A obra de reestruturação da avenida Engenheiro Roberto Freire sequer saiu do papel, mas já enfrenta resistências. O Comitê Popular Copa Natal 2014 ameaça entrar na Justiça para impedir o início da obra. Orçada em mais de R$ 220 milhões, a obra divide opiniões, pois ao mesmo tempo em que se propõe em trazer benefícios para a mobilidade urbana de Natal, trará impactos econômicos aos empresários da região. Diante dessa situação, o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio Grande do Norte (Sebrae/RN), elaborou um estudo a respeito dos impactos que a obra trará aos comerciantes situados na avenida Engenheiro Roberto Freire, que foi apresentado aos comerciantes, em uma reunião que será realizada na Câmara de Dirigentes e Lojistas (CDL).
De acordo com os dados do Censo Empresarial mais atualizados do Sebrae/RN, ao longo da avenida Engenheiro Roberto Freire, existem 191 atividades econômicas gerando aproximadamente 2,4 mil empregos. A área que compreende o Nordestão até onde funcionava o antigo Bompreço é a região onde há a maior densidade empresarial, onde passará, exatamente, o primeiro túnel, como previsto na obra.
As obras de reestruturação da avenida Engenheiro Roberto Freire serão executadas no trecho entre o viaduto da avenida Salgado Filho (BR-101), à altura do conjunto Mirassol, e a avenida Praia de Tibau, em Ponta Negra. O projeto prevê implantação e acrescenta novas faixas de rolamento nos dois sentidos da rodovia, além de corredor exclusivo para transporte coletivo, ciclovia, via expressa, calçadão e construção de três túneis. A urbanização da avenida contempla, ainda, reordenamento paisagístico, sinalização horizontal e vertical, adequações geométricas e eliminação dos pontos críticos de tráfego de veículos que vão para a zona Sul de Natal e que se destinam, a partir da chamada Rota do Sol, para as praias ao sul da cidade, nos municípios de Parnamirim e Nísia Floresta.
O diretor técnico do Sebrae/RN, João Hélio Cavalcanti, ressaltou que o Sebrae não é contrário à realização da obra, por entender ser importante e estruturante, mas reconhece que “toda obra é um problema, no sentido de trazer transtornos, que impactam diretamente sobre o faturamento dessas empresas, ou seja, a partir do momento que se interdita e o fluxo passa a ser diferente do existente, isso requer um planejamento estratégico de todos aqueles que estão em torno dessa obra”.
João Hélio Cavalcanti disse que o objetivo do Sebrae é de contribuir e traçar com os comerciantes a elaboração de um planejamento econômico para que os impactos sobre os negócios seja o menor possível, haja vista que o número de empregos gerados na região é grande. Hoje, a avenida Engenheiro Roberto Freire é um dos principais corredores turístico e de negócios existente em Natal. “No período da obra, também será o corredor por onde passará a grande maioria das pessoas que estarão na cidade por conta da Copa. Como fazer, o que fazer e que estratégias tomar para que mantenham o emprego, os negócios em bom funcionando, evitando prejuízos para todos”, afirmou.
O diretor técnico explicou que o Sebrae entrará com o apoio às micro e pequenas empresas, dando o suporte necessário, em todos os aspectos. “Nesse momento há uma grande preocupação e nos últimos meses realizamos várias reuniões. Nos últimos dias, essa preocupação tem se intensificado, pois o Governo já anunciou o que vai ser feito e os empresários solicitaram o apoio, para que juntos possamos encontrar caminhos. Então, vamos dar o suporte para que eles construam uma agenda positiva, de soluções, que possam ser discutidas com aqueles que estarão executando a obra”, disse João Hélio Cavalcanti.
A grande preocupação dos empresários é que aconteça na avenida Engenheiro Roberto Freire o mesmo que aconteceu com a obra de reestruturação da avenida Bernardo Vieira, que trouxe transtornos para os comerciantes daquela região. Muitos comerciantes tiveram que se mudar e outros foram obrigados a se adaptar para não fechar as portas. Além disso, segundo João Hélio, os empresários temem que a obra comece e o cronograma não seja cumprido, tal como acontece no prolongamento da avenida Prudente de Morais.
“Até hoje, a classe empresarial reclama e questiona o modo de como a obra foi feita. Naquele momento, os empresários não acreditavam que o impacto seria da forma como foi e tomando como exemplo o que aconteceu na avenida Bernardo Vieira, onde o Sebrae não foi convidado a participar do processo, vamos dar o apoio para que se construam alternativas. Por enquanto, o Sebrae não está propondo nenhuma alternativa, mas daremos o suporte para que elas surjam dos próprios empresários”, disse João Hélio Cavalcanti. A classe empresarial deverá elaborar um documento a fim de que seja discutido junto ao Governo do Estado e a empresa responsável pela obra.
João Hélio Cavalcanti disse que o Sebrae dispõe de uma equipe técnica capacitada, formada por consultores, para tornar as empresas do corredor da avenida Engenheiro Roberto Freire mais competitivas. A expertise do Sebrae, em trabalhar a gestão das pequenas e micro empresas, serão colocadas à disposição dos empresários, focado em uma matriz de competitividade.
“Nossa ideia é que hoje elas se tornem mais competitivas para que elas possam passar por um momento mais complexo, durante a obra. Estamos levando algumas soluções para a empresa para que haja uma preparação, não apenas para o período da obra, mas também para o restante da vida das empresas. Esse suporte está dentro de um programa nosso voltado para a Copa, fazendo um diagnóstico dessas empresas e entregando a cada empresário uma matriz de competitividade. Cada um receberá os pontos fortes e fracos, para que possam, desde já, atacar os pontos, potencializar os fortes e atenuar os fracos, para que estejam melhor preparados para as obras. O nosso objetivo é entregar uma estratégia individual de cada empresa para que a partir dessas reuniões tracem uma estratégia coletiva, junto conosco (Sebrae), CDL, Associação Comercial e Fecomércio”, destacou.
O prejuízo econômico que a obra de reestruturação da avenida pode acarretar ainda não pode ser calculado, segundo o diretor técnico do Sebrae, por não ter conhecimento específico e detalhado da obra. “Quando tivermos acesso ao cronograma de obras, com os prazos, o tempo de interrupção de cada trecho, é que poderemos saber mensurar o prejuízo, bem como traçar alternativas que atenuem a situação. Como não nos debruçamos sobre o projeto não podemos nem prever as possíveis vantagens da obra para o comércio da região”.
“A secretária [Kátia Pinto] chegou a apresentar a obra para os empresários, mas acredito que ainda há a necessidade de uma discussão mais ampla. Os empresários querem participar do processo, propondo ações que possam minimizar os danos causados. É importante ouvir os diversos segmentos, principalmente aquele que gera trabalho e renda, em especial naquela região, já que muitos são pequenas empresas e dependem apenas daquele negócio. Hoje, os empresários estão muito preocupados, por isso estão pedindo ajuda, para que quem esteja diretamente ligado à região possa ser beneficiado. Que os ganhos sejam de todos, inclusive daqueles que sobrevivem de uma avenida tão importante e que há anos construíram seus negócios”, afirmou João Hélio Cavalcanti.
Fonte e foto: Jornal de Hoje