A interdição do tráfego leve de veículos nas duas vias do viaduto do Baldo foi desnecessária, assinalou o engenheiro Ubirajara Ferreira da Silva, vice-presidente da Associação Brasileira de Pontes e Estruturas (ABPE). Há uma semana, ele realizou uma vistoria no equipamento interditado há um ano e quatro meses, atendendo pedido do autor do projeto Hugo Alcântara Mota, que mora e tem escritório em Fortaleza (CE).
De acordo com o engenheiro Ubirajara Ferreira da Silva, que é de Natal mas vive no Rio de Janeiro, não há indício que aponte para o desabamento do viaduto. Depois de apreciar os contornos desenhados (estudos) para o reforço estrutural contratado pela Prefeitura, o vice-presidente da ABPE disse ao NOVO JORNAL, por e-mail, que foi bom não ter sido executada nenhum obra ainda. O laudo pericial que apontou risco na estrutura do viaduto e o projeto executivo para sua recuperação foram elaborados pela Engecal Engenharia e Cálculos Ltda, do engenheiro e calculista José Pereira.
Ubirajara Ferreira da Silva explicou que os levantamentos feitos até o momento sobre a estrutura dos viadutos carecem de ampla e cuidadosa revisão técnica, conforme consta da NBR-6118 da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) seção 5 e sub-seção 5.3, que tratam sobre os requisitos gerais de qualidade da estrutura e avaliação da conformidade do projeto.
O engenheiro também discordou do método de abertura de pontos no asfalto para análise feita pela consultoria contratada pela Prefeitura em cima do viaduto. Na avaliação dele, o retorno imediato do tráfego aos veículos leves fica impedido em decorrência dessas aberturas de visita ao interior dos tabuleiros, executadas nas lajes superiores, quando o correto era ter feito essas aberturas nas lajes inferiores.
“Pode-se verificar ainda um provável acúmulo de águas de chuva, que pode estar represada no interior dos caixões com as aberturas ainda não fechadas e que devem ser esgotadas”, analisou. Os serviços especificados e necessários à reabilitação do viaduto, segundo ele, poderiam ser iniciados pelas lajes inferiores. “Sem a paralisação do tráfego por tanto tempo”, ressaltou o especialista em pontes e estruturas.
Também advertiu que o tráfego, em caso de execução de obras, deveria ser interditado em um viaduto por vez (o Baldo é composto por dois viadutos), por pouco tempo e em etapas determinadas para a recuperação do viaduto, como por exemplo, por ocasião da concretagem.
Na quinta-feira passada, dia 5, Ubirajara Ferreira da Silva passou uma manhã inteira vistoriando o viaduto, a pedido do autor do projeto, Hugo Alcântara Mota. Observou que os reforços com armaduras comuns dos vãos dos trechos em concreto armado não parecem ser eficazes, como aponta o estudo encomendado pela Prefeitura.
Tanto nas regiões das vigas principais como nas lajes inferiores alojadas na massa de concreto projetado com 6 cm de espessura. “Poderiam (os estudos) ser revistos e melhor avaliados tecnicamente”, defende.
Também é incorreto afirmar que a erosão parcial do terreno provocada pelas chuvas, que deixou algumas fundações sobre estacas Franki aparentes em cerca de 1 metro, não altera em nada a capacidade de resistência dos dois blocos onde estão colocadas, assinalou o engenheiro. Estacas Franki são elementos de fundação robustos com capacidade para suportar grandes cargas.
No estudo feito pela Engecal e que a Prefeitura está analisando (Ubirajara chama-os de desenhos), consta a execução adicional de duas estacas verticais tipo Raiz (estaca moldada in loco e instalada através de perfuração rotativa ou roto-percussiva) em alguns blocos de fundação. “No meu entendimento, elas são dispensáveis por serem pouco eficazes às cargas variáveis”, destacou.
Fonte: Novo Jornal