Falta de mobilidade urbana influencia negativamente a qualidade de vida

Uma pesquisa apresentada nesta quarta-feira (19) na Câmara dos Deputados, em Brasília, mostra que a a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas são afetados negativamente se a mobilidade urbana é precária. Outra conclusão do estudo é que medidas para melhorar a malha urbana dos bairros são necessárias para permitir que os moradores tenham uma mobilidade saudável. 
Foto: Ilustração/UNIBUS RN
O resultado destaa pesquisa foi apresentado em uma conferência promovida pela Comissão de Desenvolvimento Urbano da Câmara, em conjunto com a Universidade de Brasília (UnB).
A UnB participou do levantamento sobre mobilidade, que também contou com outras instituições como as universidades federais do Rio Grande do Sul (UFRGS) e de Santa Catarina (UFSC) e a Oxford Brookes University, da Inglaterra.
Caminhada e bicicleta
O estudo aponta, por exemplo, a necessidade de se reduzirem os deslocamentos pela cidade e de se ampliarem atividades locais, de modo que a caminhada e o ciclismo prosperem. A pesquisa analisou três cidades do Brasil: Brasília, Porto Alegre e Florianópolis, além da cidade inglesa de Oxford. Apesar das diferenças de realidade, foram relatadas queixas em todos os locais pesquisados, como aponta o professor Julio Vargas, da UFRGS.
“Oxford é quase como uma cidade de conto de fadas, cidade do Harry Potter, tipo uma cidade de boneca. Mas eles, os ingleses, também se acham atrasados em relação à Holanda, Dinamarca e até mesmo à Alemanha, onde a prioridade para a qualidade de vida no trânsito – o transporte público é excelente, metrôs, trens, tem de tudo – é muito maior. O que a gente aprende com Oxford é que, mesmo quem está em boa condição, também tem problemas e demonstra a insatisfação com a falta de ciclovia, calçada quebrada e transporte público ineficiente”, disse.
O professor Vargas disse ser possível afirmar que o padrão de mobilidade urbana influencia na qualidade de vida e na saúde física e mental. E se for favorável, até pode diminuir o custo de tratamentos de saúde, ao previnir casos de obesidade, diabetes – doenças associadas ao estilo de vida. 
Segundo a pesquisa, a caminhada foi a opção de mobilidade mais frequente em uma das regiões administrativas distantes do centro de Brasília, o Varjão. Isso, por necessidade. Já no bairro de classe média Menino Deus, em Porto Alegre, a caminhada é muito usada por comodidade, já que a região, centralizada, proporciona diversidade de serviços aos moradores.
Crítica política
O professor Hartmut Günther, da UnB, disse que o resultado da pesquisa aponta para a construção de uma conscientização para mais ações de mobilidade, mas apontou para o problema da falta de continuidade administrativa nas ações.
“A tragédia, por assim dizer, do Brasil, é que temos muitas leis boas. No fundo, se sabem os problemas e potenciais soluções, mas não se faz. Se não se faz, é por ganância, por vaidade. Quer dizer, tem que ser na minha gestão e não na sua”, ironizou o professor.
Já Nestor Saavedra, que leciona na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, explicou que a mobilidade urbana se baseia no tripé infraestrutura, educação e fiscalização. Segundo ele, no Brasil falta educação para o trânsito. E acrescenta que, em Curitiba, uma atuação entre o poder público, universidades e a rede pública de educação trouxe bons resultados que deram noção de pertencimento à comunidade escolar.
“Eles passaram a ser agentes ativos até na organização do trânsito ao redor das escolas, inclusive sugerindo para a Secretaria de Trânsito de Curitiba intervenções de infraestrutura no meio urbano”, observou.
Orçamento
Segundo o deputado Gustavo Fruet (PDT-PR), que requereu o seminário na Câmara, “isto ajuda muito quando se pensa em destinação de orçamento. Cada vez mais os governos centrais, no caso o governo federal, têm que ter participação mais ativa, quando se pensa em mobilidade e investimento em infraestrutura. Ajuda a priorizar projetos baseados em pesquisas que mostram o comportamento e o padrão de ocupação do espaço urbano”, afirmou. 
Para Fruet, com o advento do Movimento Cidades Saudáveis da Organização Mundial da Saúde (OMS), esse debate se aprofundou. Nos últimos anos, a Comissão de Desenvolvimento Urbano discutiu o Estatuto das Cidades. Sobre mobilidade urbana, a Comissão aprovou em 2016 o plano de contingência em mobilidade urbana. Desde abril, o texto está em comissão especial (PL 4881/12). O projeto institui as diretrizes da Política Metropolitana de Mobilidade Urbana (PMMU), cria o Pacto Metropolitano da Mobilidade Urbana e o Sistema de Informações dos Transportes Metropolitanos (Sitram).
Brasília e Oxford
Neste estudo, três locais diferentes de cada cidade foram analisados. Em Brasília, por exemplo, foram analisadas duas quadras residenciais da Asa Sul (SQS 409 e 410), o Varjão e a Vila Planalto. Na Asa Sul se verificou a existência de espaços verdes, atividade comerciais próximas e infraestrutura para bicicletas. 
O Varjão está distante do centro da cidade e tem infraestrutura precária e a Vila Planalto, apesar de próxima ao centro, é separada por vias movimentadas, o que dificulta o acesso. Entre as diferenças mais visíveis, verificou-se o maior uso de automóvel na Asa Sul e de transporte público nas outras cidades. Na Vila Planalto a bicicleta é muito mais usada, mas é quatro vezes menos usada do que em Oxford, na Inglaterra.
Mobilize Brasil

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