Editorial UNIBUS RN: Alpha – A era que não chega ao fim

Alguns modelos de ônibus, independente da época vivida, caem no gosto dos empresários. Recém-lançados, os ônibus brilham e cheiram a novo, atraindo usuários e melhorando a imagem das empresas. O problema é quando alguns desses modelos ultrapassam seus muitos anos de uso e quilômetros rodados, perdurando por mais de 10 anos nas cidades. Exemplo prático deste caso é o do modelo Alpha, da montadora CAIO, que temos até os dias hoje em algumas empresas.

Foto: Edson ‘Gato Preto’ – Ônibus Brasil
Lançado em 1996 pela montadora CAIO – Companhia Americana Industrial de Ônibus – o modelo Alpha chegava ao mercado com uma missão difícil: suceder o histórico Vitória – considerado um dos melhores modelos de ônibus e mais vendidos até hoje. Pode-se dizer que a missão foi efetuada com sucesso. A CAIO tinha, até então, credibilidade de sobra. Trazia grandes nomes de modelos bons que encantou as empresas – como Amélia, Gabriela, o micro Carolina e principalmente o Vitória, uma marca do final dos anos 80 e início dos anos 90 e antecessor do Alpha. Em Natal, o sucesso para o Alpha logo chegou; Transportes Guanabara, Nossa Senhora da Conceição e as extintas Cidade do Sol e Pirangy trouxeram o modelo em diversas configurações. O tempo foi passando, transformações acontecendo e os Alphas acompanhando e participando.
O modelo já estava com força total nas ruas de Natal. Comumente, o tempo foi passando e degradando os veículos, mas ainda assim eles perduraram. A Guanabara, empresa que mais teve dele, aposentou as últimas unidades – um deles ainda em chassi Mercedes-Benz OF 1620, de 1996 – no início do último mês. Outros, também da Guanabara, tiveram outro destino: a Expresso Oceano, empresa pertencente ao grupo que opera as linhas semi-urbanas e metropolitanas. O primeiro, discreto, ganhou numeração 555 e chegou à empresa quando a pintura predominante ainda era na cor amarela. Depois foi remanejado o segundo, de numeração 520. As demandas pediam mais ônibus, e lá se foram mais 10, de numeração entre 591 e 600. Já os da Conceição ainda estão nas linhas urbanas. Fixos por um bom tempo em linhas de alta demanda, a maioria, atualmente, faz parte da reserva da empresa, mas ainda rodam quase que diariamente.
Mas a principal questão é o quanto ônibus tão antigos e desgastados conseguem perdurar por tanto tempo em nosso sistema. O fator crise vivido pela CAIO em 1998 foi inevitável e afetou também os ônibus; Qualidade e acabamento caíram, derrubando a ideia da famosa e boa montadora. Com o passar do tempo e o muito uso, os ônibus se tornaram ainda mais suscetíveis a fáceis quebras e baixíssima estabilidade. O acabamento ruim também reflete para o passageiro, que encontra – ainda que as empresas ofertem boa manutenção – infiltrações no corredor e paredes dos veículos. Em dias de chuva, é um Deus nos acuda de tantas goteiras! O modelo também se mostra ‘pesado’ para alguns chassis, como o próprio MB OF 1620 – que reina na Região Metropolitana de Natal – tornando o ônibus lento, influenciando diretamente nas viagens ocorridas ao longo do dia. O Alpha é um atraso no nosso sistema, tanto do ponto de vista da falta de renovação quanto do operacional.
Um modelo que foi uma oferta de um grande sucesso era ofuscado pelos problemas sociais, e os problemas sociais refletiram diretamente no modelo, derrubando por inteiro uma montadora de ônibus – atrelada diretamente pelas tantas crises internacionais que o mundo viveu no final da década de 90, arrocho salarial dos funcionários, falta de estabilidade financeira e uma imensidão de dívidas, como em tantas outras empresas. Fatalidade refletida até hoje, nos tantos CAIO Alpha que ainda regridem nosso transporte.

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