o próximo, vou esperar uns quarenta minutos”, relata. Por mês ele gasta R$ 140 para ir todos os dias ao trabalho e agora pagará R$ 15 a mais.
Enquanto a melhoria no serviço de transporte não acontecer os reajustes nas passagens permanecerão sendo repudiados pela população. “Se pelo menos melhorassem a gente entendia. Venho todo dia num ônibus lotado igual sardinha, quando chove, molha porque o teto é furado. Demora demais para passar. Era para ter mais ônibus nos horários de pico”, reclama a funcionária pública Maria das Dores. Ela mora em São Gonçalo do Amarante, cuja linha passará de R$ 2,60 para R$ 2,90.
As reclamações são as mesmas para usuários de outras cidades. Maria de Fátima Andrade mora em Macaíba e gasta R$ 300 por mês para vir a Natal todos os dias. Vai pagar mais porque o valor aumentou de R$ 2,65 para R$ 2.90. “Não é justo. Tem dias, como o domingo que espero até uma hora e meia por um ônibus. Além disso, é sempre cheio, sem lugar nem para idosos”, denuncia.
Procurado para se posicionar sobre a possibilidade de melhoria nos serviços com os reajustes, o diretor do DER, Demétrio Torres, disse que só falaria pessoalmente e que não poderia receber a reportagem porque estava fora da capital, uma vez que ontem foi ponto facultativo nos órgãos públicos do estado.
Fonte: Novo Jornal