Garagem.com: Passe Livre para a desordem

Dá-me certa aflição quando manifestantes reivindicam a gratuidade nos transportes púbicos de Natal, basicamente por que se trata de uma petição que, se for atendida, vai piorar ainda mais a vida da população. Por quê? Entendamos que se já é ruim pagando, imagine de graça?
Em uma cultura sueca, por exemplo, talvez até desse certo um transporte público de graça, mas no Brasil seria o caos. Corrupção é a palavra-chave. Não adianta, a máquina pública brasileira tem um enorme potencial de corrupção, e para que haja um transporte público isento de tarifa, certamente o poder público é quem cuidaria do serviço.
Legal, então proponho a você, caro leitor, imaginar comigo como seria a “tarifa zero” em Natal: temos agora uma empresa pública: concurso público para contratar motoristas, cobradores, despachantes, gerentes, agentes de limpeza, borracheiros, mecânicos, etc. Licitações para comprar ônibus, pneus, parafusos e para manutenção de máquinas e equipamentos. Creio que é suficiente.
Quem é que pagaria o salário dos muitos funcionários dessa companhia municipal de transportes? A prefeitura, claro. E esse recurso vem do além? Não. Vem dos impostos que eu e você pagamos – que aumentariam, logicamente. E as licitações? Se há uma coisa que ladrão gosta é de licitação. É relativamente fácil fraudar uma licitação, e nós sabemos que isso é uma triste verdade. De alguma a tarifa seria paga.
Mas de forma alguma eu condeno a manifestação em si. Acho que é valido lutarmos pelo que acreditamos. Eu por exemplo, posso me considerar militante do “Movimento Piso Baixo” – embora que apenas eu e mais alguns gatos pingados acreditem que ônibus de piso baixo seja o que há -. Uma tarifa zerada nos ônibus e trens teria forte impacto no sistema tributário da cidade, fora o fato que empresas tradicionais (não que isso seja tão importante hoje em dia) simplesmente deixariam de existir, demitindo milhares de trabalhadores do setor.
Existem outras alternativas mais adequadas ao sistema capitalista a que estamos submetidos. Se o problema for mesmo o dinheiro pago na tarifa, pois que se lute por ciclovias, por exemplo. Agora, se a luta é pela qualidade, acredito que o caminho é inverso à tarifa zero.
Por Rossano Varela

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