Ônibus atrai por preço, mas fluxo recua

Foto: Magnus Nascimento/Tribuna do Norte
Natal, Recife, Paulo Afonso, Salvador, São Paulo. Esses são alguns dos destinos – em muitos quilômetros de estrada Brasil afora – percorridos pela coordenadora pedagógica Rafaela Moreira, de 25 anos, todos de ônibus. Rafaela, que estava em Natal pronta para embarcar para a Bahia, nesta semana, está entre os brasileiros que pretendem viajar mais de ônibus em 2016, como mostra pesquisa do Ministério do Turismo, divulgada em junho, sobre a intenção de viajar nos próximos seis meses. Com o poder de consumo retraído e a disparada da moeda norte-americana, 80% das viagens serão domésticas e o modal rodoviário ganha espaço, com 17% na preferência dos viajantes, a maior intenção dos últimos cinco anos. No ano anterior, o percentual era 10,9%.

Nas estradas do Rio Grande do Norte, entretanto, o fluxo segue, por ora, mais lento com queda de 5% no total de viagens realizadas de janeiro a maio saindo para outros estados, segundo cálculo da Socicam – empresa que administra o Terminal Rodoviário de Natal, na Cidade da Esperança, zona Oeste da capital. Levantamento da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) aponta um recuo de 13% no número de passageiros interestaduais no RN, no primeiro trimestre, na comparação com igual período do ano anterior.
O administrador do Terminal rodoviário, Rodrigo Wanderley, avalia que a redução se dá em função da crise financeira que o país atravessa somada a concorrência com transportes clandestinos e embarques fora da rodoviária. As viagens interestaduais nos primeiros cinco meses deste ano, segundo a Socicam, com saída da Rodoviária, somam 87,4 mil frente as 92 mil registradas no mesmo período do ano passado. Os dados consideram apenas viagens com saída da Rodoviária.
“Acreditamos que a queda poderia ser maior se não fosse a transferência de passageiros do transporte aéreo para o transporte Rodoviário, mesmo assim acreditamos ser um número pequeno”, afirma Rodrigo Wanderlei. “Por outro lado, existem embarques de passageiros irregulares, fora da rodoviária, que elevaria os números, além do transporte clandestino”, explica o administrador.
Viagens
No acumulado em 2015, foram 220 mil viagem para outros estados, sendo os destinos mais procurados as capitais de estados vizinhos: Recife (PE), Fortaleza (CE) e João Pessoa (PB).
Ao todo, são 8 empresas interestaduais, com 61 destinos e média de 41 horários por dia operando na Rodoviária da Cidade da Esperança. A política de preços diferenciados para o mesmo destino operado por empresas diferentes está de acordo com as regras da ANTT. Wanderley lembra que as empresas estão comprando novos ônibus e há um projeto aprovado para atendimento dos passageiros dentro das bilheterias, como uma sala VIP, ainda para este ano.
A TRIBUNA DO NORTE tentou contato com a Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros (Abrati) para analisar o mercado e intenção de viagens interestaduais, mas segundo a assessoria de imprensa, o porta-voz oficial está em viagem de férias no exterior e não teria como atender a reportagem. A Fetronor alegou não trabalhar apenas com empresas que atuam dentro do Estado. As empresas de ônibus Gotijo, Nordeste e Viação Progresso também foram procuradas sem sucesso. A viação Guanabara informou, por meio da assessoria de imprensa, que não informa ou comenta dados por questão de estratégia.
Crise e câmbio levam viajante a trocar o exterior pelo Brasil
O diretor do Departamento de Estudos e Pesquisa do Ministério de Turismo, José Francisco de Sales Lopes, explica que o incremento na intenção de viagens de ônibus é reflexo do crescimento nas viagens nacionais, puxado pela crise e variação cambial que fizeram o brasileiro colocar o pé no freio na hora de decidir pelo turismo internacional. E, enquanto o câmbio se mantiver alto, a tendência é que o turismo doméstico se mantenha aquecido.
A Sondagem do Consumidor – Intenção de Viagem, divulgada pelo Ministério do Turismo, mede a intenção de viagem nos próximos seis meses. Segundo a pesquisa, 80% dos 2 mil entrevistados pretendem viajar pelo Brasil, em vez de outros países. E 17% das intenções apontam para o transporte rodoviário. Além de uma migração dos turistas de viagens de avião – nacionais e internacionais – para as rodovias, a preferência por ônibus se deve a predominância por viagens com distâncias mais curtas, menor custo e facilidades no acesso. Sales pondera ainda que, de uma forma geral, após a Copa do Mundo de 2014, há também melhoria na infraestrutura de estradas e oferta de atrativos locais.
“Quem viaja de ônibus fica no próprio estado ou região. Aí, no Rio Grande do Norte, se espera maior fluxo no Nordeste ou dentro do Estado. Uma parcela ponderável é atraída pelas atrações locais. É mais barato, mais acessível e melhorou a experiência deste nicho de viagem”, diz o diretor do Departamento de pesquisa do Ministério.
Parte destes turistas que não abrem mão de viajar de ônibus, mesmo em tempos de crise, tem como característica a opção por se hospedar em casa de amigos e parentes em vez de comprar pacotes com hospedagem. O que em princípio pode sugerir um menor ticket de gasto médio por pessoa, segundo José Francisco de Sales, faz circular mais dinheiro na economia dos locais visitados. “A compensação está no tempo de permanência. A média de gasto diário é um pouco menor, já que muitos não pagam a hoteleira, mas considerando o gasto médio global acaba sendo elevado, já que em vez de 3 a 5 dias a permanência é mais longa”, analisa o pesquisador.
Fluxo
A queda no fluxo de passageiros interestaduais saindo do Rio Grande do Norte apontada tanto pela ANTT [12% no primeiro trimestre], quanto pela empresa Socicam administradora do Terminal Rodoviário [5% de janeiro a maior deste ano], na avaliação de Lopes, pode ser reflexo do contingenciamento de gastos em viagens corporativas e não apenas para lazer.
Com a economia retraída, empresas públicas e privadas ajustaram as planinhas e gastos com viagens foram cortados ou reduzidos drasticamente, sendo substituídos por video-conferencias, uso de telefone, aplicativos e redes sociais. “O universo de turismo é uma porcentagem dentro do total de viagens que são realizadas. E houve queda nas viagens de trabalho bem maior”, afirma Sales. Contudo, ele pondera que o Ministério não levanta fluxo de passageiros e número de viagens. “A Sondagem do Consumidor levanta apenas a intenção de viagens e busca orientar as empesas que operam com o turismo para direcionar o planejamento de estratégias e investimentos”, explica. A amostra ouviu 2 mil entrevistados em sete capitais: Salvador, Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília e Recife.

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