Nem parece aquele maio de 2009, quando a ex-governadora Wilma de Faria e a prefeita de Natal, Micarla de Sousa, subiram em um palco montado no calçadão da praia de Ponta Negra para comemorar de mãos dadas, com a multidão que se vestiu de amarelo e verde, o anúncio da FIFA que apontava Natal como uma das sedes da Copa 2014. Por sinal, o mesmo calçadão que, se a Copa fosse hoje, seria visto destruído pelos turistas. Não obstante a ganhar um estádio de futebol novinho em folha (e multiuso, como preferem dizer governo e construtora), a Copa seria a redenção de Natal, a oportunidade única de se tornar realmente uma grande metrópole. Uma capital modelo, por assim dizer. Não faltaram assinaturas, muita conversa e pouca ação.
Passados mais de três anos após o anúncio de Natal como sede do Mundial da FIFA, a capital do Rio Grande do Norte pouco tem o que comemorar no que se refere a legado da Copa. As obras que já estão sendo tocadas e que foram incluídas na Matriz de Responsabilidades (Aeroporto de São Gonçalo e prolongamento da Prudente de Morais) foram iniciadas antes do anúncio como sede. Depois daquele maio de 2009, eles – agentes públicos – prometeram centenas de cursos de qualificação de idiomas, hotelaria, turismo, eventos, mais segurança para a população, aumento da infraestrutura hospitalar, novas e largas avenidas para que o trânsito flua bem. A mobilidade, até agora, não passou do recapeamento de 27 ruas nas Quintas e no Bairro Nordeste, que convenhamos estão a considerável distância do palco principal da festa do futebol, a Arena das Dunas. Essas obras só serão realmente viáveis se servirem de desvio quando (e se) for montado o canteiro do Complexo Viário da Urbana.
Hoje, Natal já ganha com a Copa. Ganha mais holofotes da mídia nacional, fiscalizações de tribunais de contas, órgãos controladores, entraves com Ministério Público e indisposição com a FIFA e Governo Federal, que financia boa parte do orçamento para o evento. Natal sempre aparece como a mais atrasada, a mais incapaz de tocar projetos, a que tem mais incompetência para apresentar projetos de contrapartida e garantir verbas já asseguradas em Brasília. A título de exemplo, o projeto de mobilidade do lote 01 (Corredor Estrutural Oeste), feito pela prefeitura e submetido à Caixa Econômica Federal voltou pelo menos cinco vezes para reavaliar. Antes disso, o município licitou o lote sem ao menos ter noção de quanto realmente seria gasto. Fez a licitação apenas com projeto básico, sem o necessário projeto executivo e orçamentário.
O Complexo Viário da Urbana solucionaria os engarrafamentos em direção à Zona Norte e ao novo aeroporto. Agora pouco se fala em ampliação do Porto de Natal, construção do Terminal Marítimo de Passageiros. Nada mais se diz sobre as obras do lote 02, aquelas intervenções ali mais próximas à Arena, em Lagoa Nova, Candelária e na BR-101. Tampouco se sabe sobre a viabilidade do ousado Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT), que seria uma espécie de metrô e, conforme anunciou recentemente o Governo do Estado, passará a ser apenas um novo trilho substituindo a velha ferrovia da CBTU. Sorte se a previsão se confirmar: transportar 50 mil usuários diariamente. A realidade é que, infelizmente, o tão sonhado legado da Copa deve ficar menos nas ruas e mais nos discursos para promoção político-administrativa. A sociedade natalense sabe que o discurso não colou. A Copa seria a redentora. Seria. Até agora, não foi.
Fonte: Diário de Natal