É fato que os ônibus urbanos estão perdendo passageiros. Só no período 2013- 2016 o serviço acumula uma perda de passageiros de 18,1% em todo o Brasil – são três milhões de usuários a menos por dia.
A redução ocorre mesmo num contexto de severa crise econômica, que destroça orçamentos familiares e adia planos de compra de bens, como automóveis, por exemplo. Nesse cenário, o raciocínio lógico induz a acreditar que o número de usuários do transporte público deveria ser maior, por tratar-se de modo economicamente mais acessível.
Não é fácil de entender, mas há explicação. Além da elevada taxa de desemprego, que elimina a necessidade de inúmeros deslocamentos diários e restringe a concessão do vale-transporte, benefício trabalhista que favorece a mobilidade, outros fatores devem ser considerados, se queremos reverter esse quadro em 2018.
O recente estudo Mobilidade da População Urbana 2017, da CNT/ NTU, comprova que o modo ônibus deixou de ser utilizado por parcela considerável da população. Entre os entrevistados, 38,2% diminuíram o uso ou pararam de usar o coletivo como meio de transporte público.
A constatação mais preocupante é a de que os passageiros de classes com menor poder aquisitivo (C, D e E) trocaram o ônibus pelos deslocamentos a pé (69,8%), um claro efeito da crise. Na outra ponta, as classes com maior renda (A e B) substituíram o ônibus pelo automóvel; entre os entrevistados da classe A, por exemplo, 79,1% passaram a usar carro próprio.
A pesquisa aponta que os principais motivos para essa substituição do ônibus incluem a falta de flexibilidade dos serviços (30,3%), o elevado preço das tarifas (29,5%) e o desconforto (29,2%). Os problemas são visíveis e cumulativos, gerando um efeito de bola de neve que desequilibra economicamente o setor e agrava as condições de operação do serviço.
O efeito se traduz em novos estragos, como o aumento progressivo do transporte individual nas vias, especialmente de automóveis, favorecendo o surgimento de engarrafamentos que provocam a diminuição da velocidade do ônibus e, consequentemente, o desgaste na confiança do passageiro, receoso em optar por esse modo de transporte. Uma autêntica situação “perde-perde”, onde a “solução” piora o problema e compromete cada vez mais a mobilidade urbana.
Cabe ressaltar que não há resposta eficaz ao problema que não esteja baseada nas opções coletivas de transporte, capazes de atender a um número muito maior de usuários a um menor custo, com reduzido impacto ambiental e uso mais racional do espaço viário. Caminhos existem, como a priorização do transporte público que reduz o tempo de espera e de viagem. Para isso, autoridades e operadores precisam trabalhar juntos para consolidar um novo modelo de gestão, custeio e investimentos em infraestrutura que consiga trazer de volta a demanda de passageiros perdida.
Otávio Vieira da Cunha Filho, Presidente Executivo da NTU
Artigo publicado na Revista NTU Urbano edição novembro e dezembro de 2017