Idosos em Natal estão utilizando mais o transporte público, aponta Seturn

Por Tribuna do Norte
Foto: Magnus Nascimento (Tribuna do Norte)

A porcentagem de pessoas que utilizam o transporte público em Natal atingiu os nível mais alto desde o início do isolamento social, em março. De acordo com o Sindicato das Empresas do Transportes Urbanos de Natal (Seturn), enquanto a inutilização do sistema atingia 79% da população no começo da validade  dos decretos de isolamento social, atualmente, os números não ultrapassam a casa dos 68%. Os dados mostram que um a cada três idosos está se deslocando em Natal de ônibus, inclusive em horários de pico, aumentando as chances de infecção pelo novo coronavírus e desenvolvimento do quadro grave da Covid-19.

O professor do departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Rubens Ramos, responsável pelo levantamento junto ao Seturn e que estuda mobilidade urbana, diz que os índices preocupam e mostra que o isolamento está cada vez menor entre as classes sociais que dependem do transporte público para se locomover, quebrando a tendência de semanas atrás.

“Os dados do transporte público sugerem que não apenas as classes A/B ficaram em casa, mas também as camadas populares, com índice geral de 70%, algo que, por exemplo, São Paulo tenta fazer e não consegue. Esse é um dos elementos a contribuir para a baixa mortalidade por Covid-19 em Natal, ainda. Não podemos perder isso”, analisou o professor.

Entre as três demandas distintas recebidas nos ônibus que circulam em Natal (estudantes que pagam meia-passagem, idosos que possuem gratuidade e trabalhadores com vale-transporte), aquela que apresentou queda mais acentuada e, consequentemente, maior manutenção do isolamento social, foi a dos estudantes. Os dados apontam que 14% continuam utilizando o transporte público, o que implica em uma taxa de manutenção de isolamento de 86%.

Os números relativos aos idosos, no entanto, grupo de risco para desenvolver um caso grave de Covid-19, são maiores. Cerca de 32% continua utilizando o ônibus para circular diariamente, o que equivale a uma média de 4,4 mil pessoas por dia. No início da quarentena, entre o dias 23 e 30 de março, o número variava entre 20% e 27%.

“No início (do isolamento social), cerca de 20% dos idosos continuaram a se mover, ou seja, não ficando em isolamento social. Com o passar do tempo passou para 25% e na semana passada chegou a 32%. Ou seja, 1 em cada 3 idosos usuários de ônibus estão se deslocando em Natal, colocando em risco a si mesmos e aos outros, incluindo suas famílias e amigos”, declarou o professor Rubens Ramos.

Dentre as pessoas que continuam utilizando o transporte coletivo para se deslocar para o trabalho ou fins econômicos, os 70% ideais de isolamento só foram atingidos na semana após o primeiro decreto estadual, na segunda quinzena de março. Desde então, o número caiu e não atinge 60%. “Esse dado não é bom e remete para o aumento de contágio nesse grupo, e deles para outras pessoas da sociedade que estão em casa”, destacou o professor da UFRN. No total, diariamente, cerca de 46 mil natalenses continuam utilizando o transporte público.

Medidas de restrição: O professor defende que a Prefeitura do Natal adote medidas que restrinjam a possibilidade de gratuidade, a fim de tentar garantir o aumento do isolamento social entre os idosos, considerando que já não há mais vagas disponíveis em leitos da rede estadual para casos de Covid-19 na capital. “É um erro grave a Prefeitura manter essa situação, o que gera quase um estímulo aos idosos a saírem de casa. Se tivermos uma evolução de contágio no lado SUS, serão esses os primeiros a morrer, muito provavelmente, e a serem agentes de infecção dentro de casa”, analisou Rubens Ramos.

O presidente do Seturn, Nilson Queiroga, relatou à Tribuna do Norte que três ofícios já foram enviados à Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (STTU), pedindo restrições nos horários de gratuidades e meias-passagens para evitar que esses públicos circulassem no transporte público durante os horários de pico.

“A nossa proposta era que a validade ficasse restrita das 9h às 16h, quando o transporte está funcionando praticamente vazio e reduziria o risco dessas pessoas de ficarem próximas às demais”, explicou Nilson Queiroga. A STTU, no entanto, não deu nenhuma reposta formal aos pedidos.

A Tribuna do Norte entrou em contato através da assessoria de comunicação, questionando se esses aspectos estavam em discussão na pasta e se há planos para adotá-los na cidade. Até o fechamento dessa edição impressa, no entanto, não obteve resposta da STTU.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.