Na falta da orientação – e da presença – de qualquer fiscal de trânsito, a condutora desce do carro em pleno cruzamento das avenida Rui Barbosa e Nascimento de Castro, em Lagoa Nova, para saber o que está acontecendo. Os veículos que subiam pela Nascimento de Castro no sentido à avenida Salgado Filho estavam parados em um congestionamento e acabaram bloqueando o tráfego no trecho. O “nó” do trânsito não aconteceu em horário de pico, mas no meio da manhã de segunda-feira (17). Minutos antes, um carro atravessara o sinal vermelho e outro arriscou uma conversão proibida. Nenhum agente de mobilidade urbana da Prefeitura apareceu enquanto a reportagem esteve no local, por volta das 10h. Se tivesse aparecido, provavelmente não poderia aplicar qualquer tipo de multa.
Passados quase quatro meses desde a publicação da Lei municipal que unificou a carreira dos fiscais de trânsito e de transporte de Natal, transformando-os em agentes de mobilidade urbana, a maior parte dos servidores não conta sequer com os talonários de multas e tem que “fechar os olhos” para infrações cometidas à sua frente. Do total de 210 agentes que estão efetivamente nas ruas, apenas 80 que já fiscalizavam o trânsito antes da unificação, podem aplicar multas. Até hoje não houve a publicação da nomeação dos fiscais para o novo cargo.
Embora tenham as mesmas funções, os amarelinhos, como são conhecidos, também permanecem lotados em duas diretorias distintas, na Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob), e alegam que o fato dificulta a organização e a distribuição deles pela cidade. “Na prática, são dois chefes. A gente tem que prestar contas ao da diretoria a qual somos ligados, mas acaba tendo choques. Fica um jogo de interesses, porque um quer mostrar mais serviço que o outro”, afirma um dos fiscais, que preferiu não se identificar.
Por volta das 9h20 de segunda-feira, no entorno da Arena das Dunas, pelo menos quatro fiscais acompanhavam a intervenção na Rua Morais Navarro. Outros três estavam a postos na esquina seguinte. O diretor de Fiscalização e Vistoria da Semob, Rogério Leite, disse à reportagem que havia enviado uma equipe ao local, mas não sabia, no entanto, quantos fiscais tinham sido deslocados para essa mesma área pelo diretor de Fiscalização de Trânsito, o coronel Sebastião Saraiva. “A secretaria não orienta que fiquem quatro ou cinco em um lugar só”, disse, apesar de admitir que a Semob não tem como acompanhar e controlar a localização dos amarelinhos.
“Perto do ginásio do DED (Professor Marcelo Carvalho, em Candelária) também têm cinco ou seis. E tem outros lugares que não tem um para ajudar no trânsito”, contou o auxiliar administrativo Antônio Pedro, 49 anos.
O diretor Rogério Leite ainda afirmou que alguns trechos, principalmente no Centro, ficaram descobertos nos últimos dias, devido ao incremento de pessoal na orientação aos motoristas na zona Norte da capital, onde uma cratera interditou ou tráfego na avenida João Medeiros Filho. No Centro do Alecrim, próximo à Praça Gentil Ferreira, não havia ninguém nesta segunda-feira.
No cruzamento das avenidas Hermes da Fonseca e Alexandrino de Alencar dois fiscais acompanhavam o tráfego de veículos, que seguia sem qualquer necessidade de intervenção. “Aqui fica mais complicado na hora do almoço e final da tarde. Agora é tranquilo”, afirmou um dos agentes. Hoje, 70 agentes atuam nas ruas por turno (manhã e tarde) e se dividem observando infrações ao trânsito e ao transporte e as ocorrências de colisões sem vítimas. à noite (das 18h a zero hora) o efetivo é de 50 e na madrugada apenas uma equipe de três pessoas fica de plantão.
Semob afirma não haver choque entre gestores: O secretário adjunto de Transporte da Semob, Clodoaldo Trindade, afirma que a secretaria pretende manter as duas diretorias, por tratarem de demandas diferentes: trânsito e transporte público. Ainda de acordo com ele, não há nenhum choque entre os gestores e que o problema está sendo “levantado” por pessoas com interesses políticos.
Ainda de acordo com Clodoaldo, a Secretaria não pretende, por enquanto, entregar talonários de multa aos novos fiscais. De acordo com ele, o problema não seria de logística, mas de treinamento. “Alguns deles estão muito ansiosos para começar a multar, mas nós queremos que eles concluam os treinamentos e ganhem experiência. Não queremos fazer isso de forma irresponsável”, afirmou.
A última turma concluiu o curso há cerca de 10 dias. Segundo o chefe de Fiscalização, Daniel de Albuquerque, os servidores estão sendo cadastrados no sistema do Departamento Estadual de Trânsito (Detran/RN) para que possam começar a autuar, mas não há um prazo para que estejam em ação.
Fonte e foto: Tribuna do Norte