dsc2553 AB

Ataques a ônibus se intensificam e trazem prejuízos milionários ao transporte coletivo no Brasil

Do PORTAL UNIBUS
Foto: Tomaz Silva (Agência Brasil)

De arranhões e vidros quebrados a incêndios e barricadas, os atos de depredação contra ônibus seguem sendo uma das maiores preocupações do setor de transporte coletivo no Brasil. As ocorrências expõem tensões sociais, fragilidade da segurança pública e geram prejuízos que ultrapassam milhões de reais — impactando diretamente passageiros que dependem do serviço.

O diretor executivo da NTU, Francisco Christovam, afirmou à Revista “NTUrbano” que o maior prejuízo de um ônibus vandalizado é a impossibilidade de colocá-lo novamente em operação no dia seguinte. “Isso gera um ciclo de perdas que agrava a precarização do transporte, retroalimentando a insatisfação popular e aumentando o risco de novos protestos, mais uma vez tendo o veículo como alvo”, disse.

Para ele, trata-se de um problema que vai além do setor de mobilidade. “Esse problema nunca é, de fato, um problema de transporte, mas um problema de polícia”, afirmou. Ele relembra uma campanha lançada em 2014, com o apoio da NTU, intitulada “Ônibus queimado não leva a lugar nenhum”, criada após uma série de ataques em São Paulo que, apenas no primeiro trimestre daquele ano, destruiu mais de 50 veículos.

Casos recentes em São Paulo
Entre os dias 12 de junho e 2 de julho deste ano, 280 ônibus foram alvo de depredações na Grande São Paulo, sendo 235 apenas na capital, segundo a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana e a SPTrans. Nos meses seguintes, o número aumentou, ultrapassando 1.200 coletivos danificados, conforme a Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado de São Paulo (Fetpesp).

“Depredações sempre existiram, seja por atraso do veículo, conflito com motorista ou represália a ações policiais. Infelizmente, é algo recorrente há décadas, mas essa onda mais intensa esperamos que tenha ficado para trás”, afirmou o presidente da Fetpesp, Mauro Herszkowicz, à Revista “NTUrbano”.

Os episódios deixaram vítimas e ampliaram a sensação de insegurança. No dia 27 de julho, uma passageira ficou ferida após pedradas atingirem um coletivo na Avenida Washington Luís. Já em 14 de agosto, manifestantes incendiaram um ônibus com passageiros dentro, na Zona Sul da capital.

Entre os investigados pelos crimes está um funcionário público, Edson Aparecido Campolongo, que confessou ter atacado ao menos 17 ônibus em São Paulo e cidades vizinhas. Ele alegou que os atos eram uma forma de protesto contra o governo federal.

Segundo a Prefeitura de São Paulo, a média de registros diários de vandalismo caiu de 12,9 em julho para 3,6 em agosto, voltando ao patamar considerado “regular”. Já a Secretaria de Segurança Pública informou que mais de 20 pessoas foram presas e que as investigações seguem em andamento pelo Deic.

Barricadas no Rio de Janeiro
No estado do Rio de Janeiro, os ataques estão ligados principalmente à disputa de territórios entre facções criminosas. Segundo o diretor de Comunicação e Relações Institucionais do Rio Ônibus, Paulo Valente, os atos são divididos em três tipos: vandalismo cotidiano, violência em períodos de praia e ataques com uso de coletivos em barricadas.

Entre janeiro e agosto deste ano, foram registrados quatro ônibus incendiados, 1.450 vandalizados, 435 linhas desviadas e 108 veículos usados em barricadas — totalizando prejuízo de R$ 17,3 milhões. Em 2024, o valor chegou a R$ 30,5 milhões.

“Nos últimos anos temos notado redução no número de ônibus incendiados, mas aumento de veículos usados em barricadas”, disse Valente. Ele afirmou que os bloqueios chegam a paralisar linhas inteiras por horas e destacou a falta de autonomia das empresas para lidar com a segurança.

À Revista “NTUrbano”, a Secretaria de Segurança Pública do Rio informou que tem mantido reuniões com o Rio Ônibus para definir estratégias de proteção a rodoviários e passageiros, além de criar um grupo de trabalho sobre o tema.

Incêndios no Espírito Santo
No Espírito Santo, o Sindicato das Empresas de Transporte Metropolitano da Grande Vitória (GVBus) contabilizou 100 ônibus incendiados entre 2004 e 2025, com prejuízo estimado em R$ 80 milhões. Apenas em 2025, sete veículos foram destruídos por fogo e 13 sofreram depredações em uma única semana de agosto.

“O impacto desses ataques atinge toda a sociedade. Um ônibus novo leva meses para ser fabricado, e a reposição demora”, destacou o GVBus em nota à Revista “NTUrbano”. O sindicato reforçou que toda a frota do Sistema Transcol é equipada com câmeras de videomonitoramento e que as imagens são compartilhadas com a polícia para investigações.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.