As obras de mobilidade urbana de Natal não têm sido contestadas apenas pelos natalenses que transitam pelos principais corredores da cidade. A construção de dois túneis e seis viadutos no perímetro que circunda o estádio Arena das Dunas – assim como os novos projetos do PAC da Mobilidade que foram apresentados pela Prefeitura na semana passada – são alvo da crítica, também, de um especialista em engenharia de tráfego.
Segundo o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Rubens Eugênio Barreto Ramos, engenheiro civil e especialista em trânsito, Natal segue na contramão das principais cidades do mundo que estão reestruturando seus sistemas urbanísticos e viários. Uma delas é o Rio de Janeiro: em 2013, a prefeitura da cidade derrubou o Elevado da Perimetral, um dos mais conhecidos da capital carioca. Enquanto isso, Natal planeja a construção de um elevado – que são avenidas construídas acima de outras, como um viaduto – na avenida João Medeiros Filho, que corta a zona norte da capital potiguar.
Em entrevista à Tribuna do Norte, o especialista curitibano, radicado em Natal há 22 anos, tece críticas ao projeto de mobilidade urbana da cidade, que envolve a construção de túneis e viadutos nas principais vias. De acordo com Ramos, a Prefeitura está investido em uma “tecnologia ultrapassada”, que não resolverá os problemas de tráfego. “Natal tem dois problemas: o caos do tráfego, causada pelas mãos duplas. O outro são as iniciativas pontuais: construção de viadutos que não resolvem os congestionamentos, só o transferem para outros lugares. Esse projeto segue o conceito obsoleto e errado de que mobilidade deve ser feita para veículos, quando deve ser feita para pessoas”, pontua.
Prefeitura afirma que viaduto é a melhor solução: O secretário adjunto de mobilidade urbana do município, Walter Pedro, rebate as críticas do engenheiro. Segundo ele, é difícil fazer uma comparação entre os projetos de cidades mais desenvolvidas e Natal. “É preciso levar em conta as limitações técnicas e econômicas da cidade. Se forem críticas com base apenas teórica, sem considerar a realidade de Natal, fica difícil de considerar”, desconversou o secretário.
Pedro aponta, entretanto, que várias das soluções apontadas pelo professor Rubens Ramos foram consideradas na construção do plano de mobilidade atual da cidade. Com relação à mudança no projeto da rotatória da Arena das Dunas, ele afirma que foi realizada para evitar desapropriações. “Se fossemos aumentar o número de faixas e o tamanho da rotatória, teríamos que fazer mais desapropriações, e não tínhamos essa autorização. A rotatória com semáforo já era um gargalo. O viaduto era a melhor solução”, defendeu.
Ainda de acordo com o secretário, a discussão sobre implantação de mão única nas principais vias de Natal vem acontecendo desde a década de 1980. Entretanto, segundo os estudos que foram feitos novamente em 2009, não havia dados que comprovassem uma possível melhora no fluxo. “Vamos contratar um novo estudo. Só estamos esperando a finalização da obra de prolongamento da avenida Prudente de Morais”, informou.
Já a criação de corredores exclusivos para ônibus já foi anunciada na semana passada pela Prefeitura, dentro do PAC de Mobilidade Urbana da Copa do Mundo. “Teremos a criação de um corredor exclusivo na Mário Negócio, no sentido Alecrim – Quintas. Além disso, já enviamos para o Ministério das Cidades uma proposta para criação de corredores na Salgado Filho, Presidente Bandeira e Coronel Estevam”, adiantou Walter Pedro.
O secretário municipal de obras públicas e infraestrutura, Tomaz Neto, defendeu que o atual projeto de mobilidade do município é o ideal. “Para cada profissional que você perguntar, vai surgir ma solução de mobilidade diferente. O nosso projeto foi estudado e aprovado por uma comissão formada por engenheiros das duas secretarias. No meu entendimento como engenheiro, essa é a solução mais viável”, pontuou.
Viaduto estaiado corre risco de atraso: O cumprimento do prazo de entrega das seis obras pertencentes ao lote dois do PAC de Mobilidade da Copa do Mundo dependerá das condições climáticas de Natal. A incidência de chuvas pode atrapalhar o andamento das obras. A previsão de conclusão, reiterada pelo secretário Municipal de Obras e Infraestrutura, Tomaz Neto, é para o dia 31 de maio. Porém, ele admitiu que o viaduto estaiado – principal obra do lote – é o que corre maior risco de atraso. No geral, estão sendo construídos dois viadutos e seis túneis de acesso entre as avenidas do entorno da Arena das Dunas – obras avaliadas em R$222 milhões – em 65% de execução.
“Em qualquer situação, em qualquer obra de construção civil, a chuva atrapalha. Atrapalha o rendimento, mas não paralisa a obra”, declara. Na tentativa de prevenir o atraso, desde o início de fevereiro os operários trabalham no horário noturno, em trechos pontuais “de maior risco”, contabilizando 24h ininterruptas de serviço e agora com um total de 953 trabalhadores no local. Mas, com o prolongamento do período chuvoso haverá o prejuízo. “Vai sim prejudicar, até porque a produção modifica no dia a dia, tanto a mão de obra, como o maquinário”, relata Tomaz Neto.
Segundo Gilmar Bistrot, meteorologista da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn), a medida que se aproxima o mês de junho, a tendência é das chuvas aumentarem. Ele também alerta que ainda esta semana haverá pancadas de água. “Estamos com as condições propícias para a ocorrência de chuvas, e não dá pra descartar chuvas mais fortes também”, relata. “Para obras de grande porte, é complicado, é o período de chuva”.
Com informações: Tribuna do Norte