Adriano Abreu/TN |
Uma demonstração operacional de um ônibus de piso rebaixado chamou atenção na manhã da última sexta-feira (23), no Campus Universitário da UFRN. O teste faz parte de uma pesquisa coordenada pelo professor Rubens Ramos, do Departamento de Engenharia Civil, para a adoção deste tipo de veículo nas operações da linha Circular, que atende aos estudantes da instituição. Uma vez em execução, o projeto poderá servir como piloto para o serviço de transporte coletivo urbano de Natal.
O ônibus utilizado na experimentação é oriundo da cidade de São Paulo, onde circulam cerca de 4.000 coletivos desse modelo, que dispõe também de suspensão a ar, câmbio automático e motorização traseira. “São vários benefícios tanto para o motorista, que não precisa pisar na embreagem e trocar de marcha constantemente, quanto para o usuário, que poderá subir ou descer do ônibus no mesmo nível do passeio, através da suspensão, caso necessário”, afirma Rubens Ramos.
Além disso, o veículo não possui degraus, e as portas podem ser mais largas do que os ônibus convencionais, o que permite o embarque ou desembarque de duas pessoas, por uma mesma porta. Um dos testes indicou que cada passageiro gasta, em média, um segundo para entrar ou sair do veículo. “Os ônibus de Natal só permitem a passagem de uma pessoa por vez, que leva, em média, quatro segundos cada. Isso eleva o tempo nas paradas. Com um ônibus piso baixo, esse tempo de espera é reduzido e o número de viagens podem ser ampliadas”, afirma o professor.
Com o ônibus de piso rebaixado, o acesso é universalizado na medida em que pessoas com mobilidade (gestantes, idosos ou cadeirantes) reduzida não têm obstáculos, seja na entrada ou na saída do coletivo. “Natal tem cerca de 40 mil idosos acima de 70 anos. Daqui a 15 anos, serão 100 mil. Então, essa é a hora de se fazer essa mudança para sintonizar o transporte público ao padrão de uso das explica o docente.
Outra vantagem seria a possibilidade de integração intermodal. “Se permite uma estratégia de levar bicicletas, exceto nos horários de pico. Mas no entrepico, feriados, finais de semana, é possível. A pessoa inicia o percurso de bicicleta e complementa com o ônibus. Isso cria uma outra dimensão de mobilidade na cidade”, disse ele.
Para Rubens Ramos, é preciso aprimorar a prestação do serviço, o que passa pela aquisição de ônibus novos, confortáveis e acessíveis. “Natal pode ser a primeira cidade do Brasil a ser 100% acessível, em um prazo muito curto. Com 400 ou 500 ônibus de piso baixo, substitui os 700 que rodam hoje. E o custo não é absurdo, pois com um embarque e desembarque mais rápido, se transporta mais gente e se faz mais viagens”, disse.
Técnicos da Secretaria de Mobilidade Urbana (STTU) estiveram na demonstração para avaliar o desempenho do veículo e suas especificações. De acordo com o secretário adjunto Clodoaldo Cabral, a pasta faz estudos para verificar a viabilidade operacional desse tipo de veículo para a linha Circular Campus, além de outras readequações no itinerário para otimizar a distribuição de usuários.
A proposta é implementar linhas seccionadas em trechos que concentram grande demanda no Campus, onde seriam adicionados os trajetos Via Direta – Reitoria e Via Direta – Escola de Ciência e Tecnologia. “A gente vem trabalhando num projeto para o Circular, de modo que os alunos tenham menor tempo de viagem”, disse.
O adjunto explicou, também, que serão necessários estudos para identificar possíveis gargalos no trajeto que impeçam a plena operação de ônibus rebaixados na linha, para que sejam feitas as devidas adequações. Clodoaldo Cabral reforçou que a adoção desse tipo de veículo permanece como um dos pontos exigidos no edital de licitação do transporte coletivo, que deverá ser publicado até o final desse ano, conforme o gestor, após crivo da Procuradoria-Geral do Município. “Quando houver a publicação do edital, existe todo um trâmite legal para a inserção desses veículos e adaptações nas garagens. Tem um período para ser colocado essa frota em operação, não será de imediato”.
Fonte: Tribuna do Norte