Após três dias sem ser encontrado pela nossa equipe, o UNIBUS RN enfim localizou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários do RN (SINTRO). Em entrevista exclusiva, Nastagnan Batista fala sobre a maior greve dos últimos anos no transporte natalense.
Confira, abaixo, a entrevista concedida ao editor-chefe do UNIBUS RN, Andreivny Ferreira:
UNIBUS RN: Qual é a avaliação do SINTRO sobre a atual greve?
NASTAGNAN BATISTA: A greve começou na segunda-feira com a esperança de que, naquele dia, pudéssemos fechar o impasse com a classe patronal e ficar o mínimo possível em greve. Mas, infelizmente, não foi possível. O SETURN manteve a proposta de 4,88%, repondo somente a inflação. Então, a categoria, que só vem recebendo há dois anos, aumentos que repõem a inflação, também já insatisfeita pelo não cumprimento da data-base no ano passado, ficou muito revoltada pelo fato de não ter reajuste real nesse período e tá brigando pelo reajuste neste ano.
Essa revolta da classe rodoviária é o que faz com que a Lei de Greve [que prevê 30% do serviço funcionando] não seja cumprida?
Exato. Por tudo que está acontecendo com a categoria. Principalmente por conta da negociação salarial. Se os empresários insistem em recorrer da decisão do tribunal sobre o vale-alimentação que conquistamos, porque se falar em cumprir lei? O tribunal julgou e o SETURN, dentro da legalidade, o que entendemos, tenta uma forma de não pagar esse benefício aos trabalhadores. Ou seja, vai ter recurso em Brasília e uma ação demora até 4 anos para ser julgada. Então, para a categoria, a data-base e o vale-alimentação unificado ainda não foram recebidos. E queremos o cumprimento dessas medidas.
Mas, há alguma perspectiva de a categoria, orientada pelo SINTRO, cumprir a Lei de Greve ou os 70% determinados pelo TRT?
Nós fizemos a proposta para a categoria de suspensão da greve em assembleia. Fomos ao limite fazendo essa discussão para voltarmos ao trabalho. Mas, se voltarmos ao trabalho, os patrões continuarão a negociar? Se for como em 2011, não! No ano passado, suspendemos uma greve no TRT e os patrões não quiseram negociar mais.
Então, a decisão judicial não será cumprida?
Não. No momento, não há perspectiva, até porque hoje (ontem), fizemos assembleias nas garagens e os trabalhadores rejeitaram a suspensão da greve.
Sobre as medidas do TRT de bloquear as contas do sindicato e um possível pedido de prisão do senhor, qual será o posicionamento do SINTRO?
Nosso setor jurídico está resolvendo essa questão. Mas, entendo que há questão judicial e política. Enquanto o advogado entende da área jurídica, entendo da área política. E isso está se tornando uma política. Entendo que nessa política, quando o TRT e o Ministério Público mandam bloquear a conta de uma entidade e manda prender um dirigente sindical, se tem um retrocesso do diálogo. E olhe que estamos numa democracia. A ditadura acabou em 1985! E parece a ditadura: saber que posso ser preso por defender direitos de uma classe trabalhadora não cabe mais nesse país. Entendo que a Justiça do Trabalho não vai conceder uma medida dessas. Tenho certeza que não.
Em entrevista ao UNIBUS RN, o diretor de comunicação do SETURN, Augusto Maranhão, atribuiu os atos de vandalismo dos dias anteriores de greve a diretoria do sindicato (Leia a matéria AQUI). O que o senhor tem a dizer sobre isso?
O Augusto tá fazendo acusações levianas, sem provas. A direção do sindicato não tem esse tipo de práticas, não temos esse perfil. Não orientamos ninguém a fazer isso. De forma nenhuma. Essas acusações só fazem com que o retorno ao trabalho seja adiado cada vez mais. Quando ele chama o rodoviário de “vândalo” ou de “bandido”, ele incita a categoria a não querer trabalhar. Quando ele vai pra imprensa insinuando que eu recebo propina, dizendo que tenho um esquema semelhante ao da [Carla] Ubarana, a sociedade tá pagando pra manter o trabalho de uma pessoa irresponsável e que usa a imprensa pra falar esse tipo de besteira. Ele tá fazendo acusações sem provas, o que não pode. Num país que quer ser de primeiro mundo, uma greve com essas características não poderia acontecer: era pra estarmos discutindo salário e dignas condições de trabalho para a categoria. Não temos plano de saúde, não temos uma cesta básica de vergonha – dão R$ 150, o que não dá para o mês todo.
Se o SINTRO não é o responsável pelos ataques, quem é o responsável (ou os responsáveis) pelos atos de vandalismo?
[Longa pausa] Não tenho ideia. Talvez seja o usuário com raiva, revoltado. Possa até ser algum dos rodoviários – se for, não é com orientação do sindicato. Nem recomendo a categoria pra fazer isso.
Hoje, a grande reclamação das redes sociais em Natal é sobre o movimento grevista de vocês e a forma como a paralisação está sendo feita. Muitos defendem a prática da “catraca livre”, como houve em Manaus recentemente. Seguramente, essa prática deixaria a população do lado dos rodoviários. Por que o SINTRO não utilizou essa forma de protesto?
Isso foi criado em cidades como Belém e Manaus. O que ocorre é que os empresários usam da pior forma para combater esse tipo de protesto: a demissão por justa causa. E não temos como reverter o prejuízo. Temos trabalhadores com 20 anos no setor que, se forem demitidos, perderão os direitos. O SINTRO não teria condições de ressarcir esse prejuízo aos companheiros. Não fazemos justamente por isso. Se fizermos, dará o direito de as empresas demitirem os trabalhadores por justa causa.
Essa greve está afetando bastante a população. São 400 mil prejudicados todos os dias. O que o senhor, como presidente do SINTRO, tem a dizer a população sobre o transtorno causado por essa greve?
Em nome do sindicato, pedimos desculpas a sociedade e ao usuário do sistema do transporte. Mas, dizemos a sociedade que hoje a situação é tão ruim a ponto de pagarmos pra trabalhar. Nós pagamos um pneu furado. Pagamos se batermos. Pagamos se formos assaltados. Nós pagamos até a habilitação – são R$ 200 todo o ano. Nós pagamos tudo no sistema. Tem motorista que, com os descontos, só recebe R$ 500. É um absurdo isso. Se fosse uma função que não pagássemos, tudo bem. Mas, no ônibus, nós pagamos. Numa batida, pagamos até o conserto do outro veículo. Essa é uma categoria explorada ao extremo!
É lamentavel, que uma cidade tão bela está passando por isso. onde uma greve de 100% de frota parada, tornou a cidade, um verdadeiro deserto, nesses ultimos dias.pois com tudo isso quando a greve terminar difinitivamente,quem pagará por isso é a populção com o aumento de passagem 2,20 pra 2,30 deus sabe lá quanto irá ficar a passagem depois dessa greve.