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Apesar de democrático, o transporte público não vem se mostrando propriamente convidativo para as mulheres. Só na cidade de São Paulo, uma em cada quatro passageiras relata já ter sofrido assédio, segundo pesquisa realizada pela Rede Nossa São Paulo, em 2017. Neste ambiente desfavorável para a população feminina, existem aquelas que decidiram desafiar a tradição e as circunstâncias para se tornarem as condutoras da mudança.
“Desde que me entendo por gente, sempre quis ser motorista de ônibus. Quando era uma criança e via a condução passando na rua, já dizia para minha mãe que esse era meu sonho”, conta Vanessa Marciano, motorista há mais de sete anos. “Quando comecei a dirigir, não era normal ver mulheres nesta posição. Hoje em dia, é mais comum. Ainda existe uma superioridade numérica masculina nesse cargo, mas estamos quase chegando lá”.
Trabalhando oito horas por dia durante os turnos vespertino e noturno, Vanessa conta que já foi assaltada três vezes, mas, apesar da preocupação esporádica da família, não pretende largar a profissão. “Sempre me esforcei para ser motorista, tanto é que estou mudando minha habilitação agora para poder dirigir veículos ainda maiores. Fiz seis anos de inglês, me formei na escola de aviação e é isso o que eu amo fazer”, orgulha-se.
A situação é semelhante no transporte ferroviário, conforme conta a maquinista Cristiane Moura. Ela confessa que, no início, foi mais difícil, porém hoje não enfrenta problemas. “Já houve caso de um usuário não entrar no trem e deixar claro que era porque tinha uma mulher no comando. Algumas vezes, também sou hostilizada por pessoas mal informadas, que atribuem a mim a culpa de problemas no sistema e dizem que está atrasado porque sou mulher, mas nunca me deixei contaminar”.
Mãe de três filhos e formada em um curso técnico de mecatrônica, Cristiane resolveu fazer o concurso por causa da remuneração e se tornou maquinista em 2011. “As mulheres fazem exatamente o mesmo trabalho dos homens, mas percebo que poucas tentam as vagas existentes. Não sei o percentual feminino, mas passa longe da metade da quantidade total de maquinistas”, aponta.
De acordo com a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), dos 8,3 mil empregados na instituição, 18% são mulheres que ocupam cargos em diversos setores, desde operação e manutenção, até segurança e administrativo.
Do outro lado, o sistema de transporte coletivo da cidade de São Paulo é composto por uma frota de, aproximadamente, 14 mil veículos. Por volta de 50.000 profissionais, entre motoristas, cobradores, administrativo e manutenção, e cerca de 10% são mulheres.
A SPTrans garante que não há restrições para a contratação de mulheres e comenta que, ao contrário, incentiva a presença feminina, pois elas seriam mais gentis e pacientes, principalmente com idosos e passageiros especiais.
“Lidar com o público é complicado, só quem trabalha sabe, mas temos que ter paciência para tratar todo mundo bem. Zelo pelos passageiros como se fossem minha mãe”, assegura Vanessa. No entanto, apesar do amor que demonstra pela profissão, ela também se queixa de ter sofrido preconceito. “Já disseram que não iam entrar no ônibus porque tinha uma menina dirigindo. A gente tem que ser muito melhor do que os homens para ganhar o mesmo espaço que eles já têm”, lamenta.
“Às vezes, somos assediadas por homens que não se contentam em apenas apreciar nosso trabalho. Não vejo problema, apenas não toque em mim. Também somos muito admiradas, principalmente por crianças e idosos, que demonstram abertamente o apreço e eu adoro isso”, diz Cristiane. “Tenho um carinho especial pela profissão, pelas máquinas, pelas paisagens e por ser útil para a sociedade fazendo um ótimo trabalho”.
Universa – UOL