O tempo se encarregou de mostrar que o rei Luís XVI estava certo. Em 1826, também na França, o empreendedor Stanislas Baudry retomou em Nantes a ideia do transporte público por carruagem e estabeleceu um serviço que ia da região central da cidade até sua casa de banhos. Para surpresa dele, em breve, muitas pessoas estavam utilizando aquela carruagem, nem tanto para ir aos banhos, mas para se deslocar com outras finalidades. Também aconteceu de o veículo de Stanislas fazer “ponto” em frente a um estabelecimento comercial denominado Omnibus, um lugar onde, segundo o nome indicava, havia de tudo para todos. A população acabou associando o nome do estabelecimento ao serviço de transporte por carruagem e esta passou a ser chamada de “ônibus”.
Nenhum outro nome seria mais apropriado para aquela novidade. Muito mais que um veículo de transporte, o “ônibus” assumiu papel de relevância social e ganhou importância cada vez maior na vida de cada indivíduo. Mais tarde, conquistaria a admiração de milhares ou até de milhões de pessoas em todo o mundo, os “busólogos”. O termo ainda não consta dos dicionários, porém mais e mais pessoas sabem perfeitamente o seu significado.
Um dos mandamentos da arte de gostar de ônibus é definitivo: “busólogo”, que não se limita a tirar e postar fotos dos veículos que admira. É alguém que se interessa por esse meio de transporte, que deseja contribuir e sugerir melhorias; que procura entender a história da evolução dos transportes e, acima de tudo, gosta de se relacionar com pessoas. No Brasil, estima-se que mais de 30.000 pessoas se interessem pelo assunto.
Antes mesmo do termo “busólogo” começar a ser usado, em toda parte, centenas ou milhares de pessoas cultivavam o gosto pelos veículos gigantes que levam vida e progresso aos pontos mais remotos, nos mais diversos países e nas mais diferentes realidades. E gostar de ônibus não é privilégio de brasileiro; hoje, há grupos de entusiastas em diversas partes do mundo. Todos esses amantes dos transportes têm algo em comum: a presença do ônibus em suas histórias de vida. O que reforça a certeza de que, muito mais que gostar da máquina, os “busólogos” de verdade se ligam nas pessoas, no cotidiano.
O primeiro: O termo “busólogo” surgiu dentro de uma fábrica de ônibus, a antiga encarroçadora “Thamco”, de São Paulo (SP). E o primeiro admirador de ônibus batizado com esse nome foi o projetista Hélio Luís Oliveira, que trabalhava na “Thamco” e tinha como colegas mais próximos Jean Robert Dierckx e Oscar Pipers, responsáveis pelos projetos das carroçarias. Eles sabiam do gosto algo exagerado de Hélio por ônibus.
“O termo busólogo tomou por base as palavras bus (ônibus), é claro, e logo, (filósofo), aquele que fala bastante sobre algo, aquele que pensa sobre algo. E eu não só trabalhava com ônibus, mas demonstrava o meu gosto em trabalhar com ônibus. O apelido me foi dado de brincadeira pelo Jean Robert e pelo Oscar Pipers, dois grandes profissionais. Para o Jean, busólogo virou meu sobrenome: ele me chama de Hélio Busólogo”, relembra Hélio Luís Oliveira que, desde 2003, edita a revista In Bus, obviamente especializada em ônibus.
Hélio foi um dos projetistas do popular “Fofão”, o ônibus de dois andares criado por encomenda do político Jânio Quadros, quando eleito Prefeito de São Paulo (SP) pela segunda vez, nos anos 1980. O antigo projetista, hoje jornalista, recorda que o veículo foi um desafio e era ousado para a época no Brasil.
“Inicialmente, ele foi concebido pelo escritório de arquitetura Gapp. Nós da Thamco o adaptamos para a realidade mecânica, para ele rodar de fato. As janelas eram do monobloco Mercedes-Benz “O 364” e a frente foi inspirada no carro para metrô produzido pela Mafersa. O chassi era o Scania “K 112″ com motor traseiro. O ônibus tinha 4,20 metros de altura, 10,5 metros de comprimento e 2,60 metros de largura. No total, foram produzidas 91 unidades”, conta Hélio.
Fonte: Tribuna do Norte