Da Folha de SP
Foto: Arquivo/UNIBUS RN/Ilustração
Após 90 dias em quarentena, a arquiteta e consultora em acessibilidade Regina Cohen, 62, tomou coragem e saiu de casa com sua cadeira de rodas em Ipanema, zona sul do Rio de Janeiro. Os cuidados na prevenção contra o novo coronavírus foram somados a obstáculos que já estavam ali desde muito antes da pandemia, como buracos nas calçadas e falta de rampas.
“Eu já usei uma cadeira manual, mas, de alguns anos para cá, devido à deterioração das calçadas, passei a me mover em cadeira motorizada”, diz.As barreiras se estendem ao transporte coletivo. “No metrô, sempre preciso pedir ajuda a um funcionário”, diz, referindo-se à dificuldade de deslocamento nas estações.
Além de equipamentos mais eficientes que ajudam na locomoção, a tecnologia vem se mostrando uma grande aliada no desenvolvimento de soluções que tornem as cidades mais inclusivas.
O planejamento de rotas acessíveis é uma das soluções proposta pelo aplicativo Biomob, que fornece informações sobre acessibilidade de mais de 6.000 estabelecimentos, como restaurantes, mercados, teatros, hotéis, praças, museus e aeroportos no Brasil e no exterior.
Dentre os dados coletados, estão as condições de acesso e circulação interna, vagas de estacionamento, banheiros acessíveis e recursos para pessoas com deficiência auditiva e visual, segundo Valmir de Souza, 53, idealizador do aplicativo. As informações são inseridas de forma colaborativa por usuários, donos dos estabelecimentos e equipes treinadas pelo Biomob.
Outra proposta, desenvolvida na Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos), no Rio Grande de Sul, é o Projeto Hefestos, que há dez anos desenvolve soluções tecnológicas para pessoas com deficiência. Um dos protótipos é a cadeira de rodas integrada ao aplicativo do Hefestos, pelo qual o usuário pode encontrar recursos acessíveis ao seu redor como rampas de acesso e vaga de estacionamento.
A estudante Samira Silveira, 22, de Pelotas (RS), é cega e diz que locomover-se pela cidade é um desafio. Aplicativos como o Google Maps, que indicam o caminho com avisos sonoros, favorecem a autonomia, mas alguns ajustes ainda são necessários. “Se estou em uma rua, por exemplo, não consigo saber quais as outras ao redor.”
Nas paradas de ônibus, Samira também precisa pedir ajuda. Pensando nisso, a startup brasileira OnBoard Mobility desenvolveu um sistema de notificação que faz com que o motorista seja alertado sobre a presença de pessoas com deficiência visual no ponto. O usuário envia o aviso por um aplicativo indicando onde está, e o condutor pode parar o veículo identificando-o pelo nome, inclusive. A solução foi contratada em três cidades nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná, e a fase de implementação será a partir de janeiro de 2021.
Para Valmir de Souza, criador do Biomob, a acessibilidade também beneficia idosos, gestantes, mães com carrinho de bebê e obesos.
De acordo com o censo 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), cerca de 45,6 milhões de brasileiros vivem com algum tipo de deficiência.