Novos equipamentos, novas estações, porém, velhos problemas. Assim pode ser resumida a operação do sistema Bus Rapid Transit (BRT) na Região Metropolitana do Recife (RMR), que inaugurou, na última segunda-feira (11), mais duas plataformas da linha Camaragibe (centro) na avenida Caxangá. O serviço garantiu rapidez no trajeto dos mais de 18 mil passageiros ao dia, e tem sido uma boa alternativa para lidar minimamente com o trânsito caótico. Usuários, que chegavam a passar até duas horas num único coletivo, hoje, conseguem fazem o mesmo percurso em menos da metade do tempo. Entretanto, com o aumento do número de estações um antigo entrave tira a satisfação de todos e estraga a “festa”: os ônibus lotados.
Durante o dia de ontem, a reportagem da Folha de Pernambuco acompanhou o trajeto de alguns passageiros, na ida ao trabalho e na volta para casa, para saber o que eles apontam como benefícios e o que ainda são falhas no corredor Leste/Oeste, que liga a cidade de Camaragibe, no Grande Recife, à capital pernambucana. Desde as 4h30 da manhã, os BRTs começam a sair do Terminal Integrado de Camaragibe. Na primeira meia hora, os veículos possuem uma frequência de 15 minutos. Depois disso, e até às 8h da manhã, eles saem da estação a cada 5 minutos. Mesmo assim, os coletivos articulados saem completamente cheios, provando que a demanda de pessoas continua maior que a oferta de BRTs.
“É mais rápido, mas ainda possui alguns problemas. Nunca andei nele sentado, pois está sempre cheio”, relatou a operadora de caixa, Juliana Marques, que utiliza o transporte desde os primeiros dias. A lotação dos veículos é o motivo de reclamação para outra questão entre os que utilizam os ônibus: o desrespeito no momento de embarque e desembarque. Quem está na estação não espera a pessoa que está no BRT sair, e fica aquele empurra-empurra muito semelhante ao que acontece no metrô. “Semana passada dois homens brigaram porque o que estava deixando o ônibus não deixou o outro entrar até ele sair. Existem alguns problemas de operação, mas também falta mais educação das pessoas”, relatou a recepcionista Jacqueline Germano. Como ponto a favor do serviço de transporte está a estabilidade dos veículos e a climatização dos coletivos e das estações. “O veículo tem a estrutura boa e não andar no calor é uma vantagem.
Além disso, os motoristas são educados, não andamos sacolejando por aí”, contou o auxiliar de departamento pessoal, Gilton Duarte. Segundo o Grande Recife Consórcio de Transporte, os BRTs completariam o trajeto Camaragibe-Derby em até 40 minutos, com a utilização da faixa segregada. Porém, na prática, o tempo que os usuários passam dentro dos transportes é maior, principalmente nos horários de pico. Na parte da manhã, quando as pessoas saem para trabalhar, as viagens mais rápidas têm sido feitas em, pelo menos, uma hora. Tudo isso porque outros veículos não respeitam o espaço destinado aos BRTs, mesmo com as faixas exclusivas.
A maior parte do trajeto já está sinalizada, mas, ainda assim, alguns motoristas insistem em trafegar no local proibido. Nem a presença dos BRTs, que possuem capacidade para até 160 passageiros em seus 19 metros de cumprimento, intimidam a infração dos outros carros. “Falta fiscalização. As pessoas deveriam ser punidas por complicar o trânsito com os próprios desrespeitos”, afirmou a doméstica Benedita Lima. Assim como ela, a técnica em Química, Simone Silva, utiliza os BRTs todos os dias. O transporte, para ela, não deixa a desejar em nenhum aspecto, mas, fora dele o problema é intrigante. “Acredito que a má divisão da via seja a resposta da questão. Não se sabe o destino dos outros ônibus de linha, que ainda precisam circular e que vão se adequando de qualquer jeito pelas avenidas. Ainda tem os BRTs e os veículos particulares e cada um que brigue por seu espaço”, criticou.
Fonte: Folha de Pernambuco