Dupla função de motorista e cobrador no transporte público estaria provocando acidentes de trânsito em Natal

Fui procurado por trabalhadores do setor de transporte coletivo de Natal, que estão chateados com o que vem ocorrendo na cidade, em especial, com a própria situação em que se encontram.

Conforme membro do grupo, motoristas foram demitidos por terem, em tese, provocado acidentes de trânsito. “Um condutor de ônibus bateu em quatro carros na via costeira recentemente e recebeu as contas por isso. Outro caso aconteceu em frente a Unp da Salgado Filho”, me contou.
Porém, nada tem a ver com imperícia. O problema estaria na “dupla função”, ou seja, no motorista que dirige e passa troco. Ao mesmo tempo.
“Eles [Seturn] dizem que a gente deve cobrar a passagem e entregar o dinheiro quando estivermos estacionados, mas se a gente não cumprir o horário tem corte no salário”, disse outra fonte.
Todo motorista tem um tempo a cumprir e uma quantidade de viagens por dia a percorrer. Ainda de acordo com os trabalhadores, o regime laborativo de metas torna impossível o condutor dirigir e fazer o papel de cobrador, sem gerar risco.
Para alcançar o tempo de viagem, não atrasar a vida do usuário e atingir quantidade de viagens do dia, o motorista de dupla-função se vê obrigado a dirigir com uma mão e manusear o caixa com a outra.
Eles alegaram que o Seturn deu uma comissão em dinheiro para motoristas que exercem dupla função (que, nem de longe, supre os antigos custos com os cobradores), um meio de desincentivar às críticas e dividir a oposição ao cenário constituído. Os insatisfeitos relataram que “tem motorista que prefere brigar com o colega pela meta do que defender melhores condições de trabalho”.
Qual o critério? Venho tocando na tecla seguidamente e a reivindicação faz parte da pauta de negociação da #RevoltadoBusão. Até hoje não entendo porque um condutor de um carro de quatro lugares não pode dirigir ao celular, conforme justa lei de trânsito, e um motorista de ônibus de 50 assentos pode conduzi-lo, contando dinheiro. Qual a diferença de critério?!
E não adianta querer negar o fato. Eu não pego ônibus com frequência, mas nas vezes em que faço uso do serviço, por não ter o cartão eletrônico, pago a minha passagem com dinheiro e recebo a diferença do motorista com o ônibus andando. Isso só não ocorre quando há outros usuários atrás de mim e o condutor precisa esperar todos subirem.
Natal é diferente? Rio de Janeiro e outras cidades proibiram a dupla função. Ônibus sem cobrador só quando o sistema estiver 100% informatizado.
Outras razões para diminuir: A maioria dos ônibus de Natal roda hoje sem cobrador – exatamente 60%. Esse decréscimo no custo da mão de obra nunca foi repassado para o usuário. Também nunca foi questionada a desoneração na folha de pagamento dos funcionários, que ano passado caiu de 18% para 2%.
O SETURN afirma que os casos relatados já foram repassados para outros órgãos de imprensa, mas nada foi publicado.
Acusaram ainda o Sintro (Sindicato dos Profissionais de Transporte do Rio Grande do Norte) de fazer jogo duplo junto com os empresários e deixar a situação correr sem maiores questionamentos. Enfatizam que a CTB, que hoje controla o sindicato, é alinhada com o que eles classificaram como o “outro lado”. A Carta Potiguar abrirá o mesmo espaço para a defesa daqueles que foram citados, caso assim desejem.
Por Daniel Menezes

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