Armazenamento, abertura e cruzamento de dados entre diferentes esferas do poder público fomentam maior participação do cidadão no acompanhamento e fiscalização das medidas e serviços prestados pelo governo à população. Esse é o caminho adotado pelas cidades inteligentes ao redor do mundo e que no Brasil começa a ser testado em projetos de Mobilidade urbana, um dos principais problemas das metrópoles.
Esses temas foram discutidos ontem em São Paulo durante o seminário Smart Cities Fórum Brasil, organizado pelo Valor em parceria com a Hiria, empresa de serviços de informação, e que contou com representantes de empresas e de governos municipais e estaduais.
A melhoria da Mobilidade urbana em São Paulo, um dos principais temas da gestão do prefeito petista Fernando Haddad, por exemplo, não virá sem uma mudança na divisão dos espaços ocupados pelos moradores da capital paulista, na visão de Maria Teresa Diniz, coordenadora executiva da USP Cidades. Para a pesquisadora, os grandes problemas urbanos dificilmente serão enfrentados de maneira inteligente se não houver coordenação entre áreas diferentes, como habitação, finanças e planejamento.
“Mobilidade tem tudo a ver com o uso do solo. Em uma cidade desequilibrada como São Paulo, dificilmente você vai conseguir oferecer um sistema inteligente. É fisicamente impossível resolver esse problema em uma cidade onde a maioria mora na periferia e trabalha no centro”, afirmou.
Janaina de Mendonça Fernandes, pesquisadora da Fundação Getulio Vargas (FGV) Projetos, ressaltou a falta de coordenação e planejamento para políticas públicas nas prefeituras do país e como esse quadro prejudica a qualidade de vida do brasileiro e a economia. Ela citou levantamento do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente baseado em dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que aponta que a média diária do trajeto entre casa e trabalho de um morador das nove maiores regiões metropolitanas do país é de 82 minutos.
Caso esse tempo fosse transformado em horas trabalhadas, haveria um acréscimo anual de R$ 300 bilhões ao ano à economia. “Mobilidade urbana é a fotografia mais alarmante do país”, disse Janaina.
A capital cearense Fortaleza caminha para adoção de um modelo mais completo e integrado de abertura de dados das diversas áreas, segundo Vasco Furtado, professor e integrante da Coordenadoria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Citinova). Ele conta que a prefeitura está perto de finalizar o projeto de uma central de dados com base em software de código aberto, “para que se possa ter domínio sobre os dados gerados”.
Uma vez concluída a central, será lançado um edital para a contratação de empresas privadas para ajudar na coleta, divulgação e gestão dos dados. O objetivo é promover a interação entre diferentes áreas, como Mobilidade urbana, habitação, finanças e segurança.
Criado há 40 anos na capital do Paraná, o sistema de transporte coletivo Bus Rapid transit (BRT) é a aposta de diversas cidades brasileiras para ajudar a melhorar a mobilidade. Sorocaba (SP), Rio de Janeiro e Campinas (SP) são exemplos de cidades nas quais o BRT está em fase de implementação ou teste. Curitiba, precursora do modelo, planeja investir agora em outros meios de transporte, como bicicleta e metrô.
O Rio está implementando corredores de ônibus do BRT para a Olimpíada de 2016. Neste ano, foi inaugurado um centro de controle, operado pelas empresas de ônibus do Rio, onde se monitora todas as partidas e tempos de viagem, via rastreamento e comunicação com os motoristas. Há também “semáforos inteligentes”, que reconhecem a aproximação de um ônibus e podem ficar mais tempo abertos para que o coletivo passe. Segundo a diretora de mobilidade da Fetransport, Richele Cabral, além da melhoria na mobilidade, o sistema traz maior segurança.
O secretário de Informação e Tecnologia da Prefeitura de Curitiba, Paulo Roberto Miranda, disse que o programa Curitiba Cidade Inteligente tem como foco, além da Mobilidade urbana, a sustentabilidade, o trabalho e a economia criativa. “A cidade inteligente não é aquela com muita tecnologia, mas não se faz uma cidade inteligente se não tivermos uma boa infraestrutura tecnológica, que permita integração e tratamento da informação de todas as áreas.”
A administração da capital paranaense está testando um sistema adaptado de um modelo criado na Universidade de Tecnologia de Viena e que tem sido usado por cidades na Europa e nos Estados Unidos. Miranda disse que a prefeitura elegeu algumas áreas críticas dentro da cidade, para aplicar em cada uma delas o modelo com ação coordenada de diversas áreas da administração. Foram selecionadas nove vizinhanças com problemas sérios de infraestrutura, moradia, educação e saúde.
Fonte: Valor Econômico