Na noite da última quinta-feira, passageiros que estavam dentro de um trem da SuperVia foram obrigados a se jogar no chão para escapar de balas perdidas — do lado de fora dos vagões, um tiroteio intenso apavorava quem estava em Santa Cruz. As imagens de pânico a bordo ganharam as redes sociais, mas não foram uma exceção. A violência tem estado, cada vez mais, no caminho de quem depende de transporte público no Rio, afetando todos os modais. Usuários de ônibus, por exemplo, têm assistido ao aumento no número de assaltos em coletivos. No primeiro semestre deste ano foram 7.673 casos no estado. É o número mais alto desde 1991, quando começou a série histórica do Instituto de Segurança Pública (ISP), e também mais do que o dobro do registrado em 2015, quando foram 3.685 vítimas.
Foto: Pedro Teixeira/Agência O Globo |
Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, foi onde teve mais roubos em ônibus, com 578 casos. Em seguida, aparecem duas áreas da capital: Bonsucesso, com 519 registros, e São Cristóvão, com 415.
Os roubos em trens e no metrô também são preocupantes. Os dados mais recentes mostram que, em 2017, houve 1.269 roubos em composições e estações ferroviárias, contra 921 no ano anterior. Já as ocorrências no metrô saltaram de 130 para 296, no mesmo período. Se somados, os casos nos modais e vans, entre 2014 e 2017, chegam a 40.695 , em média, um episódio a cada 1 hora e 10 minutos.
MUDANÇA DE HÁBITOS
Os passageiros também são afetados pela rotina de violência às margens de vias expressas e trilhos. Por causa de confrontos, as composições da SuperVia sofreram pelo menos 18 interrupções desde o início do ano. As linhas do BRT suspenderam o serviço em, ao menos, 19 situações. No trecho da Avenida Cesário de Melo, na Zona Oeste, o mais sensível dos corredores de ônibus articulados, há ainda outro problema. Vinte e duas estações — que representam um terço do Transoeste — estão fechadas desde maio. Como alternativa, foi criado o serviço 17, um ônibus que circula pela pista convencional dos carros. Na semana passada, a linha parou cinco vezes por causa da insegurança no local. O VLT, por sua vez, contabiliza cerca de uma paralisação por mês.
Diante de tantos assaltos e risco de balas perdidas, passageiros já criaram estratégias para tentar escapar dos criminosos. Luzilene Vieira, por exemplo, mudou seus hábitos após ser vítima, dentro de um ônibus, de dois homens armados, que levaram seu celular, ainda com prestações a pagar.
— Passei a sentar sempre na frente e nunca na janela. Acho mais seguro — conta Luzilene, lembrando dos momentos de pânico que viveu. — Encostaram a arma na minha barriga. Na hora, gelei.
Já Fernanda Corrêa, de 40 anos, precisou se jogar no chão do trem, na semana passada, quando a composição passou por Manguinhos, onde ocorria um tiroteio. Um maquinista, que pediu para não ser identificado e circula por todos os ramais há 31 anos, conta que já precisou se proteger de tiros enquanto pilotava:
— A reação é como a de qualquer um. Me protejo e torço para que a bala não acerte ninguém.
O recrudescimento dos índices de criminalidade no transporte público preocupa especialistas.
— A violência produz marcas nas vítimas. Quando alguém entra num coletivo armado e rouba um passageiro, ou quando um tiroteio interrompe a circulação do trem, BRT ou VLT, provoca um impacto de insegurança muito maior do que o celular que foi roubado. Nada justifica que a Secretaria de Segurança e o Gabinete de Intervenção não estejam priorizando os crimes contra o transporte público — diz Silvia Ramos, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes.
Em nota, a PM informou que, com a “recomposição de seus recursos humanos e materiais”, será possível reduzir o número de roubos em coletivos.
O Globo