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No Dia Internacional da Mulher, a Agência CNT de Notícias traz histórias marcantes para homenagear aquelas que fazem parte do setor de transporte.
Atualmente, o setor conta com cerca de 2,2 milhões de profissionais, sendo 17% do sexo feminino. A maior parte das mulheres possui entre 30 e 39 anos e ensino médio completo. Os dados são da Rais (Relação Anual de Informações Sociais), do MTE (Ministério do Trabalho e Previdência Social). O órgão não tem levantamento do percentual de motoristas mulheres no Brasil, mas os números ainda são baixos. Os sistemas de trens e metrôs, por exemplo, possuem cerca de 7.000 empregadas mulheres, sendo que, segundo a ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos), apenas 500 atuam como condutoras e maquinistas. Já no modal aéreo, apenas 2,5% de todas as licenças de piloto são obtidas por mulheres, sendo que a participação feminina na cabine de comando dos aviões comerciais é de 2,7%, de acordo com a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
Ainda que seja tímida, a procura feminina pelos cargos de condução já começa a despontar. O projeto Habilitação Profissional para o Transporte – Inserção de Novos Motoristas, do SEST SENAT, que visa inserir motoristas profissionais no mercado por meio da mudança da categoria da Carteira Nacional de Habilitação para C, D ou E, registrou a participação de 2.311 mulheres desde 2015. Além disso, em cinco anos, a demanda feminina cresceu 60,4% nos cursos voltados para o transporte de passageiros, de produtos perigosos e de transporte escolar da instituição. Em 2017, os cursos mais procurados pelas mulheres foram Cuidados Especiais no Transporte de Escolares, Custos Operacionais do Transporte de Cargas e A Precificação no Transporte Rodoviário de Cargas.
De acordo com a doutora em sociologia pela UnB (Universidade de Brasília), Ana Liesi Thurler, não é de se estranhar que algumas áreas mais procuradas pelas mulheres estejam ligadas ao cuidado. “Historicamente, enquanto os homens foram ensinados a trabalhar, da mulher se esperava o cuidado com o espaço doméstico e com a família. Isso justifica a grande busca por profissões na área de transporte escolar, por exemplo. O contato com crianças remonta ao ambiente de costumes”, acredita. Para ela, as relações de gênero são sociais e culturais e foram construídas no interior da sociedade patriarcal, que estabeleceu o lugar da mulher e o do homem. “Por mais que as mulheres venham batalhando para sair do espaço privado e ir para o público, a ascensão é uma luta”.
A professora avalia que, mesmo que estejam no processo de rompimento dessas dificuldades, poucas mulheres consideram a possibilidade de ingressar no setor de transporte porque ele ainda é tido como um ambiente masculino. “A mulher que alcança esse espaço é uma referência, porque deixa de repetir a vida da avó. Está provado que uma mulher pode pilotar avião ou trem. Essas condutoras tendem a puxar uma nova tendência e atrair motoristas com a sua coragem”, acrescenta.
É o caso da proprietária da Oficina da Mulher, Agda Oliver. Após considerar que pagou um valor que não correspondia ao serviço contratado numa oficina mecânica e ter ouvido de amigos que “passaram a perna nela, porque lugar de mulher não é uma oficina”, ela começou a estudar a possibilidade de abrir um espaço voltado para mulheres. Há oito anos, administra a oficina em Ceilândia, cidade a 30 km de Brasília.
OPERADORA DE METRÔ
Quando a operadora do metrô de São Paulo Maria Elisabeth de Oliveira decidiu entrar para o ramo, em 1986, não havia nenhuma mulher em posição de comando de trens no Brasil. Ela já era empregada e sabia que havia muitas pessoas do sexo feminino brigando para serem operadoras. Foi quando participou de um concurso interno e passou. Na ocasião, três mulheres foram admitidas para o cargo. O curso durou seis meses. “Muita gente pensa que o operador só fica ali na cabine, e não faz mais nada. Mas, na verdade, tem que sanar todas as falhas. Você aprende as partes teórica e técnica e tem que resolver qualquer coisa que aconteça no trem, nem que seja para ele ser rebocado”, conta.
PILOTA DE AERONAVE
A história da pilota Patrícia Ramanauskas com a aviação vem do berço. Desde pequena, acompanhava o pai, também piloto. Quando concluiu o ensino médio, não teve dúvida do seu rumo profissional. Aos 16, começou a fazer cursos. Aos 17, já pilotava sozinha aviões do tipo monomotor acrobático. Aos 19, tirou o brevê para a aviação comercial. Entrou, em seguida, na faculdade de ciências aeronáuticas com o objetivo de ingressar em uma companhia aérea. Hoje, aos 24, está há três na Azul e foi a pilota mais jovem da empresa.
CNT/FETRONOR