Nem atraso e nem superlotação: o principal problema no sistema de ônibus na capital paulista é o assédio sexual. É o que revela pesquisa de Mobilidade Urbana da Rede Nossa São Paulo, elaborada pelo Ibope Inteligência.
Foram realizadas 1603 entrevistas em todas as regiões de São Paulo, com pessoas de idade igual ou superior a 16 anos, entre homens e mulheres . O período coincide com a divulgação do caso de Diego Ferreira de Novais, de 27 anos, que no dia 29 de agosto foi detido ao ejacular numa passageira de um ônibus na Avenida Paulista e liberado em seguida. No dia 02 de setembro, ele foi detido dentro de um ônibus que passava pela Avenida Brigadeiro Luís Antônio após assediar outra mulher. Diego, que continua preso, tem 14 passagens anteriores pela polícia por crimes semelhantes.
Segundo pesquisa da Rede Nossa São Paulo, a nota média dada pelos entrevistados neste quesito foi 2,6. A escala vai de 1 (péssimo) a 10 (ótimo).
De acordo com texto da organização, as piores notas sobre estes quesitos foram dadas por mulheres. Nas zonas Sul e Norte, os passageiros de ônibus em São Paulo são mais críticos em relação aos problemas dos assédios. Quem mora mais longe e, habitualmente, fica mais tempo no ônibus, diz sentir mais este tipo de problema.
A falta de segurança em relação ao assédio sexual é mais percebida por mulheres: 69% deram nota 1. Mas a pesquisa traz outros dados: tendem a ser mais críticas (nota 1, ou seja, péssimo) em relação ao assédio as pessoas entre 45 e 54 anos (69%), com escolaridade entre 5° e 8° ano do ensino fundamental (74%), renda média até 2 salários mínimos (61%) e que não possuem (54%) ou não utilizam (59%) carro. Residentes das zonas Norte 2 (56%) e Sul 2 (68%) também são mais críticos em relação ao assédio nos ônibus.
Os dados mostram que o assédio é mais percebido pelas pessoas que se encontram nas faixas menos favorecidas de renda e escolaridade e por aquelas que estão nas regiões mais distantes do centro expandido, ou seja, as que gastam mais tempo no ônibus. Isso sugere que além da questão de gênero, há um componente de vulnerabilidade social que permeia a questão.
Perguntados sobre qual o problema que atualmente mais precisa ser resolvido em relação aos ônibus municipais, 7% apontaram a questão do assédio, sendo que esse percentual duplica entre jovens de 16 a 24 anos (14%) e entre pessoas que raramente usam automóveis (13%).
A pesquisa de mobilidade urbana vai ser apresentada na próxima quarta-feira, 20, e é uma parceria da Rede Nossa São Paulo com o projeto Cidade dos Sonhos.
Para tentar amenizar o problema, em conjunto com o Tribunal de Justiça de São Paulo, as empresas gerenciadoras dos trasportes da capital e região metropolitana lançaram uma campanha, veiculada nas estações, terminais e veículos dos sistemas SPTrans (São Paulo Transporte – ônibus na Capital Paulista), Metrô, CPTM – Companhia Paulista de Trens Metropolitanos e EMTU – Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (ônibus intermunicipais).
Diário do Transporte