Mobilidade inteligente: Sinal aberto para os ônibus

Os semáforos fazem parte da paisagem urbana e são um dos principais instrumentos para controle e ordenamento do tráfego nas cidades, determinando o fluxo de veículos nas vias. Sistemas semafóricos convencionais têm o tempo das fases (vermelho, amarelo e verde) programados previamente, baseado no estudo de demanda de tráfego. Em geral, as avenidas com tráfego maior têm o tempo da fase verde mais longo do que as vias transversais com menor fluxo, abrindo e fechando da mesma forma mesmo que haja variação do número de veículos. Além disso, na maioria das vezes, os semáforos funcionam de forma independente; sem comunicação entre os dispositivos, pode haver situações indesejáveis como o motorista pegar um semáforo vermelho e, no semáforo seguinte, ter que parar novamente.
Numa grande cidade como São Paulo, dependendo das condições de tráfego, um veículo fica de 20% a 30% do tempo de percurso parado, em média, por conta dos semáforos. O cálculo é do professor doutor do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e coordenador do Grupo de Pesquisa em Mobilidade Inteligente e Eletrônica Automotiva, Leopoldo Rideki Yoshioka.
Um dos temas examinados são os semáforos inteligentes. Diferentemente dos modelos convencionais, semáforos inteligentes são equipamentos que operam a partir de plataformas tecnológicas baseadas em inteligência artificial, que processam todas as informações de fluxo das vias e determinam qual é a melhor programação para os tempos de operação. Os elementos importantes de um sistema de semáforo inteligente são os detectores de comprimento de fila, detectores de fluxo (medem a velocidade média dos veículos), uma rede de comunicação que interconecta os controladores dos semáforos a um computador central e, finalmente, um software que faz o controle inteligente do conjunto.
“Esse sistema acarreta uma diminuição dos congestionamentos e acidentes em grandes cidades, pois no momento em que o veículo passa pelo sensor, os dados são enviados para o controlador de tráfego, que monitora os intervalos que o semáforo deve operar, para gerar uma melhor circulação”, explica o diretor comercial da empresa Dataprom, Jaílson Felisbino, que atua em soluções inteligentes para a mobilidade urbana nas cidades.
Um ponto importante é que o semáforo inteligente pode ter outra funcionalidade, a priorização semafórica. O recurso é utilizado, por exemplo, para dar prioridade à passagem de veículos de emergência como ambulâncias, caminhões de bombeiros e até mesmo ônibus do transporte público, como é feito em algumas cidades do Brasil.
A aplicação de semáforos inteligentes e priorização semafórica do transporte público ajuda a reduzir o tempo de viagem e uniformizar o tempo de espera nos pontos de parada. Ou seja, aumenta a confiabilidade do transporte público, melhorando a percepção de qualidade do serviço pelos usuários do sistema. De modo geral, a tecnologia é aplicada nos corredores de ônibus com um número significativo de cruzamentos semaforizados.
No caso de corredores com frequência baixa de serviços pode-se aplicar a prioridade incondicional, que dá sempre a prioridade ao ônibus, sem causar muito impacto no trânsito transversal. “Entretanto, se a frequência dos serviços for elevada, será preciso aplicar a prioridade condicional, ou seja, a prioridade é aplicada somente em caso de necessidade como veículo lotado ou atrasado em relação à programação. Caso contrário, o trânsito das vias transversais será extremamente prejudicado”, destaca o professor Leopoldo Yoshioka.
Priorização semafórica para ônibus: Várias cidades brasileiras possuem a tecnologia nas vias para melhorar o fluxo do trânsito e priorizar o transporte por ônibus, como é o caso de Curitiba. Por lá, o sistema está presente na área central da cidade e nos principais eixos de ligações com os bairros e Região Metropolitana, beneficiando mais de 3,5 milhões de pessoas. Os semáforos inteligentes dão preferência ao transporte coletivo quando identifica que este está atrasado, em relação à tabela horária, ou seja, o sistema identifica o ônibus e, em questão de milésimos de segundos, verifica se o veículo necessita de prioridade na travessia do cruzamento. Isso permite uma viagem mais ágil aos usuários do transporte coletivo.
Além da redução dos congestionamentos e do aumento da velocidade do trânsito, os cidadãos se deslocam com maior agilidade, ganhando mais tempo para as atividades diárias. “Os semáforos inteligentes proporcionam mais segurança aos pedestres no momento da travessia nos cruzamentos, pois possuem dispositivos que são capazes de identificar pessoas com mobilidade reduzida e, assim, ampliar o tempo disponível para uma travessia mais tranquila e segura, sem que isso impacte na fluidez do trânsito de veículos”, afirma o representante da Dataprom.
Em Recife, os cinco semáforos inteligentes e as dez câmeras de videomonitoramento instalados na BR-101, em Abreu e Lima, realizam o monitoramento do tráfego de veículos por meio de câmeras, coletando dados e enviando para a central de controle. O gerenciamento ocorre de forma automática e independente de um operador, otimizando o fluxo pela estrada. “Apesar disso, há também a possibilidade de intervenção humana, caso haja alguma situação atípica como um protesto na via, por exemplo, o que acarretaria em indicação de excesso de pedestres, podendo resultar em sinal vermelho com tempo excessivo para veículos”, explicam os analistas de Infraestrutura do DNIT/PE, Lincolin Oliveira e Bruno Lezan.
