Recentemente uma imagem chamou minha atenção: propagandas de consórcio automotivo nas poltronas de um ônibus do mesmo grupo empresarial que oferece o tal serviço. Parece pouco grave? Não é. Achei uma incoerência absurda e que até agora não “engoli”.
Comecemos pela empresa, que quando traz ônibus novos para Natal, são nas configurações mais básicas disponíveis no mercado, fora os muitos ônibus usados que aparecem por aqui através dela. Resumindo a ópera: está longe de ser uma referência em qualidade no transporte público.
Aí vem a incoerência: o mesmo grupo possui concessionárias de veículos de passeio em Natal. Bom, há quem veja isso com naturalidade. Não é o meu caso. É como querer vender cachaça dentro da igreja. Acho incoerente e até antiético! Como posso esperar investimentos em ônibus urbanos se há preferência pelo transporte individual dentro da própria operadora?
A lógica que enxerguei é a seguinte: “vamos fazer um transporte por ônibus ruim para encantá-los [o povo] com um ‘remédio’ [o consórcio, ou qualquer facilidade na aquisição de um automóvel] para tal mal”. Deus tenha misericórdia da minha alma se eu estiver julgando errado, mas os fatos me levam a crer que é assim que a coisa caminha.
Ora, quem hoje não quer se livrar dos ônibus? Quem hoje não quer comprar seu carro (que hoje é símbolo de liberdade e ainda por cima dá status)? O problema é que essa liberdade cresceu tanto que hoje está presa nos incontáveis gargalos no nosso trânsito. Mas ainda assim, é preferível o carro ante o ônibus, de tão ruim que este se tornou para as pessoas.
Numa visão “romântica”, defendo que uma empresa de transporte público deve se entregar de corpo e alma a este propósito, tendo seus clientes como prioridade ao invés do lucro (que vem como consequência de um bom trabalho). E digo mais: É preciso que elas defendam com garra o ideal de transporte público. Mas, enquanto isso, olho incrédulo para uma atitude incoerente, igual vender gelo na Antártida.
Linha 604 em franca ascensão: O bairro com mais linhas de ônibus da cidade ganhou mais um reforço nos seus deslocamentos. Graças ao contrato firmado entre a Transcoop e o Seturn, a linha opcional 604 (F. Camarão/Petrópolis – Via Av. Afonso Pena) voltou a operar com força total.
Desde o início de janeiro com tal parceria, os permissionários estão fazendo a linha ressurgir das cinzas. Enquanto a linha tinha dois veículos em péssimo estado, hoje está com 5 veículos em bom estado – e todos andando cheios em vários horários do dia.
Parabenizamos o SETURN e a Transcoop por terem incluído a linha no novo molde do transporte opcional de Natal. A população agradece!
Foto: Felipe Lima (Facebook)
Por Rossano Varela