Covid-19 já matou 69 motoristas de ônibus de São Paulo

Do BuzzFeed News
Foto: Rodrigo Paiva / Getty Images

Com base em levantamento feito nas 32 garagens de ônibus de São Paulo, o Sindimotoristas, sindicato que reúne os trabalhadores de transporte urbano, somou 69 profissionais mortos em decorrência do Covid-19 desde o início da pandemia.

A morte mais recente foi registrada no fim da tarde desta quarta-feira (19). A vítima é o diretor ambiental do sindicato, Manoel Teixeira Neto, de 68 anos. De acordo com o Sindimotoristas, há 246 casos confirmados da doença e 748 suspeitos.

“Fazemos o levantamento empresa por empresa. As regiões mais afetadas são as zonas sul e leste. Estes são dados exatos, que já levamos para a prefeitura”, disse o secretário-geral do sindicato, Francisco Xavier da Silva Filho, 44.

Ele mesmo já contraiu o novo coronavírus, tendo sido internado por dez dias em julho: “Afetou meu pulmão, meu fígado e meu coração. Fiquei tomando remédios até alguns dias atrás”, disse o sindicalista.

De acordo com o Sindimotoristas, a categoria reúne 60 mil profissionais, entre motoristas, cobradores, fiscais, técnicos e administrativos. Os motoristas que pertenciam ao grupo de risco, sobretudo os aposentados (15% do total dos trabalhadores), foram afastados das ruas, mas o risco de espalhamento da doença continua grande.

“É uma categoria de alto risco, temos de transportar as pessoas, é um serviço essencial. No início, tivemos de entrar na Justiça para receber os EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), como máscara e álcool em gel. Temos isso, mas não está sendo uma proteção suficiente”, disse Francisco.

O sindicato agora reivindica que os assentos dos motoristas e cobradores sejam protegidos por placas acrílicas para evitar maior contato com a população.

Para dirigir os 12,8 mil ônibus que circulam pela capital, um motorista recebe R$ 2,9 mil. Em caso de morte natural, a família recebe um seguro de R$ 21 mil. Se a morte por Covid-19 fosse enquadrada como acidente de trabalho, o seguro subiria para R$ 29 mil.

“O seguro deixa a família um pouco mais amparada, mas é uma situação muito dura. E, se não tivéssemos afastado as pessoas de alto risco, o número de mortes seria muito maior. Essa medida preservou vidas”, disse Francisco.

O sindicalista afirmou que a entidade apoiou a medida da prefeitura de São Paulo de não liberar as aulas no mês de setembro. “O momento não é adequado para isso. A volta às aulas seria um genocídio. Esta é a realidade.”

Questionada pelo BuzzFeed News sobre o número de mortes e contaminação dos motoristas e cobradores, a prefeitura enviou nota afirmando que ampliou as medidas de higiene e reforçou o uso de máscaras tanto entre funcionários como passageiros.

“Como medida de prevenção, as empresas estão autorizadas a usar cortinas em formato em ‘L’ nos postos dos motoristas para evitar o contágio pelo novo coronavírus. A SPTrans também sinalizou a distância de 1 metro entre os usuários nas plataformas para aguardar o embarque nos terminais. A equipe técnica da SPTrans acompanha o movimento dos passageiros e adequa a frota de ônibus para atender a demanda da população”, diz a nota.

A SPTrans contabilizou 189 autuações às empresas operadoras pelo descumprimento à determinação do uso de máscaras de proteção no transporte público municipal entre os dias 5 de maio e 22 de julho.

“A limpeza dos ônibus municipais em terminais passou a ser feita com a utilização de um equipamento Atomizador Elétrico Portátil para evitar a contaminação pelo novo coronavírus. Com o novo sistema, a higienização no interior dos ônibus nos terminais onde o equipamento está disponível é realizada em apenas dois minutos, sendo feita toda vez que o veículo chega aos terminais urbanos após o desembarque dos passageiros, reduzindo o tempo comparado com a limpeza manual, que continua a ser realizada constantemente nos demais terminais”, diz o texto.

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