Garagem.com: Várias empresas, uma pintura



A internet é, com certeza, um dos maiores meios de democratização do conhecimento para a humanidade. Este conhecimento se adéqua a tudo, inclusive ao estudo do transporte no mundo. Em pesquisas pela web, é comum encontrarmos empresas distintas, sem vínculos algum entre si, com pinturas iguais ou, pelo menos, no mesmo contexto. Junto às fotos, geralmente estão comentários de especialistas de ônibus de outros estados, onde potencialmente existe uma empresa com aquele contexto de pintura, e são expostas dúvidas sobre a semelhança das pinturas; algo do tipo: “A pintura desta empresa é parecida com a da empresa X, aqui da minha cidade”.

É a história, de maneira geral, quem explica esta semelhança. Comumente, as montadoras lançavam seus novos veículos já com uma pintura de apresentação. As empresas – potenciais compradoras dos ônibus – gostavam dos veículos e se atraiam também pela pintura, e as incorporavas às suas frotas. Isto já era uma prática comum pela década de 60, mas foi nos anos 70, com o amadurecimento e estruturação das empresas e dos sistemas de transportes das cidades, que a prática ganhou força. Talvez por não quiserem levar o título de ‘invejosas’, ou por interesse dos empresários, algumas empresas faziam pequenas mudanças na pintura – alargavam, encurtavam, mudavam as cores, adicionava ou retirava uma lista, etc. – mas mantinham o mesmo contexto.


O principal exemplo aplicado a isso está na pintura que acompanhou o lançamento do modelo Gabriela II, lançado pela montadora Caio em 1976. O contexto, de originalidade da montadora, foi apresentado também em modelos como o Caio Andino e o Vitória. Mas a pintura consagrou-se mesmo no Gabriela II – o modelo foi recorde de vendas – e foi ali que as empresas compraram o ônibus ‘com pintura e tudo’.


Certamente a pintura existe em diversas outras empresas e ônibus particulares, mas listei aqui apenas algumas, de empresas diversificadas ao longo do Brasil que utilizam ou já utilizaram o contexto da pintura do lançamento do Gabriela II.


Fortaleza – CE:
Empresa São Benedito


O contexto da pintura foi mantido pela empresa, que a maior modificação que efetuou foi modificar as cores. Atualmente, não é mais esta a pintura padrão da empresa.


 
João Pessoa/Campina Grande – PB:

TransNacional

Nas duas maiores cidades da Paraíba, a TransNacional (razão social diferente para as cidades) se utilizam desta pintura até hoje. As cores também das listas foram modificadas e o sentido das linhas foi invertido.



Em João Pessoa, recentemente as empresas-irmãs TransNacional e Reunidas passaram a integrar o consórcio Unitrans. Nos veículos antigos, ainda é possível ver a pintura original da TransNacional com o novo nome:


Natal – RN:
Empresa Santa Maria


Em Natal, a Santa Maria – pertencente ao mesmo grupo que detém a empresa TransNacional, na Paraíba – trouxe a pintura semelhante. Cores e contexto foram mantidos, modificando apenas o nome das empresas nos dois estados.



Teresina – PI:

Empresa Teresinense

Em Teresina, a empresa Teresinense manteve o contexto original do Gabriela II. As cores foram modificadas para tons de azuis. Atualmente, o sistema da capital piauiense passou a ter as pinturas das empresas padronizadas, mas ainda podem ser vistos alguns carros da Teresinense com esta pintura.


Friburgo – RJ:

FAOL Auto Ônibus

Em Friburgo, interior do Rio de Janeiro, a empresa FAOL – Friburgo Auto Ônibus Limitada – utilizou a pintura durante anos. A empresa excluiu uma linha das listas e alargou as outras duas. Ela ainda modificou as cores das listas e adicionou cor de fundo aos veículos. Atualmente, esta não é mais a pintura padrão da FAOL.




Niterói – RJ:

Empresa Fortaleza

Ainda no Rio de Janeiro, em Niterói, região metropolitana do Rio, a empresa Fortaleza também teve esta pintura em sua frota. O contexto foi mantido, com modificações nas cores das listas e adicionada cor de fundo aos veículos. A Fortaleza não mantém esta pintura como sua identidade visual na atualidade.




Santa Cruz do Sul – RS:

União Santa Cruz

Em Santa Cruz do Sul, interior do estado do Rio Grande do Sul, a empresa União Santa Cruz, apesar de ser do segmento rodoviário, utiliza o contexto da pintura como sua identidade visual. As três listas foram alargadas e as cores modificadas.




Um dos veículos que marcou a história recente do transporte no Brasil foi o Vitória, também da montadora Caio. E a pintura de divulgação dele também serviu de inspiração para empresas.



Alagoinhas – BA:

Viação Cidade de Alagoinhas

Em Alagoinhas, interior da Bahia, a Viação Cidade de Alagoinhas mantém a pintura no mesmo contexto apresentado pela Caio no inicio dos anos 90.




Caruaru – PE:

Empresa Tabosa

Já em Caruaru, interior de Pernambuco, a empresa Tabosa modificou as cores da pintura de lançamento do Vitória, e utiliza-a em sua frota.




A pintura que a Caio deu ao Gabriela I, em 1974, não ficou de fora. Foi aproveitada pela empresa Roger Tur, da Paraíba. Atualmente a empresa opera no segmento de fretamento e turismo, mas já atendeu linhas na região metropolitana de João Pessoa, posteriormente vendidas à empresa Reunidas.




Em outros casos, as pinturas de grandes empresas tornam-se referência para, em muitas vezes, ônibus particulares, pequenas empresas de turismo e fretamento. É o caso dos exemplos abaixo; Veículos que nunca passaram pelas frotas das respectivas empresas, mas ostentam suas pinturas.



Marcopolo Torino LN, particular, tem pintura da Viação São Geraldo, uma das maiores empresas de ônibus rodoviário do Brasil.



Nielson Diplomata em estado de degradação, que circula no interior do Piauí, tem o contexto de pintura da Expresso Guanabara. O veículo nunca vez parte da frota da empresa.


Pesquisa e fotos: Ônibus Brasil (através de seus autores).


Thiago Martins

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