O investimento de R$ 2 milhões no sistema resultou num acréscimo de até 50% na velocidade média dos veículos que trafegam no trecho urbano do município, o que reduziu a retenção na região. A implantação de novos semáforos para diminuir os congestionamentos nas rodovias do Estado de Pernambuco ainda está em análise pelo órgão, dependendo de disponibilidade orçamentária para a efetivação.
No Rio de Janeiro, a redução do tempo de viagem para os usuários do transporte público e a diminuição da emissão de poluentes atmosféricos levou a Companhia de Engenharia de Tráfego do Rio de Janeiro (CET-Rio) a instalar dois tipos de semáforos inteligentes. O primeiro dá prioridade para os ônibus nos corredores de circulação do BRT. Esse sistema detecta a presença do ônibus se aproximando do semáforo e estende o tempo para o veículo passar se estiver no fim do tempo de verde do estágio ou antecipa a abertura do tempo do semáforo para reduzir a espera dos ônibus.
O outro sistema, do tipo adaptativo, também foi instalado nos principais cruzamentos do corredor BRT e em outros pontos da cidade. Nele, câmeras registram as filas de veículos nas aproximações e ajustam o tempo de luz verde de acordo com a demanda veicular. O investimento na tecnologia presente em 179 cruzamentos da cidade foi de R$ 25 milhões.
O órgão já planeja novos investimentos para o trânsito, como afirma a coordenadora técnica de Monitoramento de Tráfego da CET-Rio, Cátia Nunes Poyares. “A CET-Rio, no momento, está testando novos sistemas para otimizar os tempos semafóricos para avaliar posterior implantação. Estamos sempre buscando melhorar os serviços prestados à população garantindo um tráfego com fluidez e segurança”.
Os primeiros semáforos inteligentes implantados pela Superintendência de Trânsito de Salvador (Transalvador) começaram a ser utilizados em maio de 2017 na capital baiana. O sistema leva em consideração medições prévias e a realidade do momento, como um acidente ou um congestionamento atípico, assimilando os comandos dos operadores e projetando mudanças automáticas em casos semelhantes. O controle é feito no Núcleo de Operação Assistida (NOA), que monitora o tráfego 24h por dia, por meio de câmeras de videomonitoramento instaladas em diversos pontos da cidade.
Atualmente, Salvador conta com 128 semáforos inteligentes controlando 64 cruzamentos. Há projetos para a instalação de novos equipamentos com prioridade para ônibus do BRT, mas ainda sem previsão. O Superintendente de Trânsito de Salvador, Fabrizio Müller Martinez, lista as vantagens nas vias com o sistema. “Os benefícios vêm para o trânsito da cidade como um todo, não apenas para o transporte público. A utilização de semáforos inteligentes tem auxiliado na melhoria da mobilidade e na redução do tempo de deslocamento. Após a implantação, foi percebido um aumento de 30% na velocidade média registrada nos pontos onde os equipamentos estão disponíveis”.
Princípios norteadores da Mobilidade Inteligente: O conceito de mobilidade inteligente tem como base a aplicação das tecnologias digitais, mas não se trata somente de uma questão tecnológica — trata-se, essencialmente, de uma nova visão de sociedade e de cidades conectadas, que potencializam as oportunidades das pessoas de realizar os deslocamentos desejados. As inovações tornam as viagens mais eficientes, previsíveis e proporcionam tempos de viagens menores, reduzindo eventuais atrasos.
O professor Leopoldo Rideki Yoshioka elenca alguns princípios norteadores da mobilidade inteligente, que devem ser analisados e assimilados por toda a comunidade:
1 – A mobilidade é um direito inalienável de todos nós.
2 – A mobilidade implica deveres e responsabilidades.
3 – A mobilidade tem uma hierarquia. Primeiro os pedestres, com prioridade para aqueles com necessidades especiais. Depois os ciclistas, com menor prioridade para aqueles com assistência elétrica e os motociclistas, com menor prioridade para os de maior cilindrada. Os ônibus vêm logo após, com maior prioridade para os de maior ocupação, com maior atraso e aqueles que vêm de regiões mais distantes. Depois as vans e caminhões de carga de acordo com o horário. E só por último os automóveis, com prioridade para aqueles de maior ocupação e com mais passageiros.
4 – Os veículos conectados e os veículos autônomos (quando estiverem disponíveis, no futuro) devem priorizar a segurança das pessoas, em especial dos pedestres e dos ocupantes dos outros veículos; a segurança dos ocupantes do próprio veículo; o bem-estar da coletividade; o bem-estar dos ocupantes do veículo; e ser amigável ao meio ambiente, entre outros requisitos.
5 – Quanto aos dados transacionais do processo de mobilidade, a privacidade deve ser inviolável; o coletor dos dados tem a responsabilidade de proteger as informações dos usuários e o poder público deve fiscalizar o cumprimento das normas. Os dados coletados devem ser descaracterizados e anônimos para serem disponibilizados a pesquisadores, a fim de melhorar as ações operacionais e desenvolver tecnologias de mobilidade.
6 – Quanto à aplicação de Algoritmos de Inteligência Artificial, deve ser proibida a utilização dessa tecnologia para prejudicar um indivíduo ou a coletividade. O algoritmo de inteligência artificial não pode ser uma caixa-preta total e deve ser auditável.
Fonte: NTU

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