A página Mobilidade em Foco publicou algumas matérias no decorrer deste ano sobre os novos ônibus que seriam adquiridos pela Viação Itapemirim no decorrer do período. Muito se esperou, busólogos de plantão, máquinas fotográficas a postos e foi, podemos dizer, um sufoco danado que a empresa causou aos seus admiradores, pois os novos ônibus não chegavam nunca. Um mistério tão grande quanto foi a espera dos novos ônibus da empresa Reunidas S/A Transporte Coletivo, de Caçador, Santa Catarina.
A Reunidas, para muitos, foi uma decepção. Uma empresa com cerca de 500 ônibus, que precisaria incorporar algo em torno de 50 novos carros todo ano, receber apenas dois Marcopolo Paradiso 1200 G7 deixou muitos decepcionados e muitas perguntas no ar. Afinal, uma empresa desse porte, que desde o final de 2005, quando comprou 20 novos ônibus, adquirir apenas dois remete a raciocínio de problemas financeiros. A mesma leitura se aplica a Itapemirim. Dela, é nítido os problemas de fluxo negativo de caixa e de desavenças quanto a gestão entre diretores e a família controladora.
Da Viação Itapemirim esperava-se 150 novos ônibus. Curiosamente, a mesma quantidade ventilada que seria comprada pela Reunidas. Este número mágico, significativo, passou longe das garagens das duas empresas. Como dissemos, dos 150 da Reunidas, apenas dois chegaram na garagem principal, em Caçador. A Itapemirim foi um pouco mais longe. Parece-nos, pelo menos até cerca de 60 dias atrás, que chegou à uma das principais garagens da companhia, localizada na cidade de Guarulhos, 18 novos ônibus, Marcopolo Paradiso 1200 G7, chassi Mercedes-Benz O-500 RSD BlueTec 5, denominado como O-500 RSD 2436 6 x 2. Os mesmos chassis dos ônibus da Reunidas.
Uma das hipóteses que foram veiculadas é de que a aquisição só foi possível porque novamente a Viação Águia Branca, assim como já o fez no ano de 1999, socorreu a Itapemirim mais uma vez. Para tanto, aceitou a proposta de compra de uma ou mais concessionárias de veículos automotores que eram de propriedade do Grupo Itapemirim. Em troca, comprou os 18 ônibus e repassou a empresa de Camilo Cola. A notícia, sobre certos aspectos, é preocupante. Dela resulta a leitura de que a Viação Itapemirim pode estar operando “no vermelho”, com queda na receita e, conseqüentemente, sem lucro líquido resultante do balanço financeiro. Soma-se a isso, muito possivelmente, falta de crédito junto a bancos para poder comprar em seu nome os chassis e carrocerias que precisava.
Por isso teve de se desfazer de parte dos seus bens para resolver um problema imediato, que era a necessidade urgente de adquirir novos ônibus para baixar a idade média da frota, hoje muito alta e acima do permitido em alguns Estados. Praticamente a aquisição foi uma gota d’água no oceano, uma espécie de “empurrar com a barriga” uma situação crítica. Vamos ver até quando será possível levar tal situação. Agora surgiu uma outra versão no mercado. E que merece ser analisada. Segundo ela (versão), os novos carros da Itapemirim podem não ter sido fruto de uma transação com a Viação Águia Branca. E que os mesmos foram parar na frota da empresa através de uma operação de Leasing. Não deixa de ser uma das hipóteses a se considerar quando o fluxo de caixa está comprometido, sem recursos imediatos para contingenciar para uma aquisição de porte, como seria a compra de 18 novos ônibus. É uma espécie de locação, firmada em contrato, mas que no final do processo outorga ao locatário a possibilidade de ficar com os ônibus.
Melhor disponibilizar uma cota mensal do faturamento para a locação e ter os carros de forma imediata para uso do que ficar penando ao alugar ônibus de terceiros, como já vinha fazendo há tempo a Itapemirim. E a empresa, deixou transparecer que para comprar os chassis e carrocerias pagando a vista ou financiando via CDC (crédito direto ao consumidor), tinha problemas de restrição. Neste contexto, a operadora de Leasing comprou os 18 novos ônibus e alugou para a empresa de Camilo Cola. Os juros são mais baixos do que o CDC, com a vantagem de no final do contrato a Itapemirim incorporar de vez estes carros na sua frota por um preço menor, eis que são semi novos, um pouco já depreciados. Com valor residual, se tiver essa cláusula contratual. Ou outro valor pré-estabelecido entre as partes.
Negócio vantajoso, a princípio, pois quanto menor os custos fixos para a Itapemirim no momento, melhor. Inclusive deve ser a operadora da concessão que arcará com o custo do licenciamento dos novos carros, algo em torno de 6% do valor de cada um. Outra vantagem da modalidade possivelmente escolhida pela Itapemirim é a ausência do IOF (Imposto Sobre Operação Financeira). As companhias de viação usam muito o Leasing quando incorporam novas aeronaves. Em todo caso, se a TAM e a Gol utilizam essa modalidade de aquisição de aviões e são bem sucedidas, cremos que a Viação Itapemirim, que já foi pioneira tantas vezes ao longo da história, mais uma vez se torna a primeira a adotar uma metodologia viável que deve ser apreciada pelos demais empresários do setor.
Fonte: Mobilidade em Foco