Crise no transporte público de Natal piora em meio à pandemia

Da Tribuna do Norte
Foto: Thiago Martins/UNIBUS RN/Ilustração

A problemática do transporte público de passageiros está mais presente na pauta dos candidatos a prefeito de Natal do que nos pleitos anteriores. As propostas tratam de agilizar a licitação do sistema e chegam até à garantia de tarifa zero, de modo que chamaram a atenção da Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Nordeste (Fetronor). O presidente da entidade, Eudo Laranjeiras, explicou que as propostas são exequíveis, mas com a crise no setor, não se concretizariam de forma simples como tem sido colocado. Sem mudanças no que já foi posto, nova rodada de licitação pode voltar a ser deserta e, sem o poder público assumir parte dos riscos, não há perspectivas do sistema de transportes sair da crise.

A pandemia provocada pelo novo coronavírus agravou a crise do setor e expôs ainda mais o caos no transporte público, que passou a ser rejeitado devido à ideia de que se trata de um dos ambientes que provocaria aglomeração e aumentaria os riscos de contágio da doença. Com isso, houve redução da frota, de linhas e de horários, provocando menos circulação e mais aversão ao sistema. “As pessoas arrumaram outras opções de transporte ou saíram menos. Para retomar à atividade e enfrentar a crise, é preciso priorizar o transporte público”, pontuou Eudo Laranjeiras. Da parte do município, uma das formas de priorizar é dotar a cidade de pistas exclusivas para ônibus, que garantam maior agilidade nas viagens.

Mas as propostas apontadas no plano de governo dos candidatos vão além. Um dos postulantes a prefeito de Natal promete, em campanha, usar energia renovável em ônibus elétricos para atender a capital, viabilizando passagens gratuitas, começando pelos estudantes, depois usuários de baixa renda e, em três anos, toda a população. “De 2.901 municípios no Brasil, apenas em 14 tem tarifa zero. Mas em 12 deles, a população não chega a 60 mil habitantes, e o sistema tem pouquíssimas linhas, o que facilita a gratuidade. É mais uma decisão política do que técnica. Em grande parte dos casos, o custo é assumido pelas próprias prefeituras”, explicou o presidente da Fetronor.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) estima que Natal tenha 890.480 habitantes, cinco vezes mais habitantes do que Maricá/RJ, localizada a 60 km da capital, Rio de Janeiro. Foi o primeiro município brasileiro com mais de 100 mil habitantes a oferecer ônibus gratuito para a população. Desde dezembro de 2015, a Prefeitura assumiu a execução do serviço de transporte estatizado com tarifa zero. No entanto, esse modelo é operado em apenas uma parte da cidade e, nas demais regiões, o transporte é realizado por uma empresa privada que encerra o contrato em 2021. Por ano, Maricá investe R$ 15 milhões na tarifa zero.

A Empresa Pública de Transportes – EPT do município já está realizando a licitação para alugar mais coletivos, que inclui além do ônibus, motorista e combustível, para operar em novas linhas cobrindo então toda a cidade com a gratuidade. “Tarifa zero é possível. Outro município maior que banca o transporte é Volta Redonda/RJ, mas lá é apenas uma linha central gratuita. A opção por ônibus elétrico pode não ser viável porque custa muito mais que o ônibus comum”, ressaltou Eudo Laranjeiras, uma vez que a ideia de adotar tarifa zero em Natal passa pela inserção de ônibus elétricos no sistema. Segundo o candidato que faz a proposta, o custo de manutenção é menor e a energia para mover os veículos seria adquirida de forma mais barata que o diesel com as empresas de energia eólica e solar através de parceria.

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