As razões da precariedade do transporte urbano

O mau serviço prestado em todo o país – talvez com poucas exceções – pelo sistema de transporte urbano, uma das centelhas das manifestações de junho, é um grave problema que merece destaque na agenda de trabalho de prefeitos e governadores. Parece óbvio, mas foi preciso o tema ajudar a mobilizar multidões em passeatas para passar a frequentar discursos de autoridades.
Infelizmente, para começar, no anúncio de medidas populistas e perigosas de congelamento de tarifas – que ricocheteará de volta no usuário na forma de deterioração ainda maior do serviço. E na população como um todo, pois, mantido o subsídio, recursos terão de ser desviados de outros setores para sustentar a demagogia tarifária.
A deterioração do transporte urbano de massa tem nos ônibus um forte símbolo. Na cidade do Rio, o setor passa por uma fase de reordenação, mas ainda falta muito para que o atendimento à população atinja um padrão mínimo e uniforme de qualidade.
A degradação, em escala nacional, é obra construída há tempos. O GLOBO trouxe, no domingo anterior, o resultado de um levantamento em todas as 26 capitais e em Brasília: em 13 capitais, metade portanto, linha de ônibus não é licitada. Continuam a operar empresas que há muito tempo conseguiram autorizações, sabe-se lá como. Ou se sabe. O resultado só poderia ser o que se observa: veículos mal conservados, motoristas mal treinados, regiões mal servidas e, como decorrência da precariedade dos concessionários, a proliferação de Vans e similares, convertidas num grande negócio informal explorado por criminosos – milicianos e outras classes de marginais.
Também não por acaso, o segmento passou a ser considerado um dos mais fortes contribuintes para o caixa de vereadores e deputados estaduais. E nesta relação promíscua, sobrou para os milhões de usuários, os de renda mais baixa no extrato social, a maioria da população.
Na Câmara de Vereadores do Rio, tenta funcionar uma CPI proposta pela oposição mas controlada, na sua instalação, pelo governo. O futuro da comissão parece sombrio. Mas não deveria depender de uma CPI avançar no reordenamento do sistema de ônibus. Nem aqui nem em qualquer lugar do país. O poder público tem instrumentos para tal. No Rio, por exemplo, houve Licitação, mas há poucos consórcios e um pequeno número de empresas que se entrelaçam. Se há evidência de cartel, que os organismos de Estado que tratam da defesa da concorrência atuem. Precariedade na fiscalização sempre foi mazela clássica no ramo. Quando a atividade não vira uma usina de propinas. Mas, com as tecnologias digitais, vigiar a prestação de serviço deixou de precisar de batalhões de inspetores. O importante é não se perder a oportunidade da grita popular contra concessionários e fazer-se o que é preciso ser feito: modernizar a atividade, em todos os sentidos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Pular para o conteúdo