Sancler é professora e mora no conjunto l Márcio Marinho. Ela acorda cedo todos os dias sai de casa às 6h20 e, com a ajuda de uma amiga que lhe oferece carona, se dirige para a creche onde trabalha, no bairro Bom Jardim. Concluído o primeiro expediente, é hora de caminhar até a Cobal para pegar uma nova carona com um colega que, assim igualmente ela, leciona em uma escola do no conjunto Geraldo Melo.
Encerrada a segunda jornada, aproveita o retorno do colega para chegar ao centro da cidade. Quando o fim do seu expediente coincide com o término da jornada do marido, os dois vão juntos para casa. Quando isso não acontece, ela precisa voltar de mototáxi, meio que utiliza, aliás, sempre que um de seus amigos não pode oferecer carona. É que, tanto no bairro onde ela mora, quanto onde trabalha, não circulam ônibus, táxi-lotação e nem há postos de mototáxis.
A situação enfrentada, diariamente pela professora Sancler Bezerra de Souza, reflete as dificuldades vivenciadas por muitas outras pessoas que moram em uma cidade cujo sistema de transporte público é deficitário e não atende a todos os bairros.
A professora estima que, por mês, gaste até mais de R$ 300,00 com o pagamento de mototáxi. “Acho que uns R$ 300,00 ou mais”, calcula Sancler. Os gastos pesam no orçamento. “A compensação não é boa. A gente vem porque precisa mesmo”, diz ela.
Seu filho, que ainda é adolescente, tem um percurso diferente, mas já vivencia o problema. Ele é aluno da Escola Estadual Jerônimo Rosado, no turno vespertino. Sai de casa por volta do meio-dia e se dirige, a pé, a uma parada de ônibus no Abolição III, onde deve estar às 12h40 para pegar o ônibus e chegar à escola. O percurso até a parada é arriscado, o jovem já foi assaltado duas vezes. Na volta para casa, o desafio é o mesmo.
A dona de casa Maria do Socorro também conhece bem o drama e sabe que não pode contar com o transporte público. A moradora do conjunto Geraldo Melo é mais uma que precisa recorrer à boa-vontade das pessoas que moram nas proximidades e que possuem transporte próprio para chegar ao Centro, por exemplo. “Só de carona. Só quem tiver o coração bom para levar”, conta.
Mãe de três filhas, duas das quais estudam no bairro Vingt Rosado, ela diz que as meninas saem de casa sob o sol e vão a pé para a escola pela falta de ônibus. “Vai fazer seis anos que eu moro aqui e nunca passou”, relata.
A ausência de transporte prejudica até a possibilidade de trabalho. “Não trabalho, não, porque para quem não tem transporte é muito ruim”, reclama. Além disso, como o bairro é muito distante e conhecido pela insegurança, Maria do Socorro menciona que, após às 17h é difícil conseguir, inclusive, um mototáxi que queria levar as pessoas do Centro para o Geraldo Melo. Curtir a programação do Mossoró Cidade Junina, o maior evento popular do município, também não é para todo mundo, segundo comenta a dona de casa.
Dona Lucimar Gomes, que também mora no conjunto, está operada e não pode recorrer à moto do marido, Nelson Pereira da Costa, quando precisa ir a algum outro ponto da cidade. Por isso, o casal opta por um taxista conhecido. Por ser amigo, o valor cobrado pela corrida é R$ 30,00 – ida e volta. Mas ela rejeita a possibilidade de ter que se deslocar para o Centro mais de uma vez. “Deus me livre”, diz.
Fonte: Gazeta do Oeste