“Quando você passar por baixo do viaduto do Baldo, não fique preocupado com a possibilidade de ele cair na sua cabeça. Preocupe-se com o chão da Avenida Rio Branco, que é muito mais fácil de ceder”. A declaração é do engenheiro da Secretaria de Obras Públicas e Infraestrutura, Carlos Davi, dada após uma palestra no Clube de Engenharia. Ainda assim, os presentes saíram do encontro convencidos de que o viaduto não pode ser utilizado no momento.
Para os especialistas a população desconhece os verdadeiros pontos críticos motivadores do bloqueio do equipamento, sob o asfalto da Avenida Rio Branco.
Na palestra dada na anteontem, no Clube de Engenharia, o professor universitário José Pereira da Silva, detalhou o laudo encaminhando para a Prefeitura de Natal e que foi determinante para a continuidade da interdição.
A interrupção do tráfego no viaduto do Baldo gera um tremendo contratempo para os seus usuários, pois estes deixam de economizar tempo (e dinheiro) por não terem acesso ao equipamento que liga alguns dos bairros mais movimentados da cidade e deixa os deslocamentos bem mais curtos.
Ciente disso e praticamente atendendo a um clamor social, o presidente do Clube de Engenharia promoveu o encontro, semelhante ao que fez com outras obras, como a da Arena das Dunas.
Se antes da palestra alguns engenheiros se mostravam reticentes quanto à real necessidade da interdição, após as demonstrações do professor ficou difícil ser contrário e a unanimidade se impôs. Porém ninguém contava com tamanha burocracia para resolver um problema grave. Nem mesmo o autor do laudo, José Pereira.
“Eu coloquei em letras garrafais no laudo que medidas emergenciais, algo a ser resolvido em 20 ou 30 dias, liberariam o tráfego no viaduto”, falou ele após a palestra, que contou com aproximadamente 30 pessoas, entre engenheiros, empresários, servidores públicos e um político, o também engenheiro e vereador Hugo Manso (PT).
O nó do problema está embaixo da terra, mais precisamente na Avenida Rio Branco, bem próximo a uma das pilastras. Nesse local foram feitas fotos de armaduras completamente descobertas de concreto e o pior, algumas já partidas. A imagem provocou espanto dos profissionais de engenharia no local. As fotos iam passando e ouvia-se as exclamações “Nossa!” “Vixe!”. Além de armaduras quebradas, canos partidos e jorrando água nas estruturas de concreto, pequenos arbustos crescendo nas pilastras, acelerando o processo corrosivo, falta de vedações na pista do viaduto. E a foto mais curiosa, a de uma planta crescendo no concreto, em uma parte alta do viaduto, indicando que ali está entrando água. “Não há como concluir que esta planta cresce dessa forma sem deduzir que essa parte da estrutura tem espaços vazios por dentro, logo está entrando água”, argumentou Pereira, que estava acompanhado por seu filho, Fábio da Costa Pereira, que também participou da equipe geradora do laudo.
Embora a maioria das armaduras esteja solta abaixo da avenida, até hoje, as únicas obras reparadoras, na verdade, pioraram a situação, conforme constataram os engenheiros na palestra. As gestões foram colocando, ao longo do tempo, novas camadas de asfalto em cima, deixando a estrutura do viaduto mais pesada. “Uma pressão maior naquela região pode fazer a via ceder”, disse um dos presentes.
O consenso é da necessidade do escoramento das pilastras, tanto no lado da Avenida Rio Branco quanto na Avenida Deodoro, o que também justificaria a interdição do viaduto.
Nova interdição deve ser ainda mais incômoda: Com essas obras do escoramento, uma nova interdição deve ser feita. E que deve provocar maiores impactos no tráfego, pois se trata de duas das principais vias do Centro (avenidas Rio Branco e Deodoro).
O vereador Hugo Manso sugeriu a possibilidade de ser realizada uma audiência pública para mostrar à sociedade a necessidade da intervenção subterrânea. “Temos de ter a coragem de fazer esse escoramento. Será uma decisão política, que vai exigir mais dinheiro e o poder público tem de enfrentar esse diálogo”, falou o vereador.
Os engenheiros presentes apoiaram a medida. “Nunca me senti tão preocupado. O cidadão natalense deve levar o caso mais a sério, pois considero um descaso do poder público a pouca atenção despendida, diante da gravidade do caso”, falou o engenheiro civil Enéas Alberto de Almeida.
Falta de conservação: Um debate paralelo, porém relacionado ao viaduto se desenvolveu: a falta de cultura no meio político para separar verbas visando a manutenção das obras. “Política só faz dotação orçamentária para a construção e inauguração de obras”, disse o servidor público Mário Amorim.
“Essa obra está sofrendo os efeitos do tempo. Ela é de uma total falta de conservação”, falou Pereira. O tema da conservação também foi citado ao falar da ponte Forte-Redinha. “Alguém deve colocar na pauta a conservação da ponte estaiada”, pontuou ele.
O engenheiro da Semopi, Carlos Davi, disse que a demora maior se deve à “falta de dinheiro da Prefeitura”, uma vez que o laudo foi entregue ainda na gestão da ex-prefeita Micarla de Sousa, marcada nos últimos meses pelas dificuldades financeiras, que ora afetam a administração de Carlos Eduardo. “O edital já está na Semopi e a obra deve ser iniciada pelo escoramento do viaduto e do canal do Baldo, em seguida pela retirada e substituição das ferragens e, finalmente, pela concretagem”, afirmou.
Fonte: Novo Jornal