Do Diário do Transporte
Foto: Felipe Pessoa de Albuquerque/Ônibus Brasil – Ilustração
Após entrevistar 60 gestores de empresas de transporte rodoviário regular de passageiros por ônibus, o aplicativo de caronas BlaBlaCar conseguiu um registro do baque causado no setor pelas medidas de isolamento social decorrentes do enfrentamento à pandemia de Covid-19.
Os números, adiantados em primeira mão para o Diário do Transporte, apontam que quase 70% das empresas entrevistadas acusaram queda de pelo menos 75% no número de passageiros.
A BlaBlaCar realizou esta pesquisa de opinião exploratória com coleta de dados entre os dias 13 e 16 de abril de 2020. O perfil é representativo: 60% das empresas possui frota entre 100 a 500 ônibus. Metade das empresas são da região Sudeste, e 48% do universo das empresas é composto por associados da ABRATI – Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros.
Em conversa com o Diário do Transporte nesta quarta-feira, 29 de abril de 2020, Ricardo Leite, diretor da BlaBlaCar no Brasil, e Igor Soares, gerente da Unidade de Ônibus, foram unânimes em apostar numa recuperação do setor no pós-pandemia, assentada em dois pilares essenciais: tecnologia e multimodalidade.
Isso porque mais de 46% dos gestores, segundo a pesquisa, se dizem mais confiantes que irão navegar a crise melhor que os concorrentes – o que pode trazer oportunidades, concluem.
Se as grandes empresas têm mais carne para cortar, por outro lado têm menos agilidade para mudanças e adequações rápidas. Mas as pequenas, se não conseguem sobreviver por muito tempo na crise, têm, por outro lado, possibilidades de se reinventarem com maior rapidez, o que antes era impensável (aspas sobre acesso à tecnologia).
“O que vemos como uma forte positividade nos resultados da pesquisa foi a utilização dos canais digitais, o que representa não apenas uma redução de custos, como também uma forma de trazer receita durante a fase de retomada”, diz Igor Soares. No duro equilíbrio entre despesas e receitas, 84% dos gestores ouvidos aposta na diversificação dos canais online, o que inclui vendas pela internet.
Esse fator está presente em outro item da pesquisa, que aponta que a grande maioria dos gestores acredita que as vendas online, ao lado da higienização dos veículos, aumentarão. Na verdade, esclarece Ricardo Leite, “a grande preocupação das empresas neste período de recuperação será acompanhar o cliente de muito perto para estimulá-lo a voltar a viajar, não apenas descrevendo medidas complementares de segurança sanitária, como lhe oferecendo facilidades na compra da passagem por meio digital”.
Ricardo aponta um dado da pesquisa que reforça a preocupação dos gestores: 39% dos respondentes comentaram que irão aumentar a prática de embarque e desembarque fora das rodoviárias. “Este é um esforço em diminuir a distância da casa do cliente ao ônibus”, afirma o diretor, o que pode ser complementado com outras ações como as caronas, oferecidas pelo aplicativo BlaBlaCar.
Atualmente a empresa conhecida mundialmente pelo serviço de aplicativo de carona, oferece a opção também para a compra de passagens de ônibus rodoviários no Brasil. Inicialmente, a parceria com as empresas de ônibus consiste em ser mais um canal de venda de passagens, mas futuramente, outros serviços podem ser incluídos, o que é uma demanda das próprias viações, segundo Ricardo Leite. Ou seja, a multimodalidade pode ser um gancho negocial importante: mais do que a viagem de um ponto A para o ponto B, o cliente poderá passar a ter a seu dispor uma solução mais integrada de mobilidade, que começa desde o momento em que seleciona o canal de compra mais adequado, passando por formas que simplifiquem seu acesso ao ônibus e garantam sua chegada segura ao endereço final.
Outra medida já em andamento por algumas empresas de transporte, que seguramente será acelerada na retomada do setor após a pandemia será o fortalecimento de parcerias, como o que envolve, por exemplo, programas de fidelidade.
Como formas de mitigar os efeitos da crise, as empresas realizaram várias ações – 86% reduziram a oferta; 75% adotaram a higienização dos veículos; 66% optaram por não cobrar taxas de remarcação; 68% reduziram jornadas de trabalho e 91% adiaram pagamentos a fornecedores.
Ainda como principal maneira para reduzir custos, metade dos gestores informou que irá focar em operações, excluindo rotas e enxugando frota. Por outro lado, 39% planejam parcerias ou fusões, o que pode significar um enxugamento do mercado em busca de maior eficiência.
Metade dos gestores ouvidos pela BlaBlaCar estão otimistas com o cenário pós-pandemia, acreditando que os volumes voltarão aos níveis pré-crise em até 6 meses. A outra metade, no entanto, não é tão otimista assim, e não demonstra a mesma confiança. Dentre esses estão 4% de pessimistas, que não acreditam que a demanda alcance o mesmo nível novamente.
Como se tem visto já em várias oportunidades, os gestores esperam apoio das Associações de Classe durante a crise, principalmente junto aos reguladores e governo. Como tem mostrado o Diário do Transporte, entidades como a ABRATI têm buscado a defesa dos interesses das empresas de transporte rodoviário nesta época de crise. A Associação defende ser necessário um socorro governamental ao setor de transportes interestaduais, e que em torno de 30 mil empregos “estão em risco”. O prejuízo das empresas, ainda de acordo com a associação, é de quase R$ 3 bilhões.
No Brasil, a BlaBlaCar não tem a intenção de operar diretamente ônibus, a exemplo do que ocorre em parte da Europa.
A empresa surgiu em 2006 na França e atualmente está 22 países, tendo um total de 90 milhões de pessoas cadastradas. No Brasil, a empesa atua desde 2015 e acumula cinco milhões de cadastros.
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