O sistema de transporte coletivo em Natal está cercado de reclamações. Os passageiros reclamam da quantidade insuficiente de ônibus que circulam na capital, da irresponsabilidade de alguns motoristas no trânsito, do valor da tarifa e do longo intervalo entre uma viagem e outra. Os motoristas reclamam do trânsito de Natal que, além de ser um fator causador de estresse entre a categoria, impede o cumprimento das metas de números de viagens por dia e tempo de cada percurso. O Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Passageiro de Natal (Seturn), por sua vez, reclama da falta de educação do natalense no trânsito que resulta em diversos problemas para o transporte coletivo da cidade.
O motorista João Maria Inácio, 51, está na profissão há 30 anos. Ele conta que ser motorista de ônibus em Natal quando ele começou era completamente diferente de hoje. “Não tinha essa quantidade de carros nas ruas. Hoje em dia é muito carro para pouca rua e ainda tem um monte de gente que se diz motorista, mas só faz atrapalhar o trânsito”, diz. Ele está há pouco menos de um ano na linha 78, que faz o percurso Santarém-Petrópolis. São cinco viagens por dia, cada uma com duração estimada de 80 minutos. “Tem hora que não dá para cumprir o horário estipulado. Nos horários de pico sempre tem engarrafamento, aí fica complicado”.
O trânsito de Natal tem mesmo sido um grande problema para os motoristas de ônibus que circulam na capital. Austerliano Bezerra de Menezes, 44, é despachante da empresa Reunidas há seis anos. É ele quem controla o horário de saída e chegada dos ônibus e por isso sabe exatamente o tempo de cada viagem. Ele cita a linha 73 (Santarém/Ponta Negra) para mostrar a dificuldade para se cumprir o tempo estabelecido por viagem nos horários de pico. “O tempo da viagem do 73 é de 120 minutos (duas horas), mas nos horários de pico, tanto de manhã quanto de noite, a viagem é feita em até 200 minutos (três horas e vinte minutos). Essa demora no percurso é causada pelo trânsito que parece que piora a cada dia”, disse.
O tempo estimado de viagem da linha 15-16 (Pajuçara/Petrópolis) sofreu uma alteração na semana passada justamente porque o tempo não vinha sendo cumprido em nenhum horário. “O tempo de viagem era de 100 minutos e aumentou para 110 minutos, mas a gente sabe que nos horários de pico não é possível cumprir essa meta por causa do trânsito. Mesmo assim nós fazemos o acompanhamento constantemente e, sempre que necessário, a empresa aumenta o tempo de viagem”, diz João Maria Carvalho, que trabalha como despachante da Guanabara há 17 anos. “Muita coisa influenciou e continua influenciando a piora do trânsito desde que eu comecei a trabalhar como despachante: hoje são mais faixas de pedestres que antigamente mal existiam, mais sinais, lombadas eletrônicas, e muito mais carros nas ruas. Há 10 anos quando você vinha para a Zona Norte, por exemplo, quase não tinha carro vindo para cá. Hoje tem trânsito quase que o dia todo”.
Queda de desempenho: O diretor de comunicação do Seturn, Augusto Maranhão, cita a linha 33 (Planalto/Praia do Meio) para ilustrar as mudanças implantas pelas empresas de ônibus por conta do trânsito da cidade. “A linha 33 tinha 10 veículos e cada um fazia 10 viagens por dia, ou seja, eram 100 viagens por dia nesse itinerário. Com a piora no trânsito da cidade, os motoristas só conseguem cumprir seis viagens por dia, o que representou uma perda de 40 viagens exclusivamente por causa do trânsito”. Ele explicou que para o usuário não ser prejudicado a empresa colocou sete ônibus a mais nessa linha, o que permitiu um aumento de 2% no número de viagens. “Nós aumentamos a frota dessa linha em 70%, mas o ganho em número de viagens foi de apenas 2%. Ou seja, o trânsito na cidade tem exigido muito mais investimentos por parte dos empresários”.
Ele acredita que, além do aumento no número de veículos nas ruas, o grande problema do trânsito de Natal atualmente é a falta de educação e conscientização dos motoristas. “Lamentavelmente, o motorista de Natal ainda acha que está na década de 1960 e que pode parar em qualquer avenida movimentada com o pisca alerta ligado que está tudo bem. Não é assim. Nós precisamos urgentemente de um trabalho de educação para esses motoristas, para ajudar o trânsito a fluir melhor”.
Usuários reclamam de direção perigosa: É bem verdade que as empresas de ônibus não podem punir os motoristas que não conseguem cumprir o tempo das viagens e, consequentemente, não conseguem fazer o número de viagens previstas para cada dia. Mas, de acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário (SINTRO/RN), Nastagnan Batista, existe uma grande pressão para que essas metas sejam cumpridas. “Eles não punem porque não podem. Como vão punir um motorista de ônibus por causa do trânsito na cidade? Mas eles fazem pressão para que os horários e o número de viagens sejam cumpridos e isso acaba gerando um estresse no motorista”, disse.
Muitas vezes, quando estão atrasados, os motoristas pisam firme no acelerador para tentar minimizar o tempo de atraso. A pressa acaba gerando reclamação por parte dos usuários. A estudante universitária Mariana Linhares, 22, conta que presencia diariamente motoristas correndo demais na ânsia de chegar ao terminal no horário previsto. “Tem muito motorista irresponsável. Hoje mesmo eu ia caindo no ônibus porque o motorista estava correndo demais e fez uma curva em alta velocidade. Isso é muito perigoso e coloca em risco a vida de todos os passageiros”.
As reclamações de imprudência no trânsito por parte dos motoristas de ônibus não são raras. Basta questionar alguns passageiros para ouvir muitas histórias de irresponsabilidade no trânsito vivenciada por eles. O funcionário público Francisco José Nunes, de 34 anos, conta que na semana passada uma mulher com um bebê de colo entraram pela porta de trás para evitar a roleta e o motorista não esperou sequer ela subir os degraus para dar partida. “A mulher quase caiu com o bebezinho no colo, se outros passageiros não tivessem ajudado ela teria caído. Isso é uma falta de respeito”.
Empresas buscam soluções: Algumas empresas buscam soluções para tentar diminuir os problemas apontados pelos usuários. A Guanabara instalou GPS em toda a frota para ter um controle maior de tempo e percurso. “Se chegar aqui dois ônibus da linha 15, por exemplo, um bem atrasado e outro no horário, eu não posso mandar o que está atrasado ir por fora do conjunto sem avisar a empresa, porque eles têm o controle de tudo lá”, disse João Maria Carvalho. Já a empresa Reunidas programou os veículos para não ultrapassar os 60 km/h. “Essa é a média de velocidade do trânsito de Natal, por isso o setor de tráfego limitou a velocidade, para evitar problemas”
O diretor de comunicação do Seturn confirmou que a empresa Reunidas controla a velocidade dos ônibus por meio de um sistema instalado no próprio acelerador do veículo e disse ainda que as outras empresas controlam a velocidade de todos os ônibus por GPS. Ele disse ainda que está prevista uma grande renovação da frota de ônibus de Natal.
Parte dos novos veículos será entregue na tarde de hoje: 60 ônibus, sendo que parte deles já está em circulação desde o início da semana, serão entregue hoje em Natal, no estacionamento do Ginásio Nélio Dias, no bairro Gramoré. Os veículos são equipados com elevadores para cadeirantes e GPS. “Haverá uma grande renovação da frota antes mesmo da licitação do transporte coletivo”, afirma.
Fonte: Diário de Natal