Enquanto o carro costuma ser usado de forma individual, um ônibus de transporte público pode levar de 40 a 250 passageiros, de acordo com o modelo da carroceria e a legislação local. Apesar de se tratar de uma simples conta matemática em função da limitação do espaço urbano, a questão vem se agravando nos últimos anos nas grandes cidades e o excessivo número de veículos nas ruas se transformou em um problema para os gestores públicos.
Reprodução/Ônibus Brasil – Ilustração/UNIBUS RN |
A coordenadora de Transporte Público do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), Beatriz Rodrigues, destaca que o transporte público é a principal forma de garantir acesso às oportunidades das cidades de forma mais democrática, sustentável e inclusiva. “O transporte público coletivo apresenta uma maior capacidade frente aos veículos individuais motorizados e maior eficiência do ponto de vista ambiental. A diferença na emissão de poluentes de ambos os modos impacta a saúde e a qualidade de vida da população”, analisa.
Ranking
Curitiba é hoje uma das capitais brasileiras com a maior proporção de automóveis por habitante, disputando com Belo Horizonte (MG) o topo do ranking. Na cidade, existe um carro a cada duas pessoas. Já a capital mineira ganha por muito pouco: lá a média é de um carro para 1,76 habitante. Ambas estão bem acima da média no Brasil, onde a proporção é de 1 carro para cada 3,83 habitantes de acordo com dados da projeção populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) em 2018.
Para Beatriz, quando o transporte público apresenta uma alta qualidade e atende às necessidades dos usuários – principalmente dos grupos mais vulneráveis como a população de baixa renda, crianças, mulheres e idosos –contribui para aprimorar a qualidade de vida de todos, inclusive para aqueles que podem optar pelo transporte individual em seus deslocamentos.
O superintendente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Luiz Carlos Néspoli, salienta que os ônibus usados para o transporte público no Brasil estão mais modernos e confortáveis, com tecnologia embarcada e sistema de bilhetagem eletrônica. “A bilhetagem eletrônica facilitou o acesso e a expansão do sistema de transporte. Hoje é uma das políticas de inclusão mais importantes que existe”, comenta.
Inclusão social
Entre os objetivos da Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei 12.587/2102), está a redução das desigualdades, a promoção da inclusão social e a melhoria do acesso aos serviços básicos e aos equipamentos sociais. Ainda estão previstas questões como a melhoria das condições urbanas para garantir a mobilidade e a promoção do desenvolvimento sustentável.
Para o arquiteto e urbanista Ricardo Corrêa da Silva, da TcUrbes, a mobilidade faz parte da condicionante para o crescimento das cidades. Silva desenvolve projetos de planejamento urbano que visam a transformação das cidades por meio de serviços com alto impacto ambiental e social. Segundo ele, em boa parte das cidades brasileiras o orçamento público ainda prioriza investimentos para melhorar o transporte individual, em detrimento de outros modais.
“Hoje as grandes cidades vivem um paradoxo. Quem mais precisa do carro é justamente aquele que está distante do eixo central. E, quem está no centro, tem melhor poder aquisitivo e recorre ao transporte individual, inclusive para pequenos trajetos. São necessárias políticas públicas para quebrar esse ciclo”, destaca o arquiteto, salientando a importância de integração das diversas opções de transporte disponíveis hoje para garantir a retomada do desenvolvimento nesses locais.
Economia
O médico e professor Paulo Poli trabalha em três locais distintos abriu mão do transporte individual. Ele e a família usam outros meios de locomoção e, para eles, o custo com um automóvel equivale a uma viagem internacional.
O médico de Família e Comunidade Paulo Poli é uma das pessoas que abriu mão do transporte individual e hoje investe em outras alternativas de deslocamento, como a bicicleta, ônibus e os deslocamentos a pé. “Ando muito de bike e não me preocupo com o tempo. Se chover ou se a distância é longa, é muito fácil pegar um ônibus”, explica.
Poli trabalha em três locais diferentes – além de atuar como médico, ele é professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e gerente médico em um plano de saúde em Curitiba – e afirma que, além de uma questão de sustentabilidade urbana, é uma forma de economizar. “É uma viagem para a Europa por ano. O maior custo de um automóvel é a desvalorização. As pessoas não consideram essa perda na hora de fazer a conta. E tem ainda seguro, impostos, combustível”, justifica. Ele conta que sua esposa, Bianca Forreque, que também é médica de família, compartilha da mesma filosofia, que já estão ensinando ao filho, João Pedro, de 1 ano e 3 meses.
A aposentada Silvete Stockchneider sempre optou pelo transporte coletivo, mesmo com carteira de habilitação. Até o ano passado, usava diariamente para ir ao trabalho. Para Silvete, é mais prático e fácil, especialmente quando precisa ir ao Centro de Curitiba. “É difícil estacionar na região. E eu aproveito para ir a vários lugares. Assim fico mais livre para circular”, explica.
A diarista Neusa Ferreira da Silva também vê vantagens, inclusive a rapidez de deslocamento em alguns locais onde o tráfego de veículos é intenso e há vias exclusivas para os ônibus. “Uma das coisas boas é a pontualidade, dificilmente atrasa e há vários ônibus disponíveis. Isso facilita muito a vida da gente”, comenta ela, que circula por diversos bairros de Curitiba e municípios da Região Metropolitana para trabalhar.
Gazeta do Povo