A gestão do transporte e do trânsito da capital potiguar terá vários desafios nos próximos meses. Licitação para o sistema de transporte público e a readequação das obras da Copa do Mundo são algumas das questões que devem entrar em pauta. Para a futura secretária municipal de Mobilidade Urbana, Elequicina dos Santos, é preciso iniciar de forma emergencial uma reforma nos abrigos das paradas de ônibus e reestruturar algumas linhas de ônibus, como as linhas 03, 28 e 45.
Além disso, Elequicina dos Santos, futura secretária de mobilidade urbana de Natal, aponta para a necessidade de priorizar o transporte público, com a formatação de faixas exclusivas e semi-exclusivas para ônibus. “Está no planejamento dar prioridade ao transporte coletivo”, diz. Quanto às obras da Copa, a futura secretária afirma que o lote 1 (que compreende a construção do Viaduto da Urbana e a reestruturação do KM-06 e da avenida Capitão Mor Gouveia) não tem como ser viabilizado até a Copa do Mundo. “Precisaremos rever esses projetos”, avalia. Confira a entrevista:
Tribuna do Norte: Qual a situação da Semob hoje?
Elequicina dos Santos: Em termos de infraestrutura, a Secretaria precisa de várias melhorias. Os funcionários estão desestimulados. Além disso, vários problemas. Encontramos, por exemplo, um problema com os Correios. Desde maio não eram enviadas as multas de trânsito. Foi uma coisa que a gente conseguiu reverter, mas lamentamos porque são recursos que vão faltar no investimento em sinalização horizontal, vertical, semáforos, etc. Já começaremos o ano com essa deficiência. Como não foram entregues, as multas não têm como ser cobradas. Temos também um problema de bloqueio dos veículos alugados pela Secretaria por falta de pagamento. A equipe técnica da Secretaria de Mobilidade conseguiu aprovar vários projetos, como os da Copa do Mundo, do PAC Grandes Cidades, entre outros. Nós esperamos fazer primeiro uma melhoria na parte estrutural e capacitar os funcionários.
E a situação das obras de mobilidade da Copa do Mundo?
Infelizmente, o projeto do Viaduto da Urbana não poderá ser viabilizado em tempo para a Copa do Mundo. É um projeto primordial para a cidade, mas como não foram feitas as desapropriações não haverá como contar com essa obra para a Copa do Mundo. Existe uma comissão que avalia a alternativa possível para essas obras do lote 1. Técnicos da Secretaria de Mobilidade estão envolvidos. Terá de ser feita uma readequação.
Havia a possibilidade de uma substituição na avenida Mor Gouveia?
Sim, fazendo um binário, com dois corredores exclusivos, um na Mor Gouveia e outro na Jerônimo Câmara. Mas ainda está em análise.
O lote 1 está com tempo esgotado, e o lote 2 ainda tem como salvar?
No lote 1, tudo está sendo reanalisado. Mas com relação ao lote 2 é possível fazer em tempo: os túneis e complexos viários da Romualdo Galvão com Lima e Silva; da Prudente de Morais com Lima e Silva; da Prudente de Morais com Mor Gouveia e finalmente da Prudente de Morais com a Raimundo Chaves. Isso está dentro do que foi assinado na semana passada. É preciso analisar o lote 1 para saber o que dá para salvar.
Qual a posição acerca da licitação para o transporte público?
Não conhecemos o processo, mas recebemos a recomendação do Ministério Público. Vamos nos debruçar sobre esse processo e a meu ver deve ser feito um novo edital. Teremos de partir para um novo processo licitatório. Só depois de termos conhecimento poderemos falar de prazo. É algo que se arrasta há muito tempo. Na nossa gestão era para ter sido feita, mas por força de uma decisão da Justiça foi adiado. Depois, por conta de um artigo na lei, foi colocado o prazo até 2010. Esse prazo acabou e, até hoje, nada foi feito.
Projetos como o da Avenida Bernardo Vieira, que causou certa polêmica na época, devem ser retomados?
Sim. As cidades que não podem montar metrô têm nos corredores exclusivos uma alternativa. Curitiba fez isso. O Rio de Janeiro está fazendo agora, 30 anos depois que Jaime Lerner fez o projeto. Não tem como alargar as ruas de forma a acompanhar o aumento de carros, já que as facilidades para se adquirir um automóvel são muitas. Nós temos de dar prioridade com faixas exclusivas. No caso da Bernardo Vieira, quem gritou foi quem anda de carro e quem queria a via pública como estacionamento privado. Temos de partir para isso. Está no planejamento dar prioridade ao transporte coletivo com faixas exclusivas e semi-exclusivas. É o caso da Rio Branco.
Isso inclui outras vias?
Na Coronel Estevam, na Salgado Filho/Hermes da Fonseca, Mário Barreto. Essas já estão contempladas no PAC Grandes Cidades. A Salgado Filho, por exemplo, terá um corredor preferencial, mas não no canteiro central. Há projeto para a Prudente de Morais e caso haja recurso, iremos implantar. Queremos implantar também as ciclovias.
O Plano de Mobilidade fala também na padronização de calçadas.
Sim, no projeto para pavimentação de vias, aprovado junto ao Governo Federal, está incluída a padronização das calçadas nas quatro regiões em alguns corredores. Tanto a acessibilidade quanto a parte de abrigo nas paradas de ônibus. Uma das medidas emergenciais é a melhoria e recuperação dos abrigos nas paradas de ônibus. Algumas linhas também estão com problema. Com a falência da Riograndense, as linhas 03, 28 e 45 estão com grande reclamação por parte da população. Não pode haver desassistência por conta disso.
Como será gerido o sistema de integração? As estações de transferência serão retomadas?
A população pediu a volta das estações, principalmente porque em algumas linhas, com maior percurso e duração, o tempo de uma hora para usar o cartão de integração era pequeno. Iremos estudar a melhor solução. Mas não será fácil retomar as estações em curto prazo, até por conta da situação financeira da Prefeitura. Nos projetos de mobilidade, estão previstas muitas contrapartidas e isso será priorizado.
Um dos assuntos mais polêmicos é a tarifa de ônibus. A população recebe muito mal qualquer movimento para aumentar a tarifa e considera o valor pago alto. Qual a sua opinião?
O sistema é operado por uma empresa privada. No Brasil, infelizmente, não há subsídio. Há para várias áreas, mas no transporte coletivo não há nada. O que aumenta em combustível, insumos, salários, é repassado para o usuário. Então, é preciso ter reajuste para equilibrar porque não vem recurso de lugar algum. Infelizmente, é preciso haver aumento na tarifa. Isso dói no bolso, mas na nossa última gestão sempre houve muito critério, porque a Secretaria não permitia nenhuma “gordura” nesse reajuste. Fizemos um TAC com aumento de frota, melhorando o serviço e contemplando a população.
A senhora é a favor do subsídio?
A Prefeitura não tem como conceder por conta das dificuldades financeiras. Não há condição. Isso poderia vir de outra esfera, mas o município não tem como fazer.
Fonte: Tribuna do Norte