Cito o exemplo de uma das empresas brasileiras mais antigas que ainda operam nos dias atuais: o Banco do Brasil S/A. Criado no ano de 1808, pelo então Rei D. João VI, a instituição financeira certamente sofreu incontáveis evoluções ao longo de sua existência. Ser um banco no século XIX era totalmente diferente de ser um banco no ano de 2014, século XXI.
A simples e breve reflexão acima surgiu a partir de uma fotografia dos anos 80 que retrata o embarque de passageiros num Caio Amélia, que já se encontrava deteriorado, com lanternas levemente quebradas e alguns amassados na lataria. A expressão dos passageiros me faz pensar que tudo o que eles queriam era chegar em seus destinos.
Eis uma cena que quase não sofreu evoluções. Pelo menos não aqui no Rio Grande do Norte, que posso falar com propriedade. Os ônibus são em essência os mesmos daqueles que rodavam nos anos 80, tira um “LPO”, põe um “OF”, mexe nos números, mas os feixes de mola duros permanecem. Os trens, do final da década de 50, só agora estão sendo substituídos. Até aí eu arrisco dizer que não houve evoluções. Mas há um “quase” nessa história.
Os passageiros. Clientes, só para lembrar. Eles sim evoluíram. É verídico que ainda existam os muitos inocentes que apenas querem chegar a algum lugar, a qualquer custo, financiando até mesmo sistemas de transportes clandestinos. Mas no geral os passageiros não apenas querem isso, não mais. Agora, há um ínterim entre tomar um transporte e chegar aonde se deseja que carece de uma evolução.
Ar condicionado, baixo nível de ruídos e vibrações, segurança, acessibilidade, pontualidade, conforto. Só pra citar algumas necessidades que têm se evidenciado nos passageiros. Fica a pergunta: Temos isso? A resposta fica por conta da explosão na venda de motocicletas e automóveis, e também na resistência das pessoas em trabalhar e/ou estudar longe de suas residências.
Na Grande Natal, onde resido, não tenho nada, absolutamente nada que me traga o mínimo de conforto num deslocamento para qualquer lugar que seja. A não ser pelo carro particular. De transporte público eu tenho à disposição péssimos ônibus, usados, com mais de dez anos de uso, que são barulhentos, lentos, altos e deteriorados. Ou Kombis de alternativa, um veículo cujo projeto data do pós-guerra – da Segunda Guerra Mundial – e que ainda insistem em permitir o transporte de seres humanos por isso.
Na capital a situação não é melhor – se não pior. As empresas reclamam de muitas coisas, algumas com razão, até. Mas quando elas estavam bem financeiramente não me lembro de grandes investimentos na frota, sempre trazendo mais do mesmo com cheiro de novo. Não inovaram, não quiseram conquistar clientes. Agora, estão encurraladas porque querem aumento na tarifa, mas pelo serviço ser historicamente subdesenvolvido, a população não tolerará um aumento no preço da passagem.
Os empresários parecem ter estacionado nos anos 80, onde o brasileiro andava de cabeça baixa, tímido, querendo apenas chegar ao destino. Os anseios são outros agora. É preciso que as empresas ousem mais, e com criatividade driblem as dificuldades impostas pela omissão dos governantes. Mas acima de tudo é preciso que elas parem de ver os passageiros apenas como “moedas ambulantes”, e passem a tratá-los como clientes.
Que fique a reflexão. Há um clamor pela existência de um transporte público mais inteligente, permitido pelo Público com as devidas regulamentações, operado por empresas que verdadeiramente levem o transporte a sério, olhando para o bem-estar do cliente como objetivo mor.
Parece utópico? Nem um pouco. Os tempos trazem mudanças e que elas tragam novas formas de pensar.