Kelly Cristina de Oliveira Silva, 27, estudava em cursinho vestibular popular no centro de São Paulo até agosto deste ano, quando teve de parar de assistir as aulas. O problema: o alto peso do custo do transporte em seu orçamento diário.
Foto: Adeleke Anthony Fote/TheNews2/Folhapress |
Para tentar reverter esse fenômeno, estudantes de cursinhos universitários populares e comunitários pressionam a prefeitura de São Paulo pela sanção de um projeto de lei que concede passagens gratuitas de ônibus a esse público.
O preço do transporte público é visto por esses cursinhos como um forte componente de evasão das aulas dos alunos de baixa renda que tentam ingressar no ensino superior. Na última sexta-feira (25), estudantes fizeram uma manifestação em frente à prefeitura.
Kelly, moradora do bairro Jardim Souza, próximo à represa Guarapiranga na zona sul, costumava gastar 1h40 no ônibus para chegar às aulas na Liberdade. Um trajeto mais rápido poderia ser feito usando, além do ônibus, o Metrô. Mas se pagasse a mais para fazer a integração, o dinheiro faltaria no final da semana.
“Condução é um gasto muito alto. Tinha também o custo do lanche, às vezes precisava ir para alguma exposição ou museu para complementar o estudo. Então, era sempre um novo gasto”.
O aperto foi assim até que o dinheiro acabou; hoje Kelly estuda para o Enem em casa.
O caso de Kelly é semelhante ao da estudante Katharina Nascimento, 17, que também saiu de um cursinho comunitário por não ter dinheiro para o transporte. Hoje, ela também estuda em casa, enquanto cuida do irmão mais novo.
A expectativa dos alunos de cursinhos populares se baseia no projeto de lei aprovado neste mês pela Câmara Municipal de São Paulo. O projeto concede gratuidade no transporte municipal aos estudantes de cursinhos comunitários, de cursinhos pré-vestibular em geral e aos alunos de cursos técnicos.
Segundo o projeto, a gratuidade deverá ser destinada aos alunos que declarem ter renda familiar per capita de até R$ 1.182. O projeto de lei ainda prevê convênios com o governo do Estado para que os estudantes possam ter passe livre também no Metrô e na CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).
O projeto aguarda sanção do prefeito Bruno Covas (PSDB), que está internado em São Paulo com um diagnóstico de câncer.
Durante a tramitação, o projeto recebeu apoio de vereadores de diferentes partidos como PT, PSOL e até do PSDB, com o voto do presidente da Câmara, Eduardo Tuma.
Segundo a Frente de Cursinhos Populares, anualmente cerca de 15 mil estudantes frequentam cursinhos populares em 101 instituições na cidade. A instituição calculou entre R$ 11 milhões e R$ 14 milhões os custos da cidade com a gratuidade dos estudantes dos cursinhos populares. Para os cursinhos populares, o valor é pequeno frente ao orçamento do município e ao impacto que teria sobre a educação.
Folha de SP