As cidades brasileiras ainda mantêm as políticas de prioridade ao transporte individual em vez de investirem de fato nos deslocamentos coletivos. Os resultados são viagens mais demoradas nos ônibus e poucas redes de trilhos.
Foto: Ilustração/Arquivo/UNIBUS RN |
Um levantamento do aplicativo de mobilidade Moovit divulgado nesta quarta-feira, 15 de janeiro de 2020, reforça esta realidade.
O ranking leva em conta os tempos de deslocamentos de 99 cidades em 25 países. O Rio de Janeiro é a terceira cidade do mundo onde as pessoas ficam mais tempo no transporte público e a primeira cidade brasileira no ranking: em média, as viagens demoram 1 hora e 7 minutos por sentido de viagem.
Apesar de haver serviços de Metrô, dos trens da SuperVia e os corredores BRTs, além das faixas BRSs, a rede que dá prioridade ao transporte coletivo é considerada insuficiente para a cidade. O BRT também apresenta problemas estruturais, como pavimento inadequado para tráfego de ônibus, com vários trechos de asfalto em vez de concreto, e é alvo de vandalismo constante e de problemas relacionados à segurança pública, com ataques a ônibus e estações.
Ainda entre as cidades brasileiras, Recife é o segundo lugar onde mais as pessoas ficam nos coletivos: uma hora e dois minutos. No local há corredores e faixas de ônibus, além de um sistema de trilhos gerido pela CBTU – Companhia Brasileira de Trens Urbanos. Mas as linhas de ônibus em corredores e o Metrô não têm a abrangência considerada necessária pela população e há problemas operacionais. Além disso, em alguns trechos, o sistema de corredores é simples, com menor eficiência que um BRT – Bus Rapid Transit de fato.
Segundo o levantamento com dados de 2019, São Paulo empata com Recife: uma hora e dois minutos também, em média, é o tempo que as pessoas ficam dentro do transporte público.
A cidade é a maior do Brasil, com 12,2 milhões de pessoas e oito milhões de veículos. Além de as distâncias serem bem grandes, devido a extensão da cidade e da região metropolitana, a prioridade ao transporte coletivo é pequena diante das necessidades da população. A cidade de São Paulo tem 17 mil km de vias, mas apenas 500 km são faixas preferenciais para ônibus (com o compartilhamento com os táxis e conversões à direita de veículos, não são exclusivas de fato) e somente 140 km são corredores. Destes 140 km, a maior parte se limita a ser uma faixa à esquerda. Apensas oito km são BRTs – Bus Rapid Transit, que é o Expresso Tiradentes (antigo Fura-Fila), entre o Terminal Mercado, região central de São Paulo, e o Terminal Sacomã, na região Sudeste. São em torno de 13 mil ônibus que transportam 9,5 milhões de passageiros nos dias úteis (cada embarque é um passageiro, assim, para o sistema, uma única pessoa pode ser mais de um passageiro). A CPTM – Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, que atende a 23 cidade na Grande São Paulo, tem 270 Km de trilhos e a rede metroviária, que inclui Metrô de São Paulo (linhas 1,2 e 3), Via Quatro (linha 4) ,Via Mobilidade (linha 5) e o monotrilho (linha 15) soma 111 km. Falhas operacionais “notáveis” em trens e sistemas acabam sendo praticamente diárias na rede de trilhos de São Paulo.
A cidade no mundo onde os passageiros ficam mais tempo por sentido no transporte coletivo é Istambul, na Turquia, com uma hora e 12 minutos e a segunda é a capital mexicana, Cidade do México, com uma hora e nove minutos.
O levantamento levou em conta o tempo de circulação dos coletivos, o tempo de espera e o tempo gasto até pontos, terminais ou estações.
Assim, a necessidade de as pessoas fazerem longas caminhadas até as paradas também influenciou no resultado.
A NTU, associação que reúne mais 500 viações em todo o País, apresentou no ano passado num evento da ANTP – Associação Nacional de Transportes Públicos, uma proposta para que o Governo Federal aporte para os estados e municípios R$ 18,7 bilhões até 2024 para a implantação de 8.899 quilômetros de faixas, corredores de ônibus centrais comuns e BRTs – Bus Rapid Transit.
Os investimentos seriam direcionados para 112 cidades brasileiras com mais de 250 mil habitantes.
O custo seria de R$ 18,7 bilhões em quatro anos, mas os ganhos seriam de R$ 11,5 bilhões por ano com viagens mais rápidas, menor poluição e economia de insumos de operações, segundo a proposta.
Segundo a apresentação, somente com mais faixas e corredores de ônibus, tarifas poderiam ser 25% mais baixas.
Diário do Transporte