Esperar ônibus no horário em que a maioria das pessoas já foi dormir ou sequer acordou. Essa é a realidade de pessoas em Fortaleza que precisam sair às ruas na madrugada em função, principalmente, do trabalho. A quantidade de passageiros nas 26 linhas que operam ônibus corujões na capital cearense é de 48.861 ao mês, em média, conforme dados da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor). Esse total equivale a menos de 1% da demanda de usuários do transporte coletivo de Fortaleza.
Foto: Ivam Santos/Fortalbus – Ilustração |
A oferta de transporte público no horário especial noturno – 0h às 4h – em Fortaleza é uma obrigação das empresas de ônibus prevista na Lei Municipal 7.163, de 1992. O transporte complementar – topiques – não tem essa obrigação e opera hoje, 25 linhas das 4h30 até a meia noite, segundo a Cooperativa dos Transportadores Autônomos de Passageiros do Estado do Ceará.
Diferentemente do que muitas vezes se imagina, nos corujões há lotação em algumas linhas, sobretudo, no início da madrugada. Isto, porque, de acordo com os passageiros, apesar das alternativas de transporte como os aplicativos de carros particulares, os corujões continuam sendo a única possibilidade para grande parte dos trabalhadores.
Realidade das viagens
Os passageiros são, dentre outros, funcionários de restaurantes, vigilantes e empregados de supermercado que fazem uso dos 31 ônibus corujões distribuídos nas 26 linhas que operam na capital cearense. É principalmente esse público que, a partir da meia noite, segue esperando os coletivos, cujas chegadas e partidas, a depender da linha, variam de 40 minutos a 2 horas e 15 minutos, conforme dados da Etufor.
O operador de caixa Ocivan Vieira é um dos passageiros que diariamente precisa utilizar o corujão. Em geral, ele sai do trabalho por volta de 1h30min e, no terminal do Bairro Papicu, aguarda até as 2h40min para seguir rumo ao Bairro Castelão. A chegada em casa, conta ele, ocorre volta das 3h. “Geralmente são as mesmas pessoas e a gente já conhece todo mundo que pega. No ônibus que eu pego é tranquilo o caminho, as pessoas sabem mais ou menos quem vai subir. Quando sobe alguém estranho é que a gente tem receio”, conta.
Ele explica também que, por volta da meia noite, os coletivos são lotados, tanto na saída dos terminais como nas paradas. A opinião é reiterada pelo garçom Mateus Jesus, também usuário dos corujões. Ele garante que apesar dos longos intervalos, os coletivos desse horário são pontuais e acrescenta que o medo é sentimento constante em quem se desloca nessa hora do dia. “A insegurança é em Fortaleza toda. Eu moro no Castelão e sabe como é, a gente sempre pede a Deus coragem e que ele nos guarde na rotina de viagem”.
A funcionária de supermercado Clarice Pereira também utiliza corujões e reafirma a lotação no início da madrugada. “É complicado porque a gente vai em pé até chegar na Parangaba. E tem esses (homens) que passam encostando na gente. Se a gente for reclamar, ainda é capaz de ser agredida”, ressalta ela.
Demanda constante
Em nota a Etufor informou que “a oferta do serviço corujão deve se manter ativa, porém é bem reduzida em relação às linhas normais”. Além dos trabalhadores que carecem desse tipo transporte, a Etufor esclarece que os corujões servem também as pessoas que buscam “serviços emergenciais, como, por exemplo, hospitais” durante a madrugada.
Para o gerente de planejamento do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus), Sá Júnior, a demanda por corujões é baixa e a oferta de transporte na madrugada “é considerada como um serviço de caráter social”.
Questionado sobre o estabelecimento das rotas, ele explica que os trajetos foram definidos há muitos anos e abrangem a maior área possível. A última mudança nas linhas, segundo ele, ocorreu em 2013. “As rotas foram desenhadas de modo a permitir que as pessoas, aonde quer que estejam, tenham acesso à rede e possam, através dos terminais, chegarem a maioria dos bairros de Fortaleza”.
O representante da Sindiônibus também afirmou que a segurança da operacionalização das rotas dos coletivos durante a madrugada, “é relativamente calma e não existe registros de grandes problemas”. As maiores adversidades, ressalta ele, ocorrem quando há queima de coletivos em Fortaleza, como aconteceu nos meses de janeiro e setembro de 2019.
G1 Ceará