O Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP) calcula que o Brasil precisa construir 1.975 quilômetros de infraestrutura de transporte de média e alta capacidade, como linhas de metrô, trens, veículos leves sobre trilhos (VLTs) e corredores de transporte rápido por ônibus (BRTs) para adequar a oferta de mobilidade nos aglomerados urbanos com mais de 500 mil habitantes.
A infraestrutura atual é de 929 quilômetros, o que corresponde a uma disponibilidade de 10,7 quilômetros para cada um milhão de residentes urbanos. O total é apenas um pouco superior ao verificado em 1980, quando a oferta era de 8,8 quilômetros. A expansão proposta pelo instituto elevaria esse índice para 28 quilômetros para cada milhão. A França, país com melhor oferta, dispõe de 69,2 quilômetros de infraestrutura de transporte para cada milhão de habitantes urbanos.
Bernardo Serra, coordenador de políticas públicas do ITDP, diz que o déficit brasileiro em mobilidade é resultado de uma política de expansão urbana que acomodou os moradores na periferia das cidades, sem um acompanhamento correspondente na oferta de emprego, ensino, saúde e lazer para os habitantes da periferia.
O resultado é uma necessidade constante de deslocamento da população, gerando uma grande demanda por transporte de passageiros que nunca foi atendida. A maioria dos moradores das grandes cidades brasileiras vive distante de infraestruturas de transporte de média e alta capacidade. Em Brasília, apenas 17% da população reside em um raio de um quilômetro de uma estação de transporte. Em São Paulo, 25%, em Belo Horizonte, 28%, e na cidade com melhor estrutura do país, o Rio, 47%.
Para Serra, a solução para a mobilidade depende de dois movimentos paralelos. Um é adensar a ocupação urbana, aproximando moradia das estruturas públicas e da oferta de trabalho. Outro é investir em transporte coletivo de média e alta capacidade.
Um estudo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nas 15 maiores regiões metropolitanas do país chegou a um resultado próximo ao do ITDP, detectando a necessidade de construção de 1.633 quilômetros de infraestrutura de transporte. O investimento foi calculado em R$ 234,76 bilhões, em valores de 2015. Para realizar o orçamento em um prazo de 12 anos, o país precisaria investir 0,40% de seu PIB ao ano. No entanto, o histórico de investimento brasileiro na área até 2013 é de 0,05% do PIB anual. Em 2014 e 2015, o investimento cresceu para 0,15% do PIB por conta da Copa do Mundo e das olimpíadas.
O resultado do investimento para os grandes eventos, porém, é questionado. “Perdemos uma grande oportunidade. As obras atenderam à demanda de curto prazo, não levaram em consideração a real necessidade das cidades”, diz Juciano Martins Rodrigues, especialista em mobilidade do Observatório das Metrópoles.
Um exemplo é a Linha 4 do Metrô do Rio, que liga Leblon à Barra da Tijuca que exigiu investimentos de R$ 9 bilhões e hoje é subutilizada. Segundo Rodrigues, a linha atende bairros de classe média alta já bem atendida por ônibus de passageiros e vias para automóveis. “Em São Gonçalo, no Leste metropolitano, um milhão se deslocam para trabalhar todo dia e não recebeu investimento”, diz. “O padrão dos investimentos em mobilidade nos últimos anos privilegiou o público de média e alta renda, não os mais necessitados”, diz Rafael Henrique Moraes Pereira, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Muitos projetos apresentam problemas estruturais e outros não foram concluídos. Em Mato Grosso, o VLT que liga Cuiabá ao Aeroporto Marechal Rondon em Várzea Grande, orçado inicialmente em R$ 1,4 bilhão, está com as obras paradas há dois anos e meio após ter consumido R$ 1 bilhão.
Segundo Rafael Pereira, “o país investe pouco em mobilidade e, quando o faz, não planeja adequadamente”, diz.
Valor Econômico