O acidente do carnaval de 1984 em Natal e a “quase” prisão do responsável 37 anos depois

Do Blog2m
Fotos: Acervo

Muita gente pensou que a “tragédia do Baldo” iria ter um fim na última semana, com a prisão de um homem suspeito de ser Aluízio Farias Batista, motorista da empresa Guanabara que atropelou 19 pessoas, e feriu gravemente 12, enquanto elas brincavam em um bloco de carnaval, à 0h50, durante o carnaval de 25 de fevereiro de 1984, em Natal.

Na terça-feira (26 de janeiro), após uma denúncia anônima, um morador de rua foi preso por policiais militares do Batalhão de Operações especiais (Bope) acusado de ser o motorista – que segue foragido 37 anos após o crime. O morador de rua cegou a confessar que era Aluízio, mas mesmo assim foi encaminhado para o Instituto Técnico-Científico de Perícia (ITEP-RN) para a confirmação.

As digitais do morador de rua não coincidiram com as do motorista Aluízio, que também segue com mandado de prisão em aberto com validade até o ano de 2029.

O acidente

Cerca de mil integrantes do bloco Puxa-Saco se divertiam quando foram atingidos por um ônibus desgovernado da empresa Guanabara no momento em que subiam a ladeira da Avenida Rio Branco, entre o Baldo e o Centro da cidade. O ônibus vinha do Alecrim e ia para as Rocas com componentes da Escola de Samba Malandros do Morro e instantes antes havia tentado desviar de um fusca que estava um pouco atrás do bloco.

O fusca foi atingido na traseira, ficando a maior colisão para o momento seguida, quando 19 pessoas morreram, dentre elas músicos da banda que tinha como membros militares da Polícia Militar e do Exército.

O desespero que tomou conta após o ocorrido contribuiu para que outro acidente acontecesse naquela madrugada. A kombi que transportava um sargento do Exército gravemente ferido para o Hospital Walfredo Gurgel colidiu com um fusca quando passava em frente ao então Hotel Tirol, na esquina das Avenidas Hermes da Fonseca com a Alexandrino de Alencar. O sargento faleceu na hora.

A tragédia é considerada uma das maiores do Estado, e chocou a opinião pública pelo número de vítimas.

O que motivou

Através de um acordo com empresas de ônibus, a Prefeitura de Natal disponibilizara transportes exclusivamente para os foliões e para as bandinhas que se apresentavam nos blocos e eventos no período.

Aluízio era um dos motoristas de ônibus da empresa Guanabara. Ele recebeu a informação de que, naquele dia, iria trabalhar além do expediente para cumprir o acordo com a Prefeitura, e isso o deixou bastante irritado. Ele iria transportar metade dos integrantes da escola de samba Malandros do Morro do Alecrim para as Rocas. Segundo relatos, os integrantes da escola estavam animados dentro do ônibus, cantando e tocando, diferente do perfil inconformado do motorista.

Neste momento, o bloco Puxa-Saco caminhava animado ao som de sucessos tocados da bandinha para dispersar na Praia do Meio, com previsão de que a folia naquela madrugada seguisse até o amanhecer do dia.

Já dentro do ônibus, os ânimos estavam exaltados, com integrantes da escola animados versus motorista estressado, ocorrendo uma discussões. Os integrantes da escola de samba começaram a puxar a corda de campainha do ônibus, o que deixou Aluízio ainda mais nervoso. O motorista então acelerou o ônibus e dirigiu em alta velocidade pelas ruas de Natal, sem respeitar nem mesmo os semáforos, prestes à perder o controle. No percurso, ele teria ouvido reclamações dos passageiros e teria respondido que “se tiver que morrer, morre todo mundo”.

Ao continuar com a direção perigosa rumo ao bairro das Rocas, o ônibus bateu em um Fusca, que estava estacionado no canteiro, nas proximidades do então recém-inaugurado Viaduto do Baldo, bem onde estavam os foliões do bloco Puxa-Saco, que havia feito uma parada para que os integrantes procurassem o banheiro, comprassem bebidas e lanches antes de seguir para a Praia do Meio.

Ao bater no fusca, o ônibus perdeu o controle e foi em direção ao bloco, invadindo o lado da pista onde os quase 5 mil foliões se divertiam, atingindo a eles como bonecos, e jogando-os por vários metros. O ônibus passou em alta velocidade pelo meio do bloco, vitimando pessoas por em um trecho de mais de 80 metros até a subida da Av. Rio Branco.

No alto da Rio Branco, Aluízio abandonou o ônibus, mas o veículo desceu sozinho a ladeira, atingindo até quem estava ajudava os feridos. De acordo com os relatos, era possível ouvir o estralar de ossos das vítimas. A tragédia só não foi ainda maior, graças a Adailson Pereira de Oliveira, que conseguiu subir no coletivo e puxar o freio de mão, parando o ônibus imediatamente.

Após o acidente, Aluízio fugiu, chegou a ser preso três dias depois, pagou fiança, fugiu novamente, e nunca mais foi encontrado. Em 15 de maio de 2009 ele foi condenado a 21 anos de prisão em regime fechado, mas a prisão nunca aconteceu.

O acidente já foi tema do antigo programa Linha Direta, da Rede Globo, em 2005.

Com informações da Tribuna do Norte e do Curiozzzo

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