Garagem.com: Criticar, criticarei. Sugerir, sugerirei

Quando eu escrevo um texto para esta coluna costumo pensar nos leitores que o lerão. Já trouxe diversas opiniões, algumas claríssimas, outras extremamente subjetivas – que por vezes ganham vida própria. Com carinho (sempre aos leitores) quero hoje expressar uma opinião a qual eu espero que me compreendam.

Para expressar-me precisarei estar ríspido. Por este espaço ser de opinião, a qual não anseio para que concordem cegamente, mas para que usem da capacidade crítica, irei opinar sobre uma empresa específica a qual tinha relativo apego antes do ano de 2012. Dado seu modus operandi que mudou desde então, preciso falar sobre ela.

De antemão digo que reluto em falar sobre empresas, porque enquanto razoável entendedor de assuntos relacionados a transporte, ao mesmo tempo em que admiro também me decepciono com algumas. Ainda antes de falar de fato sobre a tal empresa, evoco o Art. 5º, inciso IX da Constituição Federal de 1988 para os “policiais do politicamente correto” de plantão. Enfim, de qual empresa vou falar?

Já falando, a saber: Transportes Guanabara. Empresa de transporte público por ônibus fundada em 1969 que desde então opera linhas urbana na cidade do Natal. Por entender que em seus mais de 40 anos de operação ela fez parte da história de muitos natalenses, seria muito egoísmo afirmar que ela não é também uma propriedade do povo da cidade do sol. Sinto-me à vontade para puxar-lhe as orelhas, portanto.

Seu lema é “transporte levado a sério”. Até onde eu sei era mesmo, levado muito a sério, tanto que era respeitada por clientes (clientes…ah, como seria bom se as empresas nos tratassem como clientes) e funcionários. E para sobreviver por tanto tempo tinha que ser uma organização profissional, respeitável. Sua frota nunca foi um primor de conforto nem de idade média, mas havia uma compensação, como a manutenção de excelência, o zelo por determinados detalhes e principalmente: a comunicação com a cidade.

A Guanabara atravessou décadas e pôde ver Natal crescendo, se expandindo para além do imaginado. Em seus ônibus, transportou muitos sonhos, esperanças e foi companheira diária de milhares de habitantes de Natal. Expandiu-se também, claro. Era uma boa companheira de lutas. Até que a má notícia chega.

Em 2012 ela foi vendida à Empresa Metropolitana, sediada em Pernambuco. Eu mesmo senti o baque: “como pode, a incomprável, a ‘excelente’ ter sido vendida?”. Se por algum momento eu, e talvez alguns natalenses, pensaram que ela iria evoluir, bem, ao menos eu me frustrei. O transporte levado a sério ficou no passado a partir daquele fatídico ano.

Não, a Guanabara não deixou de existir e até onde eu sei deve dar lucro aos seus donos. Mas desde que fora comprada foi abrindo mão de alguns valores, algumas sutilezas suprimidas pelas planilhas da geração escritório. Mudou a pintura, substituiu muitos carros antigos e também mudou a farda dos funcionários. Quisera eu as mudanças tivessem parado aí.

Os rodoviários agora parecem zumbis (com todo respeito à categoria que muito admiro), ignorantes, aparentemente censurados de darem um simples sorriso ao cliente. Tenho certeza que isso é um sintoma de que algo não vai bem internamente. Sinto os profissionais como se estivessem oprimidos.

Além dos 60 Torinos que trouxeram em 2012, vieram outros ônibus na casa dos 10 anos de uso para substituir os mais antigos, à época, de 1996. Desses alguns vieram piores lá de Pernambuco do que os velhos Alphas da Oceano. Ainda hoje muitos rodam já chegando no patamar dos 12 anos de uso.

E para piorar: a nova administração perdeu a capacidade de mostrar carisma para com as comunidades servidas pela Guanabara e sua divisão intermunicipal, Oceano. Programas como o Total Produtividade da Frota (TPF) já nem se ouvem falar. Recentemente ela se uniu à Santa Maria e à Reunidas, outras empresas a qual guardo grande receio quanto ao modus operandi, formando assim o Consórcio Norte Sul, que pelo visto só beneficiou as próprias empresas, sem respingar nada para os seus clientes.

Ufa! Não vou ficar somente criticando a empresa de forma gratuita. Não! Se estou evidenciando tais pontos é porque eu quero chamar atenção para uma necessidade de mudança de postura! Eu quero o bem da empresa mas ela tem que fazer sua parte! É bem verdade que as políticas para o transporte público são extremamente precárias, mas há margem para que a empresa preste um bom serviço! Basta querer! O que não pode é a empresa penalizar seus passageiros em virtude da penalização que sofre pela insegurança operacional.

Quando penso nisso, lembro que a Viação Cidade das Dunas deu às mãos à comunidade de Nova Parnamirim, cujo objetivo era permitir o embarque e desembarque dos passageiros de seus ônibus nas paradas de Natal. Que coisa formidável! Empresa e comunidade em parceria!

Finalmente, não fico apenas às críticas, mas faço sugestões (e torço para que alguém com poderes dentro da empresa tenha acesso a esta opinião):

– É preciso organizar a casa, no sentido que é vital a valorização dos funcionários, consultando-os, recebendo suas opiniões, e promovendo o bem estar entre eles, gerenciando o clima organizacional de tal modo que eles recuperem a autoestima enquanto profissionais da Transportes Guanabara.
– Comunicação é de suma importância! Jamais se fechem para uma comunidade atendida para empresa, ao contrário, sempre que possível, disponham de representantes em reuniões comunitárias, ouças as demandas, ponderem e expliquem o que é e o que não é possível fazer.
– Os itens acima são mais importantes que a frota em si, mas não é coerente aposentar ônibus novos enquanto se tem veículos com mais de uma década em uso. A Guanabara dos tempos do Sr. Olinto não agia assim. Ao comprar veículos novos, é de bom tom levar em conta o conforto dos operadores e passageiros antes de pensar no custo de manutenção ou no custo por Km rodado. Conquistar passageiros é uma arte.

Nesta altura deste longo texto estou rindo de mim mesmo pela forma como estou dispondo as palavras. Mas são palavras sinceras, de quem quer ver o bem comum, tanto da Guanabara quanto de seus passageiros. A postura tem que mudar, caso contrário uma história de mais de quarenta anos pode acabar em menos tempo.

O estopim para a escrita deste texto foi um fato que ocorreu há alguns dias: um ônibus da linha de Jardim Petrópolis quebrou em frente da garagem da empresa e esta não trocou o veículo (difícil acreditar que não havia carro reserva), mas fez os passageiros esperarem bastante por outro veículo da linha. Isso não se faz. E é apenas um fato, entre muitos outros que ocorrem em suas linhas.

Simbolicamente, ela não trocou o ônibus, então eu a troquei. Não consegui, talvez devido ao meu grau de exigência levemente alto, conviver com sua atual forma de operar. Criticar, critiquei, mas ao menos sugerir, sugeri. Espero que a Guanabara mude, para melhor, dessa vez.

Ah, e antes que me esqueça: A Guanabara tem espaço garantido nesta coluna caso queira se pronunciar sobre o que aqui está escrito. O UNIBUS RN prima por ouvir todos os lados de um fato para que nosso querido leitor tenha a melhor informação. Com a palavra, a Transportes Guanabara.

Por Rossano Varela

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