Especialistas criticam declarações de Bolsonaro sobre aulas de autoescola

As declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre o grau de importância de aulas em autoescolas para a obtenção da carteira de habilitação recebeu críticas de especialistas, para quem uma eventual mudança que encerrasse a exigência das aulas poderia ser classificada como desastrosa para a segurança no trânsito.
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Em live no Facebook, o presidente disse que aprendeu a dirigir quando era criança e que as aulas não precisariam ser cobradas. “Eu, com 10 anos de idade, aprendi a dirigir trator na fazenda em Eldorado Paulista. E acho que nem devia ter exame de nada. Parte escrita apenas e ir para prática logo. Não tem que cursar autoescola, ter aula de um monte de coisa que já sabe o que vai acontecer. Então, deveria ter uma prova prática e uma prova escrita ali. Seria o suficiente para tirar a carteira de habilitação. Mas vamos deixar isso para um segundo momento”.
O ex-presidente da Comissão de Direito Viário da seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Mauricio Januzzi Santos lembra que o curso, além de falar sobre a mecânica do veículo, discorre sobre sinalização, direitos e deveres do condutor. “Não conheço pessoas que naturalmente sejam experts em legislação de trânsito. O curso é preparatório para se operar uma máquina, que é o carro, e para que ele seja manejado com segurança para o motorista e para os demais”, disse ao Estado.
Acabar com esse formato de ensino, diz Santos, seria um “retrocesso” e uma “barbaridade”. “O ensino atual já é deficiente. Imagine se tirar o que se tem.”
O consultor em segurança no trânsito Horácio Augusto Figueira lembra que, apesar de o ensino de pai para filho ter sido uma prática relativamente comum no passado, ela permanece não sendo recomendada. Além disso, a realidade do trânsito mudou bruscamente entre o período em que Bolsonaro aprendeu a dirigir e os tempos atuais, com destaque para a intensificação na circulação de veículos em razão do crescimento da frota.
“As partes teóricas e práticas são fundamentais. É preciso que sejam explicados os conceitos básicos de movimento, distância de frenagem, regras de circulação, placas de sinalização, orientação e advertência”, diz Figueira. “Alguém precisa informar ao presidente que uma pessoa morta no trânsito custa muito. Mudar essa obrigação é ir na contramão baseado em achismo. Em nome da segurança, espero que isso não avance.”
A fala do presidente entrou no contexto de várias medidas que ele tem a intenção de fazer para baratear o custo para tirar a CNH. Uma delas foi o fim dos simuladores na autoescolas. “Eu espero que a Câmara não bote a obrigação dos simuladores de novo. Porque tem muito sentido espúrio nisso aí.”
O Estado de SP

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