Rodoviários, suas greves e as caixas pretas

Motoristas e cobradores de ônibus formam uma categoria profissional que parece atrair desconfianças dos mais diversos segmentos da sociedade. Mas será que isso é justo?
Uma acusação que sempre pesou contra a categoria é a de que se presta a ser uma espécie de bucha de canhão. Segundo tal versão, sempre que o empresariado quer recompor sua margem de lucro articula-se com lideranças dos sindicatos de rodoviários para produzir greves, que acabam justificando reajustes tarifários para cobrir reivindicações salariais. É, sem dúvida, uma interpretação que faz todo sentido e que encontra respaldo em diversas evidências nas atitudes de alguns longevos dirigentes sindicais.
Mais recentemente, com tarifas de transporte coletivo congeladas desde as jornadas de junho de 2013, ficou explícito o subsídio ao transporte por parte dos governos locais. Mas evidenciaram-se também desencontros nos procedimentos de repasse de recursos. No caso do Distrito Federal, que não é o único, atrasos nos pagamentos têm levado rodoviários a cruzarem os braços, deixando a população sem ônibus.
A alegação dos empregadores é quase sempre a de que o governo não tem cumprido o calendário dos repasses. Mais uma vez, o senso comum identifica aí um conluio entre patrões e empregados produzindo prejuízos reais para a população.
No entanto, olhares mais atentos hão de ter constatado um grau de espontaneidade nos últimos movimentos, o que coloca em xeque a factibilidade dessas articulações de bastidores. Com efeito, os rodoviários do Rio de Janeiro recentemente passaram por cima do acordo que o sindicato havia negociado com o patronato em seu nome e, com uma greve por várias razões histórica, asseguraram ganhos bem mais significativos.
Também no Distrito Federal, salvo melhor juízo, dirigentes sindicais têm se mostrado surpresos com as paralisações das últimas semanas.
Não faltou quem tenha vislumbrado nesses casos um certo oportunismo eleitoreiro, como se baixas remunerações, calotes de empregadores e condições indignas de trabalho não fossem, por si sós, condições suficientes para levar trabalhadores a lutar, independente de calendários eleitorais.
Mas será que não estamos colocando a lupa no objeto errado? Será que não teríamos mais sucesso em nossa tentativa de entender ações e motivações dos trabalhadores se buscássemos desvendar os segredos guardados nas planilhas dos custos operacionais, que as empresas escondem a sete chaves?

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